Em um gesto que simboliza a tentativa do governo de reaproximação com o Congresso Nacional, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, recebeu o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do PL na Câmara e um dos nomes mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro, em sua casa em Brasília. O encontro, reservado e fora da agenda oficial, ocorreu em clima amistoso e sinaliza uma guinada na estratégia de articulação política do Palácio do Planalto.
Sóstenes diz que Gleisi se comprometeu a liberar emendas parlamentares do PL represadasMarina Ramos/Agência Câmara e Marcelo Camargo/Agência Brasil
Sóstenes, convidado inicialmente a comparecer ao Planalto recusou o convite por temer a repercussão negativa de uma visita pública à sede do governo. O parlamentar, entretanto, aceitou a proposta de um diálogo informal na residência da ministra, o que garantiu discrição e afastou os holofotes da conversa.
Desde que assumiu a Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi tem buscado uma atuação mais ampla e pragmática, tentando romper a imagem de defensora exclusiva da esquerda. Parte dessa missão inclui estabelecer pontes com legendas tradicionalmente adversárias, como o PL, de Bolsonaro.
Segundo o deputado, o encontro foi marcado por cordialidade e “Gleisi se colocou à disposição”. Em entrevista ao jornal O Globo, o líder do PL afirmou que dará “o benefício da dúvida” à ministra, mas advertiu que “esse prazo não durará muitos meses”.
Durante a conversa, Sóstenes cobrou o pagamento de emendas impositivas da bancada do PL, que estariam pendentes desde 2023. De acordo com relatos do parlamentar e de aliados da ministra, Gleisi se comprometeu a iniciar os repasses, que agora estão sob monitoramento da liderança do partido.
Apesar do alinhamento com a oposição, Sóstenes mantém uma relação pessoal com o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), namorado de Gleisi e também presente no encontro. Ambos foram “caras pintadas” na campanha pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992. Sóstenes presidia a União Estudantil de Ituiutaba, no Triângulo Mineiro, enquanto Lindbergh era o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Segundo Sóstenes, no encontro com Gleisi, não foi discutido o projeto de anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. O líder do PL conseguiu recentemente apoio necessário para acelerar a votação da proposta.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que não pretende pautar o projeto. Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), busca a elaboração de uma proposta alternativa, que reduza a pena dos participantes dos atos antidemocráticos e aumente a punição para os mentores e financiadores.