Congresso em Foco

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Durante reunião com o presidente Lula no Palácio do Planalto nesta sexta (2), o ministro da Previdência, Carlos Lupi, pediu sua demissão da pasta. O pedetista enfrenta desgaste diante da revelação de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), descoberta pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU) na segunda quinzena de abril.

As fraudes consistiam na inclusão de mensalidades associativas e serviços fictícios nos contracheques dos segurados. Esses valores eram repassados a entidades conveniadas por meio de Acordos de Cooperação Técnica (ACTs), firmados com o próprio INSS. A CGU apurou que a maioria dessas entidades não possuía estrutura operacional para prestar os serviços que alegavam oferecer. O prejuízo estimado foi de R$ 6,3 bilhões, e o governo ainda estuda formas de ressarcir as vítimas.

Confiança de Lula em Carlos Lupi ficou comprometida após escândalo no INSS.

Confiança de Lula em Carlos Lupi ficou comprometida após escândalo no INSS. Lula Marques/Agência Brasil

Embora não haja indícios de envolvimento direto do ministro nas irregularidades, o Planalto considerou que Lupi agiu com lentidão diante dos alertas. Documentos do Conselho Nacional de Previdência Social mostram que o tema foi mencionado em junho de 2023, mas só entrou oficialmente na pauta em abril de 2024, quase dez meses depois. A CGU também informou ter enviado seis ofícios ao INSS cobrando providências, sem resposta.

A relação entre o presidente Lula e o ex-ministro estava comprometida desde a própria descoberta do esquema: Lupi assumiu publicamente a responsabilidade por ter indicado o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, afastado judicialmente em meio às investigações, e se opôs à sua demissão sem que pudesse se defender. A situação se agravou na quarta (30), quando Lula nomeou diretamente o atual presidente do instituto, Gilberto Waller Júnior.

No lugar de Lupi, assume o seu ex-secretário executivo, Wolney Queiroz. Ele foi líder da oposição na Câmara dos Deputados nos últimos meses do governo Bolsonaro, e pertence à ala do PDT simpática ao presidente Lula, e possui proximidade com os demais partidos do núcleo duro do governo.

Complicações no Congresso

Mesmo com a sangria sobre a imagem do governo, a decisão sobre manter ou não Carlos Lupi não foi simples: o ex-ministro é presidente licenciado do PDT, partido que, apesar de historicamente e ideologicamente próximo ao PT, disputa com o partido de Lula por espaço dentro do eleitorado de esquerda. Sem espaços no governo, a sigla também pode romper com a base no Congresso.

A bancada do PDT não é grande, mas conta com números suficientes para influenciar em resultados de votação: a sigla conta com 17 deputados e três senadores. O partido conta com uma ala interna contrária à permanência da aliança com o governo, liderada pelo ex-governador Ciro Gomes.



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