Elite do agro reforça pragmatismo e minimiza posições políticas

Elite do agro reforça pragmatismo e minimiza posições políticas


Dirigentes de associações dizem na Agrishow que prioridade do setor é tocar os negócios no campo e obter lucro; feira pretende atingir R$ 15 bilhões em intenções de venda na edição de 2025

A relação estreita do agronegócio com Jair Bolsonaro é bastante conhecida. Em 2022, durante a campanha presidencial, 33 dos 50 maiores doadores da tentativa frustrada de reeleição do então presidente foram nomes ligados ao setor. Na mesma disputa, a FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária), que representa interesses dos produtores rurais na Câmara dos Deputados, declarou apoio à permanência do político do PL no Palácio do Planalto.

Representantes da elite do agro presentes na Agrishow de 2025, porém, sustentam que opções políticas individuais não podem ser confundidas com o todo. “O agricultor está pensando no negócio dele: como preservar sua terra, como produzir melhor, como gastar menos e como fazer sobrar dinheiro. Pode ter aí os mais arraigados [com Bolsonaro], mas não é a maioria”, disse ao Poder360 João Marchesan, empresário de máquinas agrícolas e presidente da feira de tecnologia do campo, cuja 30ª edição começou na 2ª feira (28.abr.2025) e vai até 6ª feira (02.mai) em Ribeirão Preto, interior paulista.

Agropecuarista das regiões de Rondonópolis e Sapezal, no Mato Grosso, Hugo de Carvalho Ribeiro, doou R$ 1,2 milhão para Bolsonaro em 2022.  Oscar Luiz Cervi, empresário rural com atuação em Coxim, no Mato Grosso do Sul, doou R$ 1 milhão. Mas o agronegócio não apareceu apenas nos registros oficiais das eleições que acabaram vencidas por Lula. Na página 145 da denúncia que acusa Bolsonaro e outras 33 pessoas de tentar dar um golpe para permanecer no poder, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, afirma que o tenente-coronel Mauro Cid disse em sua delação premiada que o setor ajudou a financiar a investida.

Na Agrishow, tocar no tema causa desconforto, mas a questão é encarada pelos dirigentes do setor. “Eu estou numa região que é muito produtora e já foi fronteira agrícola. Eu cheguei lá há 45 anos. Participo de vários grupos. Nunca fui convidado por nenhum grupo para apoiar A, B ou C. Então não sei se isso existe [financiamento de uma tentativa de golpe]”, disse ao Poder 360 Gino Paulucci Junior, produtor rural em Rondonópolis e presidente do conselho de administração da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

Paulucci Junior lembrou que o ministro da Agricultura e Pecuária do governo Lula é Carlos Fávaro, produtor rural e senador eleito pelo PSD do Mato Grosso. “O agro é uma coisa etérea. Cada um pode ter sua opinião pessoal. Mas o agro não é um ser, não é um ente que possa ir para um lado ou para o outro. Dentro do agro tem as pessoas que podem seguir o direcionamento que quiserem”, disse o presidente do conselho de administração da Abimaq.

O pragmatismo é defendido por Paulucci Junior, que destaca a ação do governo Lula a favor do setor. “Você tem que ter uma pluralidade de tudo. A esquerda não tem nada para apresentar? Tem. Estão buscando mercados internacionais para os produtos do agro brasileiro, está havendo um esforço necessário, inclusive, que começou muito antes do tarifaço de Donald Trump [presidente dos Estados Unidos], mas até por conta do tarifaço virou uma coisa fundamental e estão fazendo”, afirmou.

Para o presidente da Agrishow, o agronegócio “segue um caminho totalmente independente de ideologia”. Marchesan admite a ligação estreita de parte dos produtores rurais com o bolsonarismo. “Pode ser que tenham alguns mais exaltados nesse sentido”, disse. “O Bolsonaro não fez nada de diferente no governo dele para o agronegócio. É que ele tem uma visão e tem muita gente que apoia essa visão, mas o agro não é isso aí.”

Os políticos de oposição a Lula são maioria na Agrishow, dos congressistas aos governadores que passaram pela feira. Deputados da FPA e expoentes do bolsonarismo, como Carla Zambelli (PL-SP) circularam pelos estandes. Governadores como Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, Ratinho Jr. (PSD), do Paraná, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, também marcaram presença. Todos eles são considerados potenciais candidatos ao Palácio do Planalto em 2026.

Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente, representou o governo na feira. Fávaro, ministro da Agricultura, alegou problemas de agenda e não compareceu. O governador Helder Barbalho (MDB), do Pará, aliado de Lula, também visitou o centro de exposições de Ribeirão. Ele usou o evento para falar da relação do agro com a COP30, cúpula do clima das Nações Unidas que acontece em novembro em Belém.

Marchesan diz que convidou todo mundo, mas vai “quem quer”. Segundo o presidente da Agrishow, a prioridade não é fazer o cálculo do número de políticos de direita ou de esquerda pelas ruas da feira. O número que interessa é outro: aumentar o volume de negócios dos 800 expositores nacionais e internacionais dos R$ 13,8 bilhões em intenção de vendas registrados em 2024 para R$ 15 bilhões nesta edição de 2025.





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