Congresso em Foco

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Fernando Collor de Mello, primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura militar, foi preso na madrugada desta sexta-feira (25), mais de 30 anos após seu impeachment. A ordem veio do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e reabriu as páginas de um dos capítulos mais marcantes da política brasileira: a queda de um presidente cercado por escândalos de corrupção e abandonado por seus aliados.

Collor em dois momentos: em 1989, quando se elegeu presidente, e em registro recente

Collor em dois momentos: em 1989, quando se elegeu presidente, e em registro recenteVidal Cavalcante/Folhapres | Kleyton Amorim/UOL/Folhapress

O que mais chama atenção, no entanto, é que muitos dos nomes que cercavam Collor aliados, rivais ou simples testemunhas da história ainda estão por aí, atuando ativamente na política ou no Judiciário. O tempo passou, mas a cena política brasileira parece girar em looping, com personagens que resistem às décadas.

Entenda por que Collor foi preso

Lula, de rival a presidente

Lula, em 1989, quando perdeu para Collor; e em 2025, no terceiro mandato presidencial

Lula, em 1989, quando perdeu para Collor; e em 2025, no terceiro mandato presidencialVidal Cavalcante/Folhapress | Ricardo Stuckert/PR

Em 1989, Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou Collor no segundo turno da primeira eleição direta do pós-ditadura. Derrotado por uma diferença de seis pontos percentuais, Lula se tornaria presidente anos depois e hoje governa o país pela terceira vez, justamente no momento em que seu antigo adversário é preso.

Moraes, o jovem promotor

Alexandre de Moraes, o jovem promotor virou ministro do Supremo

Alexandre de Moraes, o jovem promotor virou ministro do SupremoAyrton Vignola/Folhapress | Antonio Augusto/STF

Em 1992, Alexandre de Moraes era um jovem promotor em São Paulo. Hoje, é um dos ministros mais influentes do STF e o responsável direto pela ordem de prisão de Collor. Moraes foi nomeado para o Supremo por Michel Temer, presidente que também chegou ao cargo por meio de um impeachment, o de Dilma Rousseff, em 2016. Durante o governo Collor, Temer ocupava os cargos de procurador-geral e secretário de Segurança Pública de São Paulo, no governo Luiz Antonio Fleury Filho.

Lindbergh, de cara-pintada a líder do PT

Lindbergh, o líder cara-pintada virou líder do PT na Câmara

Lindbergh, o líder cara-pintada virou líder do PT na CâmaraLuiz Carlos Murauskas/Folhapress | Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados

Nos protestos que marcaram o impeachment de Collor, um rosto se destacou: o do jovem presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Lindbergh Farias. Líder do movimento dos caras-pintadas, ele hoje é deputado federal e líder do PT na Câmara. Já foi prefeito de Nova Iguaçu (RJ) e senador da República. O movimento dos caras-pintadas levou multidões às ruas, pressionando o Congresso a cassar Collor. Curiosamente, Lindbergh e Collor chegaram a dividir o plenário do Senado, anos depois, como colegas de mandato.

Renan, de aliado a rival

Renan Calheiros participou ativamente da campanha de Collor, mas rompeu com ele ainda no início do governo

Renan Calheiros participou ativamente da campanha de Collor, mas rompeu com ele ainda no início do governoJefferson Rudy/Folhapress | Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

Renan Calheiros começou como aliado de Collor nos anos 1980, virou desafeto nos anos 1990 e hoje segue firme como senador por Alagoas, seu reduto político. Foi líder do governo Collor na Câmara e, mais de 30 anos depois, segue com influência nos bastidores. Atualmente, é aliado de Lula, adversário que derrotado por Collor em 1989 numa reviravolta típica da política brasileira.

Da tropa de choque à prisão

Roberto Jefferson foi um dos principais defensores de Collor no processo de impeachment

Roberto Jefferson foi um dos principais defensores de Collor no processo de impeachmentJuca Varella/Folhapress | Mateus Bonomi /Folhapress

Ex-deputado e aliado fiel de Collor durante o processo de impeachment, Roberto Jefferson está atualmente preso, condenado por incitação ao crime, homofobia e ataques às instituições democráticas. Em 2022, chegou a lançar granadas e atirar contra agentes da Polícia Federal durante o cumprimento de um mandado de prisão.

Caiado, pré-candidato a presidente

Caiado quer concorrer à Presidência de novo quase 40 anos depois da primeira disputa

Caiado quer concorrer à Presidência de novo quase 40 anos depois da primeira disputaSergio Tomisaki/Folhapress | Raul Luciano/Ato Press/Folhapress

Candidato à Presidência em 1989 e apoiador de Collor no segundo turno, Ronaldo Caiado hoje é governador de Goiás e pré-candidato presidente. Sua carreira decolou após aquela eleição. Ele se elegeu deputado federal em 1990, cumpriu quatro mandatos, foi senador e comanda o Executivo goiano desde 2019. Em 1992, no início de sua passagem pela Câmara, votou contra o impeachment de Collor.

De Alckmin a Bolsonaro

Alckmin, de deputado a vice-presidente da República

Alckmin, de deputado a vice-presidente da RepúblicaLuiz Carlos Murauskas/Folhapress | André Neiva/Vice-presidência da República

Duas figuras com grande destaque na atual política exerciam mandato na Câmara e votaram a favor do impeachment de Collor em 1992. Geraldo Alckmin, então deputado, hoje é vice-presidente da República. No PSDB à época, governou posteriormente São Paulo por quatro mandatos e atualmente está no PSB.

Bolsonaro estava no início do mandato de deputado quando votou pelo impeachment de Collor

Bolsonaro estava no início do mandato de deputado quando votou pelo impeachment de CollorAlan Marques/Folhapress | Andre Violatti/Ato Press/Folhapress

Jair Bolsonaro, também votou pela cassação de Collor. Em 1992, era apenas um deputado em início de carreira; em 2018, elegeu-se presidente da República. Hoje é o principal nome da oposição, embora esteja inelegível até 2030.

Outros congressistas que votaram a favor da cassação e permanecem em Brasília: Renildo Calheiros (PCdoB-PE), Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR) e os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Flávio Arns (PSB-PR) todos deputados em 1992.

CPI do PC, e PT

A CPI do PC Farias foi decisiva para a cassação de Collor. Três dos deputados petistas à época que se destacaram nas investigações continuam ativos na política: Eduardo Suplicy, hoje deputado estadual; Aloysio Mercadante, atual presidente do BNDES; e José Dirceu, que recentemente viu suas condenações na Justiça serem anuladas e prepara sua candidatura à Câmara em 2026.



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