Neguinho da Beija-Flor e Xande de Pilares estrelam juntos “Empretecendo”, homenagem ao grande intérprete da Sapucaí, que em 2025 passou o microfone para as gerações mais jovens e concluiu de forma brilhante sua trajetória de meio século à frente da sua escola.
A primeira produção assinada por Xande de Pilares e Luciano Broa, e álbum de estreia do selo Ednax / Gold Records, é também o primeiro trabalho de Neguinho fora da Beija-Flor.
“Empretecendo” chegou às plataformas digitais dia 18 de abril, com 19 faixas e 25 músicas, quatro delas inéditas. As gravações começaram no segundo semestre de 2024 e cruzaram a temporada carnavalesca.
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Xande de Pilares revela que criou o “Empretecendo” como um réquiem em vida a um de seus grandes ídolos e, inicialmente, seria apenas produtor.
“A ideia nasce pela importância de pessoas como o Neguinho na minha vida. Não só ele, mas Zeca, Mussum, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Nei Viana, Dominguinhos do Estácio, Aroldo Melodia, Pedrinho da Flor e Jamelão, entre outros”, lista.
Com a revelação de que seria o último ano do intérprete na Beija-Flor, e a consequente barafunda na agenda dele, o destino deu outro rumo ao projeto.
Xande funcionou como cantor das bases, e o resultado da parceria ficou espetacular. Os dois artistas, então, decidiram cantar juntos todas as músicas – e o álbum virou um dueto -. “Gravei um disco com meu ídolo Neguinho da Beija-Flor”, exalta o inventor da ideia.
E para fazer bonito, o homenageado também embarcou de cabeça no projeto, e dividiu as gravações com os shows e os ensaios da escola, que terminou campeã em seu último ano de intérprete (assim como foi na estreia, em 1976, o do “Sonhar com Rei Dá Leão”).
“Nem nos meus melhores sonhos imaginaria um presente desses, que me foi dado por meu compadre Xande de Pilares”, festeja Neguinho.
“A alegria dessa nova parceria está pelo disco todo. Muita felicidade! Mas é aquilo: quem sabe rezar não xinga Deus”, brinca o cantor.
Ferrugem, Zeca Pagodinho, Teresa Cristina, Pique Novo, Renato da Rocinha, Andrezinho do Molejo, Helinho do Salgueiro, Swing e Simpatia, Revelação e Vando Oliveira ampliam a paleta de estilos com participações em 10 das 19 composições – para mostrar, de novo, que a Música Preta é um potente caldeirão de diversidade.
As canções inéditas carregam significados essenciais aos protagonistas do álbum, oriundos de gerações diferentes da mesma dinastia de bambas.
Neguinho, 75 anos, e Xande, 55, firmam o ponto na cruzada antirracista em “Empretecer”, composição de Jonathan Fernandes Vieira, Rodrigo Cavanha, Wilsinho Paz, Serginho Sumaré, Théo Ribeiro, Léo Freire, Felipe Mussili e o próprio Neguinho, que concorreu na disputa da Beija-Flor para o Carnaval de 2022.
“Borracha Fraca”, composição dos artistas com Gilson Bernini, integra-se à campanha para debelar a violência de gênero e fazer uma denúncia que chegue aos ouvidos da comunidade, no tom característico das melhores rodas de samba cariocas.
“Samba, O Gosto da Minha Comida” apresenta nova parceira de Neguinho: a mulher dele, Elaine Reis, responsável, como ele mesmo destaca, “por ter minha vida organizada, segura e feliz”.
“Zé Bonitinho”, com Charles André e Neném Chama, reforça o quinhão de humor e picardia protocolar no samba. Descreve o amigo da roda, “que é comédia, quando bebe perde a rédea, gente boa sem noção, na primeira dose ativa o modo ‘pai tá on’”.
Estão lá ainda clássicos como “Negra Ângela” (Alexandre Rodrigues e Serginho Meriti), “Gamação Danada/ Bem Melhor que Você” (Neguinho e Almir Guineto), “Problema Social” (Guará e Fernandinho) e “Menino de Pé no Chão” (Helinho do Salgueiro e Jarbas de Souza), pérolas superpopulares que vivem no coração dos apaixonados por samba.
Para completar, a capa do álbum é uma criação do artista visual Marcelo Ment, especializado em realismo.
As fotos do projeto são de Walter Firmo, um dos grandes fotógrafos brasileiros vivos, que reuniu os dois cantores em Nova Iguaçu, na casa onde Neguinho cresceu.