União dos Movimentos de Moradia de São Paulo criticou as alternativas apresentadas pelo governo estadual para retirada das famílias da comunidade por não atenderem às necessidades dos moradores

O governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura da capital anunciaram nesta quinta-feira (24), que irão negociar uma compensação para os 38 comerciantes que têm suas atividades profissionais localizadas dentro da Favela do Moinho, nos Campos Elíseos, a última comunidade ainda de pé no centro de São Paulo. A Prefeitura diz que houve adesão voluntária de 86% dos moradores da comunidade ao plano de retirada do local, considerado área de risco, mas admite enfrentar dificuldades em relação àqueles que têm seus comércios na favela (a maioria também mora no local).
O governo e a Prefeitura não especificaram, porém, de que forma será feita essa compensação. A ideia inicial é que os comerciantes tenham condições para montar seus negócios em outros locais, diz Marcelo Branco, secretário de Estado de Desenvolvimento Urbano e Habitação. A gestão Tarcísio de Freitas criará um grupo de trabalho para se reunir com os comerciantes e negociar essas condições. “Iniciam-se a partir de amanhã as negociações individuais para receber esses comerciantes”, disse Felício Ramuth, governador em exercício – Tarcísio está em viagem na Europa.
A comunidade está localizada entre linhas de trens, em uma área murada, com apenas uma entrada e baixa possibilidade de escoamento. Fica sob o viaduto que interliga as avenidas Rudge e Rio Branco, perto da Estação Júlio Prestes. Na última década, foram registrados dois incêndios de grandes proporções que deixaram mortos e centenas de desabrigados. Tais características inviabilizaram ao longo dos anos as diversas promessas de regularização da área feitas por gestores públicos.
Investigações também apontam que a comunidade é usada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) como uma “fortaleza” para tráfico de droga no centro da cidade. Segundo o Ministério Público do Estado, criminosos utilizam o espaço para vigiar ações da polícia. A comunidade também é tida como refúgio de bandidos e esconderijo de drogas e armas, além de abrigar a sede do “tribunal do crime” da região.
Nesta terça-feira (22), as primeiras famílias deixaram a favela e foram para apartamentos provisórios, enquanto aguardam a entrega de um lar definitivo. A Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) afirma que está oferecendo alternativas variadas de moradia, com oferta de auxílio-moradia enquanto os imóveis não ficam prontos.
Alguns moradores da comunidade, porém, dizem que as propostas têm sido insuficientes, sobretudo para famílias que querem ficar no centro – há gerações que cresceram na Favela do Moinho e hoje trabalham por ali. Afirmam ainda que a presença de PMs tem os pressionado.
Nesta quinta, a União dos Movimentos de Moradia de São Paulo criticou as alternativas apresentadas pelo governo estadual para retirada das famílias da Favela do Moinho, por não atenderem às necessidades dos moradores. Em comunicado, o governo diz que a comunidade é formada por 821 famílias e que sua retirada do local consiste em “uma ação para levar dignidade e segurança a essa população, que vive sob risco elevado e em condições insalubres”.
Protestos
Os moradores do Moinho têm realizado uma série de protestos contra a demolições de casas na comunidade. No dia 18 de abril, houve um protesto contra a presença de agentes da Polícia Militar no local, que interrompeu temporariamente a circulação de trens entre as estações Júlio Prestes e Palmeiras-Barra Funda, na Linha 8-Diamante. Segundo os moradores, agentes teriam chegado ao local lançando gás de efeito moral contra a população.
*Com informações do Estadão Conteúdo
Publicado por Nátaly Tenório