Tarifas vão “bagunçar” trabalho do Fed, diz Galípolo

Tarifas vão “bagunçar” trabalho do Fed, diz Galípolo


Presidente do BC afirmou que trabalho de Jerome Powell nos EUA permitiu uma “aterrissagem suave” da inflação

O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, disse nesta 3ª feira (22.abr.2025) que o tarifaço implementado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), vai “bagunçar” o trabalho do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).  Segundo ele, a autoridade monetária norte-americana estava conseguindo implementar uma “aterrissagem suave” ao entregar à sociedade inflação em queda e atividade econômica aquecida.

Galípolo participa de audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal. Segundo a pauta do dia, foi um comparecimento regular para tratar de política monetária e assuntos do Banco Central.

Assista:

O presidente do Fed, Jerome Powell, tem sido criticado por Trump pelas taxas de juros dos EUA. Galípolo elogiou o trabalho da autoridade monetária norte-americana, que passou por duas crises de choque de oferta, a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia.

“[Powell] Estava conseguindo entregar algo que é raro de a gente ver na prática, que é uma aterrissagem suave. Ele tem o duplo mandato e estava entregando uma inflação que vinha convergindo gradativamente para a meta com uma economia aquecida em pleno emprego e com a exuberância que via em todos os mercados, tanto de dívida quanto de ações”, disse.

Segundo Galípolo, ainda há dúvidas sobre o efeito das pressões inflacionárias e de atividade econômica. As duas possibilidades são:

  • Cenário de desaceleração mais forte que provoca desinflação e exporta desinflação para o mundo todo;
  • cenário de desaceleração mais acentuada que provoca uma aversão a risco e corrida para ativos mais seguros.

“O Powell tem reiterado que o mandato [de integrante do Fed] é de estabilidade monetária e eles têm esse comprometimento com a perseguição da estabilidade monetária”, declarou Galípolo.

CENÁRIO INTERNACIONAL

Segundo Galípolo, o cenário internacional tem sido o “vetor principal” na dinâmica dos preços de mercado. Ele disse que a percepção dos agentes financeiros sobre o governo Donald Trump (republicano) pode ser dividida em 3 fases:

  • 1ª fase: havia uma interpretação “mais benigna” no último trimestre de 2024, com perspectivas de uma gestão pró-mercado financeiro, com medidas de menos impostos e regulamentação mais flexível. As tarifas de Trump seriam graduais;
  • 2ª fase: no 1º trimestre de 2025, entrou na balança de risco dos investidores a possibilidade de o impacto tarifário produzir desaceleração da economia e ampliou incertezas;
  • 3ª fase: os agentes financeiros colocaram no radar que a escalada na disputa comercial pode ter uma desaceleração “mais abrupta” da economia global. Como os EUA é o epicentro da crise, e o dólar pode ser impactado, há dúvidas dos investidores de “onde se deve procurar proteção”, segundo Galípolo.

POLÍTICA MONETÁRIA

Medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial do Brasil foi de 5,48% no acumulado de 12 meses até março. Está 2,48 pontos percentuais acima do centro da meta, que é de 3%. O teto é de 4,5%.

O Banco Central disse em fevereiro que vai descumprir a meta de inflação em junho, mês que completará uma taxa acima de 4,5% por 6 meses. Segundo projeções dos agentes financeiros no Boletim Focus, a inflação será de 5,57% em dezembro.

A autoridade monetária afirmou em 25 de março que a desaceleração da economia é elemento necessário” para controlar a inflação. Aumentou a taxa básica, a Selic, para 14,25% ao ano em março, o mesmo patamar do fim do governo Dilma Rousseff (PT).

O Banco Central sinalizou uma nova alta da Selic, podendo ser de 0,25 ponto percentual, de 0,50 ponto percentual ou de 0,75 ponto percentual. Em 27 de março, Galípolo declarou que o BC deixou a porta aberta para um “grau de liberdade” para definir a intensidade do reajuste.

A mediana das estimativas dos agentes financeiros indica uma taxa Selic de 14,75% na próxima reunião, de 6 e 7 de maio, e de 15% no encontro seguinte, de 17 e 18 de junho. Caso a Selic suba para 15%, será o maior patamar desde 2006.

COPOM DE LULA

Em 2025, o Copom (Comitê de Política Monetária) passou a ter maioria dos integrantes nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na formação atual, há 2 indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O colegiado é formado por 9 pessoas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), atribuiu em 20 de março a alta da taxa Selic em 2025 ao ex-presidente do BC Roberto Campos Neto, que foi indicado por Bolsonaro. Galípolo disse, em 27 de março, que foi protagonista na decisão de alta da Selic, contrariando o ministro.

AUTONOMIA DO BC

Um grupo de 6 pessoas esteve presente na audiência pública com críticas à PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 65 de 2023, que amplia a autonomia do Banco Central do Poder Executivo. Os integrantes usaram camisa e adesivos de protesto com a seguinte mensagem: “Por um Banco Central para o povo. Não para o rentismo”.





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