A comoção que tomou conta do mundo neste 21 de abril revela o quanto Francisco foi amado; líderes globais, religiosos de diferentes tradições e milhões de fiéis manifestam pesar pela sua partida

Muitos vão falar da morte do Papa Francisco. Alguns relatarão a doença que o acometeu nos últimos tempos, outros destacarão suas realizações à frente do Vaticano. Não faltará quem analise sua posição ideológica, que, segundo dizem, foi marcadamente progressista. Enfim, as páginas dos jornais, as matérias das revistas, as notícias das emissoras de rádio, televisão e dos portais da internet serão dedicadas ao Sumo Pontífice.
Vou pegar outros ventos. Quero falar da sua simpatia, do seu carisma e da extraordinária capacidade de comunicação. Foi isso que mais impressionou durante sua visita ao Brasil em julho de 2013. Fiquei atento aos seus passos em terras brasileiras. Analisei com interesse a facilidade com que se comunicava com o povo.

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Amor à primeira vista
Foi amor à primeira vista. Assim que pôs os pés em território tupiniquim, encantou no seu discurso de aproximação com a nossa gente: “Para ter acesso ao povo brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que, nesta hora, eu possa bater delicadamente nesta porta.” Pronto. Com essa singela mensagem, havia conquistado o público que o acompanhava.
E mais, nem precisou de palavras para entrar no coração daqueles que acorriam para reverenciá-lo. Caiu nos braços do povo sem mesmo abrir a boca para falar, seduziu apenas com o sorriso e a simpatia natural presentes em suas atitudes. As pessoas viam, em cada gesto, em cada movimento, em cada olhar, o exemplo eloquente de um homem simples, humilde e generoso.
O sorriso como argumento
Já dizia o Padre Vasconcelos, um dos maiores oradores que conheci: “Quando o orador abre um sorriso sincero, verdadeiro, autêntico, ele não abre apenas o sorriso, abre também um campo magnético que envolve a todos. E nós, ouvintes, conquistados por essa simpatia, às vezes chegamos a aceitar sua mensagem antes mesmo de conhecer seus argumentos.”
Ou não é assim que resolvemos com mais facilidade os problemas que nos envolvem? Quantas desavenças e rancores poderiam ser superados não pela excelência da argumentação, mas sim pelo semblante simpático, disponível e acolhedor? Fiquei surpreso na época. Não imaginava que veríamos outro papa tão cativante quanto João Paulo II. E ali estava uma repetição daquela comunicação encantadora.
A falta de segurança ajudou
Até os contratempos, imperdoáveis, provocados pela falta de segurança ao passar pelas ruas do Rio de Janeiro acabaram sendo benéficos. Dando até a impressão de que o improviso fora programado, sem demonstrar nenhuma contrariedade, ele beijou carinhosamente as crianças e, como se estivesse protegido pelo Altíssimo, tocou sem reservas as pessoas que se aproximavam do desprotegido carro que o conduzia.
Previ que a permanência do Papa Francisco no Brasil seria lembrada com alegria e saudade. E assim aconteceu, ao longo desses 12 anos desde sua visita. Sua simpatia foi, a cada instante, em meio a um mundo conturbado e dominado por afrontas ideológicas, um porto seguro de esperança de que dias melhores poderiam surgir.
Ajudou muito
Talvez não tenhamos tido tantas oportunidades de extravasar momentos de alegria. Mas, com a ajuda de suas palavras, enfrentamos os dissabores de forma mais leve, suavizando as agruras que nos cercaram. Sim, porque mesmo ele, com toda a alegria e bom humor que o caracterizaram, com certeza teve de enfrentar, dia após dia, desafios que pareceram até intransponíveis.
A comoção que tomou conta do mundo neste 21 de abril revela o quanto Francisco foi amado. Líderes globais, religiosos de diferentes tradições e milhões de fiéis manifestam pesar pela sua partida. Mas talvez o maior tributo esteja na memória afetiva de cada pessoa tocada por seu olhar gentil e por suas palavras que, tantas vezes, aqueceram a alma.
O Papa se foi, mas sua presença permanecerá, impressa no coração de um mundo que, por instantes, acreditou mais no bem. Quem sou eu para dizer isto? Mas ousarei: que Deus o acompanhe! Siga pelo Instagram: @polito
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.