Congresso em Foco

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Em 21 de abril, o Palácio do Congresso Nacional celebra 65 anos de existência. A data coincide com o aniversário de Brasília e simboliza a transferência do Poder Legislativo do Rio de Janeiro para a nova capital. Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o edifício é um dos principais monumentos da cidade e o preferido do arquiteto.

Palácio do Congresso Nacional

Palácio do Congresso NacionalLeonardo Sá/Agência Senado

Suas duas cúpulas, uma voltada para baixo (Senado) e outra para cima (Câmara), são ícones do modernismo. Niemeyer expressou seu apreço pelo projeto em uma entrevista de 1999 ao Correio Braziliense: “Lembro-me quando os apoios da cúpula da Câmara foram retirados e o Palácio surgiu, simples e monumental. Com as cúpulas soltas no ar, destacando a importância hierárquica que representam. Era a integração da técnica com a arquitetura. Duas coisas que devem nascer juntas e juntas se enriquecer. E me apaixonei pela solução adotada.”

Fábio Chamon Melo, autor de uma dissertação de mestrado sobre o Congresso, ressalta as cúpulas como elemento marcante. “O elemento determinante é a surpresa que as cúpulas causariam no horizonte da cidade”, afirmou, destacando a inovação da cúpula invertida da Câmara. “Aquilo na década de 60 era uma grande revolução, nunca havia sido feita”. Ele também explica a simbologia das cúpulas: “Cada uma de uma forma mostraria que ali há duas casas distintas, mas que comungam de uma solução estrutural, solução inteligente, pois estabelece o diálogo mas diferencia as duas casas de forma potente e criativa.”

O conjunto arquitetônico inclui obras de arte e mobiliário modernista brasileiro e estrangeiro. A dissertação de Chamon mapeia esse patrimônio, considerando arquitetura e interiores indissociáveis. “Internamente, o edifício deveria retratar esse ambiente palaciano modernista de forma mais potente. A presença de obras de arte era fundamental para alcançar essa feição palaciana”, explica.

Maurício Matta, servidor aposentado da Câmara, admira a história do Palácio. “Oscar Niemeyer sempre gostou da presença de outros artistas no seu trabalho. Ele achava que tudo deve ser integrado: arte e arquitetura, uma coisa só.” Matta destaca o Salão Verde, comparando-o a uma “praça”.

O local, que leva o nome pela cor do carpete, dá acesso ao Plenário e é ponto de encontro. “Pela sua importância como praça de encontro, ali foram colocadas diversas obras de arte: um painel de azulejos de Athos Bulcão junto a um jardim de Burle Marx; o painel “Araguaia”, de Marianne Peretti; o anjo de bronze de Ceschiatti e a pintura de Di Cavalcanti”, detalhou.

O mobiliário, segundo Matta e Chamon, complementa a história. A concepção de Niemeyer para os móveis foi executada entre 1970 e 1971, após a retirada de gabinetes do Salão Verde. Niemeyer propôs a ambientação com peças consagradas, incluindo algumas de sua autoria. “Essa coleção possui móveis que foram desenvolvidos especificamente para o Congresso Nacional e estão disponíveis para toda sociedade que frequenta o edifício”, destacou Chamon.

Mobiliário no Salão Verde

Mobiliário no Salão VerdeAgência Câmara

Matta explica que a incorporação de obras de arte é uma escolha de Niemeyer, que as prefere a materiais de acabamento caros. “Eles estão presentes ali contando uma história, estão no cerne do pensamento que cria Brasília: a modernidade. Vamos nos apropriar de todo conhecimento, de tudo que há de bom no mundo e vamos integrar ao nosso trabalho, nosso trabalho vai ser um mix disso tudo, vai ser universal. Dessa forma, cada ambiente tem uma personalidade a partir das obras que estão ali integradas e eles são preservados e conhecidos assim”, disse.

Fábio Chamon destaca o papel de Ana Maria Niemeyer na escolha do mobiliário. “Ela desenha, com o pai, a primeira coleção de móveis para o palácio: os conjuntos Paris (Chapelaria e Salão Nobre) e Easy Chair (Salão Verde).”

Brasília, Patrimônio Cultural da Humanidade desde 1987, tem a responsabilidade de preservar esse bem. “Como primeira cidade moderna a ser tombada no mundo, é uma grande responsabilidade do País zelar por esse bem, porque ele é tão representativo que pertence também ao mundo e não só à sociedade onde está inserido”, ressaltou Chamon. (Com informações da Agência Câmara)



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