Você acredita nos resultados das pesquisas?

Você acredita nos resultados das pesquisas?


As pesquisas podem, sim, captar com boa dose de acerto o que se passa na sociedade, mas, sem nos perdermos em identidades ideológicas, é importante refletir sobre fatores que podem influenciar seus resultados

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO CONTEÚDOmanifestação bolsonaro
Bolsonaro conseguiu levar para a Av. Paulista uma multidão de manifestantes

Algo errado está acontecendo. Para o “afegão médio”, fica difícil entender o que está diante dos seus olhos. Bolsonaro consegue levar para a Av. Paulista uma multidão de manifestantes. É muita gente, independentemente dos números que a imprensa possa ter divulgado. Vamos imaginar que não houve nenhum viés político nessa contagem e que os dados são fidedignos.

As pessoas ficam atordoadas. Olham uma fotografia da manifestação a favor da anistia e não encontram um espacinho sequer para acomodar mais uma alma viva. Tudo lotado, até as travessas ficam apinhadas. Aí comparam com a manifestação realizada pela esquerda contra a anistia: uma micharia de meia dúzia de gatos pingados. Ou seja, os favoráveis à anistia deram um chocolate nos contrários.

Pesquisas X imagens

Mas atordoadas por quê? Porque o Datafolha nem esperou o defunto esfriar e já divulgou um levantamento que contradiz tudo o que as imagens mostraram. Segundo a pesquisa, 56% dos entrevistados são contra a anistia. O povo vê esse percentual e exclama: é mesmo?! Em seguida, vem outro dado ainda mais surpreendente: 52% querem que Bolsonaro seja preso. E, de novo, a perplexidade: é mesmo?!

Ainda que as pesquisas aleguem rigor científico em sua realização, muita gente se pergunta se não há manipulação ou erro na coleta de opinião. A cabeça ferve com uma dúvida que beira a certeza: acreditar no que os olhos veem ou no que mandam ver?

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O que não falta é pesquisa

Entra ano, sai ano, e a história se repete. Como temos eleições a cada dois anos, o que não falta é pesquisa. Para todos os gostos. Muitas vezes, divergem entre si com diferenças que assustam. O fenômeno do viés de confirmação leva cada um a acreditar nos levantamentos que favorecem seu candidato. Mas, no final, tantas vezes, nem uma nem outra se sustentam.

Em época de campanha eleitoral, é um Deus nos acuda. Dia sim, outro também, surgem novos percentuais de intenção de voto. À medida que as urnas se aproximam, começa a correria para apresentar dados que se encaixem melhor com a realidade.

Não quero perder meu voto

Quando questionados, os institutos dizem que as pesquisas são apenas uma “fotografia do momento” e que, com a dinâmica política, os cenários mudam. O retrato era fiel àquelas circunstâncias. Mas a realidade se transforma num piscar de olhos.

O problema é que, por meses, as pessoas foram influenciadas por números que depois se mostraram enganosos. Como a opinião se forma com base nas informações recebidas, mudar de posição não é tão simples. Ainda vigora a velha máxima: “Não quero perder meu voto”, ou seja, evito votar em quem parece perdedor.

A amostragem e o recorte geográfico

Como economista de formação, não desacredito dos números. As pesquisas podem, sim, captar com boa dose de acerto o que se passa na sociedade. Mas, sem nos perdermos em identidades ideológicas, é importante refletir sobre fatores que podem influenciar seus resultados. Mesmo quando obedecem aos requisitos científicos, nem sempre as pesquisas refletem os verdadeiros anseios da comunidade.

Pesquisas trabalham com pequenos grupos que deveriam representar o todo. Se o grupo não refletir a diversidade, como idade, classe social, escolaridade, religião, região, o resultado já nasce distorcido. O recorte geográfico é outro aspecto relevante. Se a maioria das entrevistas acontece em grandes capitais, mais inclinadas à esquerda, o levantamento perde o retrato do interior conservador.

Da formulação da pergunta à espiral do silêncio

Mudar uma palavra altera a resposta. “Anistia para golpistas” não soa igual a “anistia para manifestantes presos”. O tom molda o pensamento. Da mesma forma, tem influência o período do levantamento. Se a pesquisa é feita em meio a uma avalanche de notícias negativas, as respostas tendem a ser levadas por essa pressão emocional. 

Em ambientes de patrulhamento ideológico, muita gente prefere omitir o que pensa. Responde o que julga ser socialmente aceitável. Temos de considerar também a divulgação dos resultados. Muitas vezes, os dados são apresentados de forma a destacar o que interessa e minimizar o que atrapalha, moldando a percepção do público.

Assim, mesmo respeitando a metodologia científica, pesquisas de opinião podem criar um retrato desfocado, tremido ou editado da realidade. Portanto, se você vê com desconfiança os dados que perambulam pelas pesquisas, não se preocupe, porque está bem-acompanhado. Afinal, confiar cegamente nelas é tão arriscado quanto se orientar por espelhos deformados. Siga pelo Instagram: @polito

 

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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