Opinião: Ar blasé de Maria de Fátima em “Vale Tudo” é genialidade ou limitação de Bella Campos?

Opinião: Ar blasé de Maria de Fátima em “Vale Tudo” é genialidade ou limitação de Bella Campos?


O problema — ou talvez a questão — começa quando a personagem experimenta emoções distintas e a expressão continua basicamente a mesma

Desde que assumiu o papel de Maria de Fátima no remake de “Vale Tudo”, Bella Campos tem dividido opiniões — e não sem motivo. A atriz, revelada ao grande público em “Pantanal”, entrega uma performance segura, com presença, timing e uma postura que comunica muita coisa mesmo nos silêncios. A nova Fátima é egocêntrica, entojada e vive num eterno estado de superioridade blasé. Até aí, tudo impecável. O problema — ou talvez a questão — começa quando a personagem experimenta emoções distintas e a expressão continua basicamente a mesma.

Se está triste, raivosa ou satisfeita, Maria de Fátima responde com o mesmo olhar de desdém. Isso levanta uma dúvida legítima: estamos diante de uma limitação de registro ou de uma escolha artística bem amarrada?

A resposta talvez esteja no contexto. A nova Maria de Fátima parece moldada por uma geração que reage ao mundo com uma certa apatia estética. Jovens que performam o desinteresse como defesa e estilo de vida. Nesse cenário, a expressão constante de “saco cheio” não seria um erro, mas uma leitura atualizada de personalidade. E isso não seria nada simples de executar — manter uma postura blasé sem cair na monotonia exige controle e afinação.

Por outro lado, “Vale Tudo” é uma novela sobre contrastes morais e transformações internas. Se Fátima permanecer o tempo todo dentro da mesma faixa emocional, por mais elegante que seja a construção, sua jornada corre o risco de não emocionar. É aí que entra a dúvida: Bella Campos vai conseguir dar à personagem outras camadas quando o roteiro pedir? Consegue mostrar, sem deixar de ser a Fátima que ela criou, quando a personagem de fato racha por dentro?

Até agora, Bella demonstra técnica e personalidade. Sua Maria de Fátima não imita a versão clássica de Glória Pires — o que já é um mérito por si só. A expectativa agora é ver se, à medida que os conflitos aumentam, ela amplia o leque de emoções sem abrir mão da essência dessa nova Fátima. E talvez seja aí que a atriz nos conquiste de vez — ou nos deixe querendo mais.



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