História abordaria o aborto forçado da protagonista, que seria enganada pelo amante; canal achou a trama “sensível demais”
O anúncio da saída de Glória Perez da Globo após 42 anos dedicados à emissora, revelou muito mais do que o fim de uma era. Trouxe à tona também os bastidores de uma novela muito menos ousada e polêmica do que se comenta — mas que acabou engavetada pela alta cúpula do canal antes mesmo de ser produzida. A coluna teve acesso à sinopse da história e conta aqui o que a emissora vetou; motivo do fim do vínculo entre a Globo e Gloria.
Intitulada provisoriamente de “Rosa dos Ventos”, a trama abordaria um tema que continua cercado de silêncios e polêmicas no Brasil: o aborto — mas sob uma perspectiva inédita nas novelas. Ele seria cometido à força contra a protagonista.
A mulher em questão seria Cibele, uma ex-miss que, com o passar do tempo, viu os holofotes se apagarem. Hoje, trabalha como vendedora em uma loja de departamento, lidando com o contraste cruel entre o passado glorioso e a realidade dura da classe média baixa. Sua vida muda quando ela conhece Murilo, um empresário poderoso, rico e sedutor, casado com Mabel, uma mulher em plena ascensão política.
Cibele se apaixona perdidamente, acreditando nas promessas de Murilo de que ele deixará a esposa. Quando engravida, vê naquele filho a chance de consolidar o amor e recuperar parte da vida de glamour que perdeu. Mas é aí que a história toma um rumo sombrio.
Murilo, temendo que um escândalo de paternidade abale seus negócios e a carreira política da mulher, arma um plano cruel: droga Cibele e a submete a um aborto forçado. Quando desperta, ela percebe a violência que sofreu. O choque se transforma em revolta, e então começa sua jornada de reparação, em busca de justiça — e de vingança.
“Rosa dos Ventos” não mostraria um aborto consensual. Pelo contrário: seria uma denúncia sobre a violência reprodutiva contra mulheres — especialmente contra aquelas que, como Cibele, já foram descartadas por uma sociedade que idolatra a juventude e pune a ambição feminina.
Nos bastidores, comenta-se que a proposta da novela causou desconforto na cúpula da Globo. O tema foi considerado “sensível demais” para o horário nobre, especialmente por envolver um aborto forçado e um protagonista masculino vilanesco com conexões políticas — num país onde o debate sobre direitos reprodutivos ainda é polarizado e inflamado.
Glória Perez, conhecida por abordar temas difíceis com coragem — como o tráfico de mulheres, a intolerância religiosa e os crimes virtuais — teria ficado profundamente frustrada com a decisão e, conforme a coluna havia noticiado, não quis fazer grandes mudanças na sua sinopse.
Agora, com a autora fora da Globo, a história de “Rosa dos Ventos” entra para o hall das “novelas proibidas”, obras que nunca chegaram à tela, mas que continuam vivas na memória de quem sonha com uma teledramaturgia mais ousada, diversa e corajosa.