Geyson Luiz vive um dos mais sanguinários integrantes do bando de Lampião na série Maria e o Cangaço
O ator Geyson Luiz integra o elenco da série “Maria e o Cangaço”, novidade do Disney+, estrelada por Isis Valverde e Júlio Andrade. Na produção, o pernambucano interpreta o cangaceiro Zé Bispo, personagem inspirado na figura real de Zé Baiano – um dos mais sanguinários integrantes do bando de Lampião, que se destacava não apenas pela crueldade, mas por ser o membro mais abastado do grupo.
O artista também está na última fase de “Sintonia”, lançado em fevereiro na Netflix. Com 27 anos de idade e mais de 20 de carreira, ele chegou a morar na rua na adolescência, após fugir de casa para investir na profissão:
“Esse é um dos projetos mais esperados da minha carreira. Como ator nordestino, é honroso e desafiador poder colaborar e dar vida a mais uma série de ação. Fui convidado para interpretar quem seria um dos cangaceiros mais perigosos do sertão e um dos homens de confiança de Virgulino Ferreira, o Lampião”.
O que você pode contar da sua participação em “Maria e o Cangaço”, que acabou de estrear no Disney+?
Na série, interpreto o cangaceiro Zé Bispo, personagem inspirado na figura real de Zé Baiano – um dos mais sanguinários integrantes do bando de Lampião. Como braço direito do Rei do Cangaço, destacava-se não apenas pela crueldade, mas por ser o membro mais abastado do grupo, tendo aderido ao movimento mais por afinidade ideológica do que por necessidade. Sua notoriedade vinha, principalmente, da prática brutal de marcar rostos humanos, com o mesmo ferrete usado no gado.
Como foram as gravações e a preparação para este projeto?
Esse foi um dos projetos mais esperados da minha carreira! Como ator nordestino, é honroso e desafiador poder colaborar e dar vida a mais uma série de ação. Mergulhei durante meses de produção, com a preparação de Fátima Toledo e a direção de Sérgio Machado, Thalita Rubio e Adrian Teijido.
O que mais chamou sua atenção ao aceitar fazer parte desse projeto?
A história é trazida de forma visceral. Poder fazer parte de uma narrativa, que retrata um dos capítulos mais violentos do cenário nordestino, é uma grande responsabilidade e honra. O público terá a oportunidade de presenciar um dos projetos mais esperados do ano, com atuações intensas de um elenco primoroso e majoritariamente nordestino. A série retrata a história dos cangaceiros, que viviam em bandos. Eles saqueavam fazendas, sequestravam e matavam fazendeiros, impondo respeito por onde passavam. Homens e mulheres viveram em um contexto de extrema necessidade, em que a população sofria com a seca e a fome que assolavam a região, enquanto os coronéis — grandes proprietários de terras e fazendeiros — dominavam de forma ditatorial.
Nos últimos anos, você tem feito muitos trabalhos no streaming, como “Cangaço novo”, da Prime, e “Sintonia”, da Netflix. Como você enxerga esse novo momento do mercado?
O mercado sempre se moldará com o avanço das produções de streaming, mas muitas dessas mudanças partem da necessidade de apostar em novas narrativas. Essas narrativas vão além do trabalho do ator, envolvendo também roteiristas e diretores que dialogam com os temas que circulam no cenário atual. É fundamental investir em projetos que possibilitem ao público o acesso à sua própria cultura. As produções precisam ir além do entretenimento: precisam nos fazer questionar, nos emocionar, trazer poesia para o nosso dia a dia e ser o combustível que alimenta nossa experiência cultural.
Quais os próximos trabalhos de Geyson Luiz?
Encerrei o ano de 2024 com a estreia do longa-metragem pernambucano “Salomé”, dirigido por André Antônio. O filme foi o mais aclamado no 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, levando para casa oito prêmios na mostra competitiva nacional e destacando o cinema Queer. Tenho curtas, longas-metragens e séries produzidas no Nordeste que estrearão este ano, com temáticas regionais e diversas. São histórias nordestinas, que trazem reflexões sobre política, memória e desenvolvimento cultural no cotidiano do cidadão brasileiro. Entre os destaques, está o thriller paraibano “O Braço”, ambientado em um condomínio de luxo em João Pessoa e o longa-metragem “Aurora”, que conta o sonho de uma jovem garota do sertão paraibano de se tornar vaqueira. Também há os filmes pernambucanos, que abordam disputas de herança: “Ao Sabor das Cinzas”, dirigido por Tarciano Valério, e “Coração de Lona”, dirigido por Tuca Siqueira, que conta a história de uma família circense e a sobrevivência do circo.
Você fugiu de casa, aos 13 anos, no interior de Pernambuco e chegou a morar na rua por conta do sonho de viver de arte. Como foi essa experiência?
Mesmo um adolescente encarando a solidão das ruas, sempre acreditei na poesia, pois foi ela que me fez agir. O incentivo artístico veio de muita inspiração do que me afetava na realidade da minha infância. A visceralidade dos fatos de um ambiente caótico e efêmero tornava a arte uma tradução de inquietude e vulnerabilidade de um pirralho. Foi no medo dessa realidade que busquei os porquês na arte. Carrego sonhos intranquilos e o que me move é saber que um passo à frente não estarei mais no mesmo lugar.