Jason Vieira, da MoneYou e Lev Asset Managment, afirma que Estados Unidos devem aumentar as taxas caso o Brasil responda ao protecionismo
Uma eventual retaliação do Brasil à política tarifária dos Estados Unidos pode ser prejudicial em relação ao comércio exterior, segundo Jason Vieira, economista-chefe da MoneYou e da Lev Asset Management.
“Acho que o Brasil tem que ficar quieto nessas horas. Melhor [ficar em] silêncio. O silêncio é ouro nessa hora, porque, dado o atual contexto, temos uma situação em que não foi tão ruim, podia ser pior”, declarou Jason em entrevista ao Poder360.
O presidente dos EUA, Donald Trump (Partido Republicano), iniciou uma nova fase de sua política tarifária em 2 de abril. O Brasil teve uma taxa de 10% sobre os produtos que vende aos norte-americanos. O percentual foi mínimo e menor que o de outras nações, como China (34%) e União Europeia (20%).
O decreto que implementou as novas regras determina que os países que escolherem a retaliação terão tarifas mais intensas. Jason afirma que o Brasil poderia perder o potencial de vantagem competitiva.
Para o economista, a alíquota menor em relação a outros países abre uma vantagem competitiva. Ele avaliou que o Brasil conseguiria aumentar sua penetração no mercado norte-americano. Atualmente, só 1,3% das importações realizadas pelos Estados Unidos vêm de território brasileiro.
“Somos 1,3%. É muito pouco, é muito baixo. Se dobrarmos isso, já vai ser uma coisa enorme para nós”, disse.
Assista à entrevista (27min19s):
Outra oportunidade mencionada pelo economista é a tentativa de negociar para abaixar as taxas. Se isso for concretizado, o Brasil ganharia ainda mais oportunidades. O setor mais beneficiado seria o agronegócio.
“Se entrarmos em uma de querer baixar tarifas, em termos daquilo que temos como produto principal, pode ser vantajoso para o Brasil”, afirmou.
GOVERNO E CONGRESSO NA CONTRAMÃO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e aliados avaliaram as medidas de Trump com mais pessimismo.
No geral, dizem ser defensores do multilateralismo. Leia algumas das principais reações:
- Lula – declarou em 3 de abril que o Brasil vai responder a qualquer tentativa de impor protecionismo que “não cabe hoje no mundo”;
- Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – lamentou a decisão do governo dos EUA; afirmou em nota que a medida “viola os compromissos” do país norte-americano com a OMC (Organização Mundial do Comércio) e impactará todas as exportações brasileiras de bens para o país.
- Jorge Viana – o presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) disse não ver vantagens para o Brasil com a política tarifária iniciada pelos Estados Unidos.
O Congresso Nacional também reagiu às medidas. A Câmara e o Senado aprovaram durante a semana o projeto de lei que autoriza o Brasil a adotar reciprocidade tarifária e ambiental no comércio com outros países.
“Até ontem estava se criando um projeto de lei, uma comissão na Câmara e todo um arcabouço político para tentar retaliar os Estados Unidos. Não, o importante agora seria ficar quieto”, disse Jason.
DESTAQUES DA ENTREVISTA
Leia abaixo outros pontos abordados na entrevista com Jason Vieira:
- impacto na política monetária – “Se fosse por uma assunção simples, diríamos que é [o tarifaço] inflacionário e o FED [Banco Central dos EUA] vai ficar conservador. A assunção mais complexa é: é inflacionário no curto prazo, mas pode ser recessivo até no segundo prazo”;
- relação com o governo dos EUA – “Tivemos 2 presidentes simpáticos à presidência do Brasil. Tivemos o Trump no passado, que era simpático ao Bolsonaro, e tivemos o Biden, que era simpático ao Lula. Nenhum dos dois conseguiu ter uma abertura mais ampla do comércio brasileiro em relação aos Estados Unidos”;
- impacto à China – “É o grande prejudicado […] Está numa situação econômica difícil, com diversos desafios, especialmente no mercado imobiliário, que há muito tempo está travado e não consegue avançar”.
Leia também: