Reconhecer — mesmo que de forma sutil — os tropeços de um projeto que nunca encontrou seu rumo talvez desse à emissora um ar de maior credibilidade
A “passagem de bastão” entre elencos no Domingão com Huck, exibida neste domingo, foi tudo o que o público já esperava — e ainda assim, difícil de assistir. Não porque tenha sido fria ou esvaziada. Pelo contrário: o programa seguiu o protocolo com sorrisos, VTs e bate-papo de praxe. Mas o constrangimento estava no ar porque todo mundo sabe: “Mania de Você” foi um fracasso retumbante. E fingir que a novela terminou sem percalços foi a verdadeira encenação.
A ausência de Chay Suede, Agatha Moreira e Adriana Esteves gritou mais alto do que qualquer homenagem. O trio foi, ironicamente, o mais bem-sucedido da novela — tanto em repercussão quanto em entrega dramática — e ainda assim não apareceu nem para se despedir do público.
A missão de representar o folhetim no palco coube apenas a Mariana Ximenes e Gabz, que fizeram o que puderam em meio ao claro mal-estar. Foi pouco, foi estranho. E, para quem está minimamente informado, foi simbólico.
O constrangimento não estava no tom do programa, que manteve a leveza habitual. Estava no silêncio. No fato de que “Domingão” optou por fingir que “Mania de Você” não teve os problemas de bastidor já noticiados amplamente por sites, colunas e até programas da concorrência. Não se trata de lavar roupa suja ao vivo, mas reconhecer — mesmo que de forma sutil — os tropeços de um projeto que nunca encontrou seu rumo talvez desse à emissora um ar de maior credibilidade.
A comparação com o elenco de “Vale Tudo”, que dominou o palco com energia, coesão e discurso afiado, escancarou ainda mais a diferença. Taís Araújo, Bella Campos, Cauã Reymond, Débora Bloch, Humberto Carrão e Carolina Dieckmann mostraram que há uma aposta real no remake. O público percebeu quem está alinhado com o que vem aí — e quem preferiu manter distância do que ficou para trás.
A Globo parece determinada a enterrar “Mania de Você” sem fazer muito barulho. Mas no cenário atual, onde o público não depende mais exclusivamente da versão oficial da emissora, tentar contornar o óbvio pode ser mais nocivo do que admitir um tropeço. O recado está dado — e não foi a Globo quem deu. Foi o elenco que faltou.
