Reverenda fala em alteração dos ensinamentos de Jesus e em “honrar” e “tratar com dignidade” quem pensa diferente
Para a bispa da capital de Washington (EUA), Mariann Edgar Budde, o mundo vive um momento de avanço do nacionalismo cristão, com a “distorção da mensagem cristã”. Segundo ela, é preciso “honrar” quem pensa diferente e tratar essas pessoas “com dignidade”.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada nesta 2ª feira (31.mar.2025), ela falou sobre amar o próximo, incluindo imigrantes ou pessoas da comunidade LGBTQ+.
Budde foi responsável pelo discurso no culto ecumênico de celebração à posse de Donald Trump (Partido Republicano) em 21 de janeiro. Na ocasião, ela pediu ao republicano que ele tivesse “misericórdia das pessoas” do país que estavam “assustadas”.
Budde disse não saber se “confrontou” Trump. “Falei com ele no contexto do sermão, que foi sobre unidade. Não estou certa de que ele absorveu a mensagem. Mas quis trazê-la como uma lembrança de que a misericórdia é algo do qual todos precisamos” declarou.
A bispa afirmou ver diversas razões para que as pessoas apoiem Trump e suas políticas. De acordo elas, muitos norte-americanos estão preocupados com o futuro financeiro e o aumento da imigração.
“Há muito medo, e esses movimentos [nacionalistas cristãos] são construídos em cima do medo” afirmou. “Também acho que é um movimento financiado por mídias sociais que beneficiam certos grupos sociais. É uma distorção da mensagem cristã com um grande apelo para muitos que se consideram cristãos”.
Ela também declarou que discriminar pessoas vai contra os ensinamentos de Jesus Cristo. “Há uma crença forte, que volta à nossa fundação, de que há um plano particular de Deus para os EUA, mas essa sociedade é tipicamente definida como branca, com compreensões muito restritivas sobre o papel das mulheres e a natureza da família. [Essa visão] não fala para o bem de todos e para o tipo de sociedade multicultural que somos. E certamente não mantém os valores do evangelho cristão. Isso não é o que Cristo ensinou”, disse.
“Acho importante ser clara sobre como ele nos encorajou a nos tratarmos de forma digna, com paciência e amizade. Isso não significa que não temos leis e que as pessoas não precisam segui-las. Mas que podemos partir de uma posição um pouco mais gentil do que o que estamos experimentando agora com líderes cristãos mais influentes no governo”, declarou.
CRÍTICAS À ESQUERDA
A bispa disse compartilhar da visão de que a esquerda deixou de ser capaz de representar determinados grupos sociais política e socialmente.
“Há suspeitas profundas em relação às classes educadas, com diplomas universitários e que vivem principalmente na costa leste ou oeste [como em Nova York e na Califórnia]. Há uma sensação de que muitos norte-americanos se sentiam como se fossem menos valorizados, que seus empregos não eram importantes, que suas visões sobre como educar seus filhos estavam sendo desreguladas”, declarou.
“Esse descontentamento foi construído e encorajado. Temos um trabalho a fazer para reconstruir o tecido da nossa sociedade”, afirmou.
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