Presidente defendeu postura do republicano de buscar diálogo com Putin e disse que acordos pela paz tem de ser feitos com russos e ucranianos presentes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconheceu os esforços do líder dos Estados Unidos, Donald Trump (Partido Republicano), para dar fim à guerra da Ucrânia e disse que o republicano está “no caminho certo”.
A declaração foi dada durante conversa com jornalistas após o encerramento do Fórum Brasil-Vietnã, em Hanói, neste sábado (29.mar.2025). Lula ressaltou que Trump busca o diálogo entre Rússia e Ucrânia, algo que não foi feito na administração de Joe Biden (Democrata).
“Na medida em que o Trump toma a decisão de discutir a paz entre Rússia e Ucrânia, que o Joe Biden deveria ter tomado, eu sou obrigado a dizer que, neste aspecto, Trump está no caminho certo. Nós fizemos uma crítica contundente à ocupação territorial da Ucrânia pela Rússia, e ao mesmo tempo nós nos colocamos à disposição para tentar o caminho da paz”, disse.
Para Lula, qualquer conversa pela paz tem que ser feita de forma conjunta entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder ucraniano, Volodymyr Zelensky. Ele criticou a postura da União Europeia de negociar apenas com a Ucrânia.
“Agora que o Trump começou a conversar com Putin, a Europa não quer ficar de fora e quer que Zelensky entre. E ele tem que entrar. A conversa para ter paz é colocar Putin e Zelensky em torno de uma mesa, com quem eles convidarem para participar e pararem de atirar e começar a discutir comida e paz”, declarou.
Assista às declarações de Lula à imprensa (59min50s):
Os esforços de Trump para dar fim ao conflito que já dura mais de 3 anos surtiram efeito na 3ª feira (25.mar), quando a Casa Branca anunciou que Rússia e Ucrânia acertaram um cessar-fogo marítimo e energético. Os acordos, amarrados separadamente por Washington com Moscou e Kiev, preveem a interrupção de ataques a embarcações no Mar Negro e contra alvos como estações de geração de energia. Segundo o Kremlin, o tratado é válido por 30 dias, contados a partir de 18 de março.
Dois comunicados publicados no site oficial da Casa Branca elencam o que foi acordado entre EUA e Ucrânia e EUA e Rússia. Entre as medidas relacionadas ao conflito, estão garantias de livre circulação de embarcações no Mar Negro e a interrupção de ataques a instalações de energia, como refinarias de petróleo, estações de geração e plantas nucleares em ambos os países.
Também foram estabelecidas garantias para cada país. Para a Rússia, por exemplo, os EUA se comprometeram a ajudar a restaurar o acesso ao mercado de fertilizantes agrícolas. Com a Ucrânia, ficou acordado que os norte-americanos ajudarão na troca de prisioneiros de guerra e libertação de civis.
Putin também elogiou a postura de Trump durante as negociações pela paz. Assim como Lula, ressaltou o fato de o republicano ter buscado o diálogo e citou o fato de as relações entre EUA e Rússia terem sido cortadas durante o mandato de Biden.
“Na minha opinião, o recém-eleito presidente dos Estados Unidos quer mesmo pôr fim ao conflito, por uma série de razões”, disse, em visita ao porto de Murmansk, na 6ª feira (28.mar).
Putin, porém, já rechaçou em algumas oportunidades dialogar diretamente com Zelensky. Sugeriu, inclusive, em Murmansk, que a Ucrânia adote um governo temporário que permita novas eleições para a assinatura de acordos de paz.
O próprio Putin e outros integrantes do governo russo já classificaram a administração de Zelensky como “ilegítima”, já que o líder ucraniano permaneceu no poder após o fim de seu mandato, em maio de 2024.
“A princípio, um governo temporário poderia ser introduzido na Ucrânia sob supervisão da ONU, dos Estados Unidos, países europeus e nossos parceiros. Isso seria feito para que fossem realizadas eleições democráticas e colocar no poder um governo capacitado, aproveitando-se da confiança das pessoas para, então, começar as conversas com eles por um acordo de paz”, disse Putin.
Em fevereiro, em meio às acusações de ilegitimidade do seu governo, Zelensky se defendeu, afirmando que o contexto de guerra impedia a condução de novas eleições.
“Eu sempre estive aberto às eleições. Mas, durante uma guerra, eleições requerem alterações constitucionais e sérios ajustes legais. O fator chave não é apenas legal, é humano. Como os soldados nas trincheiras irão votar? E os milhões de ucranianos em territórios ocupados? As vozes deles não mais importam? E quanto aos 8 milhões de ucranianos que estão forçadamente em países estrangeiros por conta da guerra?”, questionou o presidente ucraniano.