Com roteiro retalhado, cortes da direção e falta de identidade, novela das nove da Globo naufragou antes mesmo de engatar
“Mania de Você”, novela das nove da Globo, chega ao fim esta semana com um gosto amargo nos bastidores e entre o público. A trama assinada por João Emanuel Carneiro, um dos autores mais celebrados da teledramaturgia brasileira, termina como uma novela que ninguém vai fazer questão de lembrar — e isso diz muito.
A expectativa era alta. Afinal, falamos do criador de sucessos como “Avenida Brasil” (2012) e “A Favorita” (2008). Mas, desta vez, nada funcionou como deveria — e não só por culpa do autor. Um dos grandes vilões por trás do fracasso foi a interferência da direção da emissora, que interveio já nas primeiras semanas, censurando e cortando diversas cenas de violência e conteúdo mais forte, que fariam parte da essência da novela.
O resultado? Uma narrativa fragmentada, sem identidade e que parecia andar em círculos. A história foi sendo podada até perder o impacto, deixando personagens desinteressantes e conflitos mornos. Algo parecido já havia acontecido em “Babilônia” (2015), de Gilberto Braga, outro exemplo de novela esvaziada por pressão externa.
Por mais que João Emanuel Carneiro seja um autor talentoso, sua marca registrada — personagens complexos, tramas ousadas e reviravoltas ácidas — simplesmente desapareceu em “Mania de Você”. O público, que no começo até tentou embarcar, abandonou a trama no meio do caminho. E quem ficou, assistiu a uma reta final apressada e sem emoção.
No fim, “Mania de Você” se tornou um exemplo de como a falta de confiança no autor e o excesso de controle podem enterrar até uma boa ideia. Uma novela que, ironicamente, ninguém vai ter “mania” de rever.