A deputada Carla Zambelli (PL-SP) afirmou se sentir injustiçada pelas críticas proferidas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, que a responsabilizou pela derrota nas eleições de 2022, após o episódio em que perseguiu com arma em punho o jornalista Luan Araújo em São Paulo, na véspera do segundo turno. Ao Congresso em Foco, a parlamentar disse que “já pagou bastante” pelo ato.
Pouco mais de dois anos depois do episódio, Carla Zambelli enfrenta o risco real de perder o seu mandato. O caso é julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) em um processo que, apesar de suspenso, já conta com cinco votos pela sua condenação, restando apenas mais um para formar maioria.
Zambelli nega que vídeo da perseguição em São Paulo tenha provocado a derrota de Bolsonaro nas eleições.Zanone Fraissat/Folhapress
Em paralelo ao julgamento, cresceu também a pressão a Zambelli por seus próprios aliados. O ex-presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao podcast Inteligência Ltda., alegou que ela teria “arrancado seu mandato”. A parlamentar considera errada a análise do antigo mandatário, mas também não vê margem para convencê-lo do contrário. “Se ele entende que não foram as urnas, mas que foi eu, fazer o que?”, ponderou.
“Foi algo ruim, mas não acho que foi determinante [para o resultado eleitoral], e eu já paguei bastante, sabe? Estou com depressão desde aquela época, e agora me colocar como culpada de tudo, como se nada mais tivesse acontecido, acho que é um peso muito grande para as minhas costas”, afirmou. Por outro lado, não chega a considerar uma covardia as declarações contra seu nome. “Cada um dá aquilo que tem”, disse.
Ela ressaltou o argumento levantado por sua defesa, de que ela teria agido após ouvir um estampido e que estaria correndo risco. O relator, Gilmar Mendes, considera que as provas apresentadas não corroboram para esta versão.
Questionada se considera possível reverter o placar no STF, a congressista afirma que “se eles respeitarem o porte federal que eu tinha, sim”. Em seu voto, Gilmar Mendes alega que o motivo da tipificação de porte ilegal de arma de fogo não está na documentação em si, mas na forma como o porte foi exercido, uma vez que a permissão era apenas para defesa pessoal.
“O acervo probatório revela que a deputada federal não sacou a arma de fogo e passou a conduzi-la ostensivamente em via pública para garantir sua segurança e integridade física, mas, sim, para perseguir o ofendido já em rota de fuga”, disse o ministro.
Carla Zambelli responde no STF por porte ilegal de arma de fogo e por constrangimento ilegal com uso de arma de fogo. A pena sugerida pelo relator é de cinco anos e três meses de prisão em regime semiaberto, pagamento de 80 dias-multa, o cancelamento de seu registro de posse de arma e, por consequência da condenação, a cassação de seu mandato.
O julgamento está suspenso graças a um pedido de vista apresentado pelo ministro Nunes Marques na segunda-feira (24). Zambelli nega a possibilidade de sair da política depois desse episódio, ao menos no curto prazo. “Não pensei nisso ainda. Estou tentando sobreviver primeiro”, declarou.