Financiamento integra pacote de US$ 1,9 bi e aguarda aval da Justiça dos EUA; empresa busca reduzir dívidas e segue avaliando fusão com a Azul
A GOL Linhas Aéreas anunciou, nesta 2ª feira (24.mar.2025), que fechou um acordo para receber US$ 1,25 bilhão em financiamento como parte do processo de recuperação judicial que ocorre nos Estados Unidos. O valor faz parte de um pacote maior, de US$ 1,9 bilhão, e ainda precisa ser aprovado pela Justiça americana. Eis a íntegra (PDF – 223 kB) do fato relevante enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
De acordo com a empresa, a cifra será usada para pagar dívidas acumuladas durante o processo, cobrir custos da reestruturação e ajudar nas operações da companhia depois da recuperação.
A companhia aérea também estuda outras opções para levantar dinheiro, como novos empréstimos e investimentos de parceiros.
Além do financiamento, a companhia pretende reduzir sua dívida de forma significativa, eliminando ou convertendo em ações cerca de US$ 1,7 bilhão em financiamentos e US$ 850 milhões em outras obrigações. Isso pode significar uma diluição relevante para os acionistas, já que parte da dívida será transformada em participação na empresa.
A GOL faz parte do Grupo Abra e opera 138 aviões Boeing 737. Suas ações são negociadas na B3 com o código GOLL4.
FUSÃO COM A AZUL
A possível sociedade entre as empresas pode intensificar a concentração do setor aéreo brasileiro e trazer impactos negativos, como o aumento do preço das passagens. A avaliação é de Santiago Yus, diretor-presidente da Aena Brasil, empresa espanhola que administra 17 terminais no país, incluindo Congonhas, em São Paulo.
“Democratizar a passagem aérea faz com que as pessoas tenham mais oportunidade de voar e também estimular essa demanda reprimida, o que é muito bom para o setor. Do ponto de vista da lógica do mercado, [a fusão entre GOL e Azul] é um pouco contrário”, disse Yus, em entrevista para a Folha de S.Paulo no sábado (22.mar.2025).
Segundo ele, o Brasil tem uma alta concentração de empresas aéreas e a saída de uma companhia pode resultar em um acréscimo no preço das passagens e na diminuição da conectividade das decisões. “Esse é um problema que a gente está monitorando”, afirmou.
De acordo com Yus, a eventual redução de concorrência pode comprometer rotas operadas em cidades menores, onde a viabilidade financeira já é um desafio. “A gente tem aeroportos lá na ponta, no Pará, em Ponta Porã (MS)… É difícil manter algumas operações. Se essa resultante [uma eventual fusão entre GOL e Azul] fizer com que alguma estratégia mude, poderíamos ter alguma dificuldade a mais”, afirmou.
Esse processo, porém, ainda depende de aprovação da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).