Recentemente o cantor Zé Felipe saiu em defesa da filha, Maria Alice, por gostar de vestir fantasias de super-heróis e afirmou que seguirá com o mesmo pensamento em relação ao caçula, José Leonardo
No início desta semana, o cantor Zé Felipe abriu sua opinião sobre a criação dos filhos com a influenciadora Virginia. O cantor afirmou que não se importa que Maria Alice, de 3 anos, vista fantasias de super-heróis e declarou que irá apoiar caso o caçula, José Leonardo, de 6 meses, queira brincar com boneca.
O comentário do artista gerou uma grande repercussão e para entender a melhor forma dos pais conduzirem a criação dos filhos em relação a associação de gêneros, o portal LeoDias procurou o psiquiatra e psicoterapeuta Saulo Ciasca, que explicou com propriedade o assunto.
“Acho que o primeiro ponto a se observar, é que a natureza explora diversidade. Todos nós somos diferentes em personalidade e jeito de ser. A partir do momento que a gente vai se desenvolvendo, a gente percebe que gosta de determinada comida, determinada cor e isso tem relação com fatores biológicos e genéticos, que já vem com a gente. Tem pessoas que são mais sensíveis a determinados sabor e textura, mas isso serve para todas as áreas da vida. Então, esse tipo de desenvolvimento vai se dando a partir do momento que a gente vai sendo exposto a diferentes estímulos da vida”, iniciou doutor Saulo que também é professor de pós-graduação.
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O médico explicou que não é possível reprimir os gostos de uma criança. E a tentativa deste ato pode causar consequências no desenvolvimento.
“Não é possível reprimir e fazer uma pessoa deixar de gostar de algo, quando ela descobre que ela gostou. Porque esse processo do gostar tem relação com algo muito íntimo nosso, que também faz parte da nossa personalidade. Reprimir ou dizer para uma criança que ela não gosta de algo que ela sabe que gosta, pode trazer duas questões: a primeira é deixar a criança confusa e a segunda é a criança aprender a não mostrar esse gosto para as pessoas que a reprimiram”, esclareceu.
O especialista ressaltou que a imposição de algo para a criança não faz com que a mesma passe a ter gostos diferentes.
“Impor cor de roupa ou brinquedo conforme o gênero não faz uma criança gostar desses itens. Ela pode até tentar, mas se um menino for reprimido, por exemplo, vai querer brincar com a boneca sozinho. Ele vai entender que não pode brincar de boneca na frente dessas pessoas que o reprimiram e aí isso vai formando algo que a gente chama de um falso personagem. Isso gera desgaste, ansiedade, preocupação. Prejudica autenticidade da criança, reduz a autoestima e faz essa criança se sentir diminuída, o que pode gerar diversas questões posteriormente.”
Dr. Saulo ainda afirmou que as vontades de um indivíduo em formação podem mudar posteriormente: “O processo de desenvolvimento de preferências de crianças e adolescentes mudam conforme a idade, já que a gente vai amadurecendo. Então a criança que gosta de brincar de determinada coisa, pode ser que mais tarde não faça mais sentido para ela. Mas isso é muito individual e tem relação com a personalidade de cada um. Esse processo de desenvolvimento da personalidade, caráter e temperamento influência nas preferências de cada criança e adolescente”, avaliou.
Com isso, é comum que alguns pais se frustrem após os filhos não atenderem expectativas geradas por eles. Caso isso aconteça, o especialista indica tratamento adequado para o responsável: “É muito comum os pais se depararem com filhos que podem ter preferencias diferentes de suas expectativas. E quando a gente fala de gênero, é muito comum a gente se deparar com o caso de criança que tem preferência de objetos ou brincadeiras que faça referência a outro gênero. Isso pode impactar os pais, que vão viver em uma espécie de luto. O luto de uma expectativa e isso precisa ser trabalhado. Porque no final, o exercício de amor é amar quem a pessoa é, não quem você quer que ela seja”, enfatizou.
Saulo Ciasca também ressaltou que a formação de personalidade não anula limites que precisam ser estabelecidos pelos pais ou responsáveis legais: “Quando a gente fala de limites, uma coisa é a personalidade da pessoa e o que ela gosta. Mas isso não significa que não se deva colocar algumas regras em relação ao comportamento de uma criança ou adolescente. Comportamentos que podem conflitar com normas sociais, em questão de respeito ao outro e cidadania. Então se uma criança joga um lixo no chão, basta ensinar que lixo não se joga na rua. Isso não tem relação com personalidade e sim com educação”, concluiu.