Governador de Brasília quer Senado em 2026 com ou sem Bolsonaro

Governador de Brasília quer Senado em 2026 com ou sem Bolsonaro


Ibaneis Rocha defende que Bolsonaro comande uma frente da centro-direita e que o MDB lance candidato à Presidência

O governador do DF (Distrito Federal), Ibaneis Rocha (MDB), afirmou, em entrevista ao Poder360, que se elegerá ao Senado em 2026 com ou sem o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou do partido dele, o PL. 

Disse, no entanto, que tem falado com o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e que procurará Bolsonaro nos próximos dias para debater o tema.

“Ele [Valdemar] sabe que estou muito bem posicionado na pesquisa para o Senado. Eles [Valdemar e Bolsonaro] não querem perder. Eu me elegeria ao Senado com ou sem eles. Melhor que estejamos juntos, porque elegemos 2 candidatos de centro-direita”, declarou Ibaneis, em entrevista concedida em 14 de março de 2025, em seu gabinete no Palácio do Buriti, em Brasília.

Ibaneis disse acreditar que pode ser eleito ao lado da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), cotada para entrar na disputa.

Para o emedebista, Bolsonaro está certo na estratégia de reafirmar que será candidato à Presidência da República, mesmo inelegível: “Não pode jogar a toalha agora, antes do jogo estar todo jogado […] Não está atrapalhando ainda [a direita]“.

Também defendeu que Bolsonaro lidere uma frente da centro-direita, caso este não consiga reverter sua situação, e afirmou que nomes desse espectro teriam mais dificuldade sem apoio dele.

“Sem o Bolsonaro e sem os eleitores do Bolsonaro, fica mais complicado para a centro-direita. Seria importante que ele participasse, que ele tomasse a frente desse processo e, articulando com todos os presidentes de partido, tivéssemos uma grande eleição nacional ano que vem”, falou.

Assista (16min24s):

Ibaneis Rocha disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não teria mais força e disposição para eleger um sucessor –caso escolha não tentar a reeleição.

Defendeu ainda que seu partido, o MDB, lance candidato próprio à Presidência da República em 2026 para “tentar romper a polarização que existe no Brasil”. Citou os nomes do governador do Pará, Helder Barbalho, e dos ministros Simone Tebet e Renan Filho.

Também afirmou não ver ilegalidades para um impeachment contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e defendeu que o projeto para dar anistia aos presos do 8 de Janeiro deveria ser focado na redução de penas. 

LEIA OS TRECHOS DA ENTREVISTA:

Qual seu futuro político? Já decidiu se concorrerá ao Senado em 2026?

Nossa perspectiva é exatamente essa, concorrer a uma das vagas no Senado pela centro-direita. E, já em abril [de 2026], devo me afastar do cargo [de governador]. Assumirá a vice-governadora Celina Leão (PP), que já expressou e tem o nosso apoio para concorrer à reeleição ao governo do Distrito Federal.

Quais serão as suas principais bandeiras, caso eleito ao Senado?

Tenho uma trajetória muito ligada ao direito. Fui vice-presidente da Ordem [dos Advogados do Brasil], fui presidente, fui diretor do Conselho Federal da OAB. Considero que tenho como fazer uma interlocução muito importante tanto com o Judiciário e com o Ministério Público como com um relacionamento com os demais órgãos, buscando todos os benefícios para a população do Distrito Federal. Nunca cheguei em lugar nenhum para ser mais um, sempre sou um.

No Distrito Federal, a senadora Leila Barros (PDT) já disse que pretende tentar a reeleição. A deputada Erika Kokay foi anunciada pelo PT como pré-candidata. E fala-se de Michelle Bolsonaro. Como avalia que será essa disputa pelo Senado?

Acredito que teremos 2 candidatos da centro-direita, que seria eu e a Michelle, a preço de hoje, pelas conversas que tenho mantido com o presidente do partido deles, do PL, o Valdemar Costa Neto – com o qual estive recentemente, inclusive, tratando desses assuntos. Se a Michelle alçar um outro cargo, o 2º nome que eles têm dentro do PL é o da deputada Bia Kicis [PL], que teve duas votações muito importantes nesse campo e também que representa bastante o grupo do Bolsonaro.

É uma disputa apertada.

Toda eleição é muito difícil, mas temos que colocar o nome à prova e temos um trabalho que é reconhecido pela cidade. Acredito que dá, se fizermos um bom trabalho, uma boa parceria, conseguiremos fazer as duas vagas para o Senado. Até porque a deputada Erika –e um comentário que eu ouço de outros– tem ali um trabalho dentro do sindicato dos bancários, junto a determinadas categorias, mas não é uma unanimidade dentro do próprio partido. A Leila tem um perfil um pouco mais de centro, pelo PDT, mas não entregou muita coisa durante o mandato dela de 8 anos, basta olhar a votação que teve para governadora na eleição de 2022, nada expressiva.

O ex-presidente Bolsonaro já sinalizou que quer fazer candidatos ao Senado em todos os Estados. Já conversou com ele sobre um apoio ao seu nome?

Por enquanto, estou conversando com o presidente do partido dele, o Valdemar. Pretendo nos próximos dias me encontrar com o presidente Bolsonaro. Ele tem todas as condições de fazer esse trabalho de lançar senadores em todos os Estados. Pelas pesquisas que vemos, ainda tem um capital político muito grande. Acredito que ele consiga fazer realmente uma bancada muito relevante de senadores e talvez mude um pouco as forças dentro do Congresso Nacional.

Qual tem sido o tom dessas conversas com Valdemar?

Sempre muito boa, de pacificação, de parceria. Temos as pesquisas. Ele sabe que estou muito bem posicionado na pesquisa para o Senado. Eles não querem perder. Eu me elegeria ao Senado com ou sem eles. Melhor que estejamos juntos, porque elegemos 2 candidatos de centro-direita.

O senhor já decidiu quem que o senhor vai apoiar para presidente da República em 2026?

Vou aguardar, primeiro, o movimento do meu partido. Ouvi recentemente o Baleia [Rossi, presidente do MDB] falando que tem a intenção de lançar um candidato do MDB à Presidência da República, para tentar romper essa polarização que existe no Brasil. É salutar para a política, até porque o MDB vem garantindo a democracia desde a 1ª eleição presidencial com bons nomes. Seria muito bom para o partido ter um candidato a presidente. Vou aguardar essa definição. Se lá na frente o caminho for de composição, seja com a centro-direita, seja com o PT, vamos analisar a situação e cuidar da nossa casa aqui, que é muito importante. 

Quais seriam bons nomes para serem lançados pelo MDB?

Temos o Renan [Filho], que está fazendo um bom trabalho no Ministério dos Transportes, temos o Helder [Barbalho], que está encerrando seu 2º mandato como governador com aprovação expressiva. Tem a Simone Tebet, que concorreu nas eleições passadas, só que hoje está auxiliando o governo [Lula]. Está fazendo um bom trabalho, um trabalho técnico, muito bem preparado. E existem alguns outros nomes que podem ser cogitados.

Como avalia a estratégia de Bolsonaro de sustentar que será candidato à Presidência em 2026, mesmo inelegível?

Ele acredita nos recursos, acredita no Poder Judiciário e, pelo potencial de votos que Bolsonaro tem no Brasil, tem que manter essa esperança até a última hora. Não tenho dúvida disso. Não pode jogar a toalha agora, antes do jogo estar todo jogado. E ele preserva também todo o potencial político que tem. A estratégia não está muito errada. Se, em determinado momento, ainda neste ano, até no início do ano que vem, o Supremo confirmar a inelegibilidade dele, acredito que tem todas as condições de criar uma frente de centro-direita, apoiando essa frente e conduzindo o processo político. O Bolsonaro tem todas as condições de fazer isso.

A estratégia dele de falar que é o plano A, B e C não prejudica a direita como um todo?

Não, o diálogo está existindo, principalmente entre as lideranças partidárias do Congresso Nacional e os presidentes de partido com os quais eu converso. Eles têm isso com muita tranquilidade. Não está atrapalhando ainda, não radicalizou. A estratégia não está errada.

Avalia ser possível ter um candidato forte pela direita que não seja apoiado por Bolsonaro?

O melhor caminho seria se tivesse o apoio dele, caso ele não possa estar elegível. Mas temos muitos bons nomes à disposição: o Ratinho Júnior, o próprio [Ronaldo] Caiado, alguns nomes que têm, em seus Estados, uma aprovação muito alta. Todos têm cacife para concorrer. Agora, sem o Bolsonaro e sem os eleitores do Bolsonaro, fica mais complicado para a centro-direita. Seria importante que ele participasse, que ele tomasse a frente desse processo e, articulando com todos os presidentes de partido, tivéssemos uma grande eleição nacional ano que vem. O que não impede que vários desses nomes saiam candidatos e se unam no 2º turno.

Lula já sinalizou que pode não tentar a reeleição em 2026. Quem a esquerda teria como munição para colocar no lugar dele?

O PT não fez a renovação que deveria dentro dos seus quadros, tanto no âmbito nacional quanto no Distrito Federal. Ele teria muita dificuldade de indicar um candidato com condições de ganhar. Não vejo essa força do presidente, essa disposição do presidente, como fez lá atrás, na época de Dilma Rousseff, que colocou em um ministério e a fez presidente da República e a reelegeu. Já não vejo mais essa disposição do presidente. Mas o PT tem muitos nomes: Fernando Haddad, Gleisi Hoffmann e alguns nomes que podem ser escolhidos pelo presidente e, com o apoio dele, tentar a Presidência da República.

No início deste mês, o ministro do STF Alexandre de Moraes arquivou o inquérito contra o senhor sobre o 8 de janeiro. Como recebeu a decisão?

Recebi a decisão com muita serenidade, como recebi quando fui afastado, em 9 de janeiro. Sou do meio jurídico e entendo que você consegue ganhar as coisas do Supremo, você não ganha do Supremo. Passei esse período todo, tive busca e apreensão na minha residência, entreguei meus celulares, computadores, tudo que era necessário. Não encontraram nada contra mim, até porque eu não tinha nada a ver com aquilo. O que fiz naquela data foi acompanhar o programa de segurança que foi apresentado pelas forças de segurança. Tinha muita tranquilidade que, em determinado momento, esse inquérito seria arquivado.

Alguns senadores defendem o impeachment contra ministros do STF, principalmente contra Alexandre de Moraes. Qual sua opinião?

Impeachment de um ministro do Supremo no Tribunal Federal não pode ter como base as decisões que ele toma. Tem que ser com base em atos, talvez ilegais, que ele pratique. Até o momento, não vi nenhuma decisão do ministro Alexandre de Moraes que não tenha sido ratificada pelo plenário da Corte do Tribunal. Ainda não encontraram motivos realmente viáveis para pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes. É um instrumento válido, mas tem que ser utilizado da forma correta.

O STF começará a julgar o presidente Bolsonaro em 25 de março. O que espera do julgamento?

Eles estão julgando agora o recebimento da denúncia. A partir daí, serão colhidas as provas, ouvidas as testemunhas. Desde que o Supremo cumpra todos os ritos – e acredito que vai, porque o relator do processo é o ministro Zanin, que é muito legalista –, acho que esse julgamento deve correr da forma mais rápida. Não é a 1ª vez que o Supremo tem processos dessa natureza. Basta lembrar do próprio Mensalão, em que grande parte das pessoas foi absolvida e boa parte foi condenada e cumpriu suas penas, e as pessoas tiveram direito a todos os recursos. O Supremo está acostumado com isso. Sabemos que hoje existe um embate ideológico muito maior do que existia naquela época, mas acredito num julgamento justo. É isso que o Supremo tem feito a todo momento.

Quais serão as consequências políticas desse julgamento?

No caso de absolvição, acredito que se restabeleçam os direitos do presidente Jair Bolsonaro de pleitear uma candidatura à Presidência da República. Em caso de condenação, acredito que esse bolsonarismo que existe hoje e essa intenção da centro-direita de ter um candidato ganha força a partir do momento em que o Bolsonaro assumir o protagonismo da sucessão do ano que vem.

No Congresso, a oposição a Lula quer avançar com o projeto de anistia aos presos do dia 8 de janeiro. Acredita que deva ser aprovado?

Na Câmara dos Deputados, tem um grupo muito forte nesse sentido, e o próprio presidente [da Câmara], Hugo Motta, falou que esse é um dos temas a serem pautados neste ano. Existe possibilidade, sim. No Senado, seria um pouco mais difícil. De qualquer modo, essa lei, caso aprovada, vai à sanção do presidente Lula, que não deve sancionar. E essa discussão vai parar toda novamente no Congresso e, posteriormente, no Supremo Tribunal Federal. Falando como advogado, o projeto apresentado tem um víciozinho de inconstitucionalidade, não foi bem trabalhado. Se tivessem trabalhado em um projeto de lei que tratasse da redução das penas, teria mais facilidade, e seria mais difícil que o Supremo derrubasse uma legislação nesse sentido.

A estratégia da oposição de bater na mesma tecla está errada?

Não. Eles poderiam reavaliar esse projeto para poder ganhar mais adesão dentro dos partidos. Ter penas de 17 anos, 18 anos.. uma coisa é se tratar, se comprovado, que existiu uma tentativa de golpe. Mas essas pessoas que vieram para cá e fizeram quebra-quebra, na minha visão, estão levando uma penalidade muito grande. Dezessete anos é pena para homicídio. Temos que tomar muito cuidado com isso, porque tem um viés político que termina aumentando o radicalismo e a divisão do país.

No ano passado, a primeira-dama Janja fez uma visita à Praça dos Três Poderes e falou que o senhor havia abandonado o local. Como está a sua relação atual com a Janja, o presidente Lula e os demais integrantes do governo federal?

Não tenho relacionamento pessoal nenhum com eles, nem pretendo ter. Temos o relacionamento de uma pessoa que governa a cidade onde eles moram. Todos os pedidos que chegam de lá são feitos. Em relação especificamente à Praça dos Três Poderes, chegamos a apresentar 3 vezes o projeto ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e o Iphan não aprovava os projetos. Chegou-se num ponto: “Não vou mais fazer o projeto. Vocês façam o projeto e doem para o Distrito Federal que eu faço a obra”. O que eu consegui mais imediatamente com o Iphan foi fazer uma reforma da praça para deixar em melhores condições. Aguardo até hoje o projeto prometido pelo Iphan e, até hoje, não entregaram. Tenho os recursos. Na hora que entregar o projeto, entrego a praça totalmente revitalizada.

Quais são as prioridades para sua reta final como governador?

Esperamos entregar neste ano alguns projetos que já foram licitados. No final do mês, vamos entregar o Drenar DF, que é, talvez, uma das maiores obras de captação de água pluvial da história de Brasília. Entregamos dia 29 [de março]. Tem algumas áreas sociais que tenho dado muita prioridade, a questão dos restaurantes comunitários, zerar fila de creche. Quando assumi o governo em 2019, tínhamos 25.000 crianças fora de creche no Distrito Federal. Hoje, temos menos de 3.000 e quero zerar até o fim do ano. Vou focar nas obras de infraestrutura que temos em andamento, mesmo que não as entregue.

O senhor já disse que escolheria o vice ou a vice para a chapa de Celina Leão para o governo do DF no ano que vem. Já definiu quando vai escolher? Já tem alguém em vista?

Temos mais de 1 ano para ter isso anunciado. Tenho várias pessoas dentro da minha equipe que, além de serem da minha extrema confiança, têm bastante competência para poder gerir. E que não tenham pretensão política mais adiante. O futuro a Deus pertence, mas ajudamos a construir. Até o fim do ano, tomamos essa decisão e anunciamos. Está sendo tudo muito bem trabalhado com todos os partidos da centro-direita. Tenho ouvido todos os presidentes de partido, tanto locais quanto em âmbito nacional, para fazer a coisa da forma mais harmônica e manter o grupo o mais unido possível.





Source link