Obra da pioneira modernista brasileira, avaliada em mais de R$ 1 milhão, integra leilão que reúne desde acadêmicos do século 19 até artistas contemporâneos
“O Toureiro” (1921), obra de Anita Malfatti (1889-1964), figura central do modernismo brasileiro, retorna ao mercado após mais de 30 anos em coleção particular. A tela, avaliada entre R$ 1,2 e R$ 1,5 milhão, será oferecida no 1º evento de 2025 do Magalhães Gouvêa Leilões, marcado para 2ª feira (24.mar.2025). O lance inicial está fixado em R$ 700 mil.
“Esta é uma peça histórica de um dos períodos mais importantes da carreira de Anita”, afirmou ao Poder360 Renato Magalhães Gouvêa Jr., organizador do leilão. A obra foi criada em um momento decisivo para a artista, depois de sua exposição de 1917-1918, que provocou uma reação contundente da crítica e inspirou o artigo “Paranoia ou Mistificação” (1917), de Monteiro Lobato.
Produzido às vésperas da Semana de Arte Moderna de 1922, o quadro já apresenta elementos que caracterizariam as pinturas de Malfatti subsequentes ao evento – embora, por razão desconhecida, não tenha sido exibido nele. Posteriormente, foi descoberto e reconhecido pelo escritor Mário de Andrade.
Segundo Gouvêa Jr., o mercado raramente tem acesso a obras deste período, em contraste com produções de Malfatti pós anos 1940. “Depois das críticas à exposição de 1917-1918, Anita viveu um período de questionamentos, mas continuou produzindo obras de forma reservada”, explicou. “Existem poucos trabalhos dessa época. No momento, não conheço nenhuma obra contemporânea a este quadro disponível no mercado.”
A tela foi exibida publicamente apenas 3 vezes: duas no Museu de Arte Contemporânea da USP (1971 e 1997) e uma na mostra “Do Modernismo aos Anos 40” no Museu de Arte Moderna de SP (1982). Trocou de mãos uma vez e permaneceu na mesma família desde a década de 1990.
Catálogo
O leilão apresenta obras representativas de diferentes períodos da arte brasileira. Entre os paisagistas do século XIX, destacam-se Giovanni Battista Castagneto, com “Marinha com barco a vapor e barco a vela” (1897), lance inicial de R$ 12 mil, e Nicolau Facchinetti, com a vista “Valle das Laranjeiras, tomado de Cosme” (1893), a partir de R$ 600 mil.
O segmento da arte moderna está representado por Candido Portinari com “Antúrios” (1943), que tem lance inicial de R$ 500 mil. De Di Cavalcanti, o leilão oferece Sem Título (1972) por R$ 250 mil e a impressão offset “A família é a pedra angular da sociedade” (1960) por R$ 3 mil. José Pancetti marca presença com “Vaso de Flores” (s.d.,R$ 30 mil) e “Paisagem” (1954, R$ 35 mil).
Aldo Bonadei aparece com “Vila Maria” (1938), registro urbano de seu período inicial, por R$ 70 mil. De Ismael Nery, há 3 obras: “Casal Ajoelhado” (s.d., R$ 80.000), “Sem Título” (s.d., R$ 120.000), e “Sem Título” (s.d., R$ 260.000). “Natureza Morta” (1933), de Roberto Burle Marx, pode ser adquirida a partir de R$ 120 mil.
No segmento contemporâneo, “Sem Título” (s.d.) dos Osgemeos se destaca com lance inicial de R$ 500 mil, valor consideravelmente inferior ao praticado no mercado internacional.
“Esta obra, se comercializada em galeria hoje, valeria entre R$ 1,2 milhão e R$ 1,5 milhão. Isso é comprovado fora do Brasil, com preços em torno de U$ 300 mil”, diz Gouvêa. A diferença de preço, explica, se dá por circunstâncias pessoais do proprietário. O quadro já recebeu um lance antecipado de R$ 510 mil.
“Equação dos Desenvolvimentos” (déc.1990), de Antonio Maluf, é outro destaque do leilão. Sob lance inicial de R$250 mil, a obra dialoga diretamente com o cartaz que Maluf criou para a 1ª Bienal de São Paulo em 1951. “Décadas após criar o cartaz original, Maluf desenvolveu 4 variações da ideia inicial, transformando aquele design em obras autônomas”, contextualizou Gouvêa. “Este é um desses quadros, classificado dentro do concretismo.”
Outros destaques são Lothar Charoux com “Círculos” (1971, R$ 25 mil), Hermelindo Fiaminghi com “Corluz B” (déc.1970, R$ 60 mil) e Maurício Nogueira Lima com “ESPAÇOS” (1983, R$ 110 mil).
O evento já registrou 29 lances prévios. As obras mais disputadas incluem “Sem título” (2004), de Amélia Toledo, com 4 lances até o momento; “Sem título” (1973) de Tuneu, também com 3 lances; e “Tudo o que a gente aprendeu é liberdade” (2015), de Ivan Grilo, Induction à Double Fréquence Raquel 1 _ 2011 (2011), de Carlos Cruz-Díez, e “Aldeia Toscana (1982), de Fulvio Pennacchi, com 2 lances cada.
1º Leilão Magalhães Gouvêa 2025
Exposição prévia: 15 a 23 de março, na sede da Magalhães Gouvêa (Av. Nove de Julho, 5144, Jardim Europa, São Paulo). Entrada gratuita.
Leilão: 24 de março, às 20h, com transmissão ao vivo
Informações: www.artmgleiloes.com.br