Será que vale a pena fazer manifestações como essa de Copacabana? 

Será que vale a pena fazer manifestações como essa de Copacabana? 


No domingo (16), a praia do Rio de Janeiro estava apinhada de gente; porém, se for como tem sido nos eventos mais recentes, tudo continuará do mesmo jeito

PEDRO KIRILOS/ESTADÃO CONTEÚDOO deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) participa de ato com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na orla de Copacabana, na zona sul do Rio
O deputado federal Nikolas Ferreira participa de ato com o ex-presidente Jair Bolsonaro na orla de Copacabana

Afinal, o que mudou? Há não muito tempo, os políticos se pelavam de medo do povo nas ruas. O pavor de perder eleitores fazia com que aderissem rapidamente aos pleitos defendidos pelos manifestantes. Havia um ditado repetido reiteradamente: “Nada mais convincente que a voz rouca das ruas”.

Coisa do passado. O que não falta no país é manifestação. Embora se sucedam com espantosa frequência, se espremermos bem, como resultado concreto mesmo, não sai nada. As pessoas lotam as ruas e depois se decepcionam com a falta de soluções.

Muitas manifestações

Só para refrescar a memória, vamos citar algumas manifestações que mobilizaram os brasileiros nos últimos tempos: em 2020 – 15 de março (para criticar o STF e o Congresso), 19 de abril (apoio a Bolsonaro) e 3 de maio (apoio ao governo); em 2021 – 7 de setembro (apoio a Bolsonaro); em 2024 – 25 de fevereiro (contra o STF, liberdade de expressão e anistia); em 2025 – 16 de março (anistia aos presos do 8 de Janeiro). Sem contar aquelas organizadas pelo PT e seus partidos satélites. Pare para pensar, quais as consequências do que foi reivindicado? Não houve.

Gritaram, rezaram, espernearam, e tudo continuou como dantes no Quartel-General de Abrantes. Esse resultado deu às “Suas Excelências” uma espécie de blindagem para se protegerem dos possíveis resultados negativos das urnas, seja pela descrença do eleitorado, seja pela dificuldade de traduzir manifestações em ações concretas. Olham para aquela multidão e pensam: “Não estou nem aí. O que essa turma reclama não me atinge”.

O risco é que as pessoas se cansem de comparecer e, por não vislumbrarem os resultados que desejam, deixem de voltar às ruas. Nesse caso, haverá a impressão de que as causas não encontram ressonância em sua vontade, quando, na verdade, seria apenas fruto de suas frustrações.

Contribuíram para a queda de dois presidentes

Já funcionaram. E muito bem. Foram as manifestações que ajudaram a derrubar dois governos depois da redemocratização: Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff. Principalmente neste último caso, os ocupantes do poder desdenharam ao ver a multidão se manifestando. Deu no que deu. Claro, outros fatores pesaram, como a pressão do Congresso e da mídia, mas as ruas tiveram um papel decisivo.

Hoje passou a existir algo parecido com amnésia. Segundo pesquisa do Datafolha, mais de 60% dos eleitores não se lembram em quem votaram para o Congresso. Esse é um número impressionante — mais de seis em cada dez pessoas não têm a mínima ideia do nome que depositaram nas urnas.

Números divergentes

Quer mais? Entre esses trinta e poucos por cento dos que se lembram, um terço não acompanha o trabalho dos parlamentares. Arredondando, só 2% analisam como os políticos atuam em votações e os projetos que apresentam. Por mais politizado que esteja o país, esses dados não devem ser alterados de forma significativa.

No domingo (16), a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, estava apinhada de gente. Não importa se eram 18 mil, como disseram os analistas da USP; 30 mil, como afirmou o Datafolha; ou 400 mil, como confirmou a Polícia Militar, responsável por esse tipo de contagem. Ainda que não tenha comparecido 1 milhão de pessoas, de acordo com a expectativa dos organizadores, o que deve ser considerado é que havia muita gente. Vale ressaltar que divergências em contagens de público sempre ocorrem e fazem parte do jogo político.

Qual será o resultado?

Desta vez, estavam pedindo anistia para os presos do 8 de Janeiro. Bolsonaro estabeleceu que não houvesse nenhuma outra reivindicação. Primeiro, para não perderem o foco, depois, para não estabelecerem confrontos desnecessários com as instituições, especialmente o STF, que está prestes a julgar o ex-presidente.

Se for como tem sido nas manifestações mais recentes, tudo continuará do mesmo jeito. Por outro lado, talvez pelo fato de autoridades de peso, como governadores, terem comparecido ao ato, o Congresso se mobilize mais em torno do assunto.

Bolsonaro foi vitorioso

Diferente do que certos comentaristas disseram, o evento nem de longe foi um fracasso. Para confirmar que foi uma vitória para Bolsonaro, basta imaginar qual teria sido o resultado caso o ex-presidente não tivesse levantado essa bandeira. Talvez nem a metade.

Com todas as pressões que tem recebido, com risco de ser preso e já inelegível, Bolsonaro ainda é a maior força política do país. Se não interromperem sua trajetória, ele vestirá novamente a faixa presidencial. Siga pelo Instagram: @polito,

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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