Registros sugerem tentativas de Mao Tsé-Tung e Fidel de apoiar a Campanha da Legalidade, em 1961, liderada por Brizola no Brasil
O governo de Donald Trump (republicano), presidente dos Estados Unidos, divulgou na 3ª feira (18.mar.2025) os documentos restantes sobre o assassinato de John F. Kennedy, em 22 de novembro de 1963. Os registros, provenientes do serviço secreto norte-americano, mostram que os EUA monitoravam as relações entre a China, Cuba e políticos brasileiros, como Leonel Brizola.
Segundo os arquivos, o presidente da China, Mao Tsé-Tung, e o líder cubano Fidel Castro ofereceram apoio material e voluntários para a Campanha da Legalidade, movimento liderado por Brizola, então governador do Rio Grande do Sul. O objetivo da campanha era garantir a posse de João Goulart, vice-presidente, depois da renúncia de Jânio Quadros.
“Durante a semana de 27 de agosto, o presidente do Partido Comunista da China, Mao Tse Tung, e o primeiro-ministro de Cuba, Fidel Castro, ofereceram apoio material, incluindo, entre aspas, ‘voluntários’, a Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul, que liderava a luta no Brasil para garantir a sucessão à presidência de João Goulart, vice-presidente, após a renúncia do presidente Jânio Quadros. Brizola não aceitou a oferta, embora tenha apreciado o apoio moral, pois não queria, entre aspas, ‘criar um assunto internacional’ a partir da crise política do Brasil”, diz o documento.
Brizola recusou a ajuda. Ele temia que aceitar o apoio estrangeiro pudesse transformar a crise política brasileira em uma questão internacional. Além disso, a CIA relatou que Brizola queria evitar uma possível intervenção dos Estados Unidos, caso as ofertas fossem aceitas.
CAMPANHA DA LEGALIDADE
A Campanha da Legalidade foi um movimento político liderado por Leonel Brizola em 1961, com o objetivo de garantir a posse de João Goulart à presidência da República, após a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto daquele ano. A renúncia gerou uma crise política, já que surgiram dúvidas sobre a capacidade de Goulart, que tinha uma postura alinhada à esquerda, para assumir o cargo. Muitos, especialmente entre os militares, temiam que sua presidência levasse a mudanças radicais no Brasil.
Brizola defendia que a Constituição Brasileira não deixava margem para outra alternativa, senão a posse de Goulart. Para evitar um golpe militar, ele organizou um movimento de resistência, mobilizando tropas no Rio Grande do Sul e buscando apoio popular.
O movimento ganhou força e apoio, incluindo de setores das Forças Armadas, especialmente no Rio Grande do Sul, onde Brizola conseguiu controlar unidades militares leais à causa.
A crise atingiu um ponto crítico quando o Congresso Nacional, pressionado pela possibilidade de uma guerra civil, propôs um regime parlamentarista como solução temporária. Sob esse sistema, Goulart assumiria a presidência, mas com poderes limitados. Em 7 de setembro de 1961, Goulart foi empossado, e a crise foi resolvida de forma temporária. No entanto, o parlamentarismo durou até 1963, quando um plebiscito restaurou o sistema presidencialista.
“JFK FILES”
Trump divulgou na 3ª feira (18.mar) os documentos restantes do assassinato de JFK. Era uma promessa de campanha.
Foram publicados 1.123 arquivos. Ao todo, são 73.171 documentos:
- arquivos divulgados em 2025 – 1.123 (clique aqui para acessar);
- arquivos divulgados em 2023 – 2.693 (clique aqui para acessar);
- arquivos divulgados em 2022 – 13.263 (clique aqui para acessar);
- arquivos divulgados em 2021 – 1.491 (clique aqui para acessar);
- arquivos divulgados em 2017 e em 2018 – 54.601 (clique aqui para acessar).
Os registros abordam temas como a estada de Lee Harvey Oswald (1939-1963) –assassino de JFK–, em Helsinque (Finlândia), teorias da conspiração e a relação dos EUA com Cuba.
Durante o seu 1º mandato (2017-2020), o republicano havia divulgado mais de 50.000 arquivos. Seu sucessor, Joe Biden (Partido Democrata), também liberou documentos em 2021, 2022 e 2023.
A legislação dos EUA obriga que os documentos sobre o assassinato de JFK sejam públicos. Em 1992, com o surgimento de diferentes teorias sobre a morte, o Congresso norte-americano aprovou a chamada Lei de Coleta de Registros de Assassinato do Presidente John F. Kennedy.
A legislação determinou que todos os documentos do caso fossem revisados e divulgados até 2017 –o que não aconteceu.
A única exceção é se houvesse um “dano identificável à defesa militar, operações de inteligência, aplicação da lei ou conduta de relações exteriores” e “o dano identificável fosse de tal gravidade que superasse o interesse público na divulgação”.