Senado adia votar mudança na Lei da Ficha Limpa

Senado adia votar mudança na Lei da Ficha Limpa


Falta de acordo empurra projeto que altera começo da contagem de prazo de inelegibilidade de condenados

O Senado adiou nesta 3ª feira (18.mar.2025) a votação do PLP (projeto de lei complementar) 192 de 2023, que antecipa a contagem de início e o prazo de duração da inelegibilidade estabelecido pela Lei da Ficha Limpa. Caso aprovado, o texto beneficiaria políticos condenados pela Justiça.

O projeto começou a ser debatido durante sessão, não teve acordo e teve de ser postergado. O relator da proposta, Weverton (PDT-MA), pediu mais tempo para convencer os colegas sobre o conteúdo. A resistência veio majoritariamente de senadores de PSDB, Novo e MDB.

ENTENDA

Hoje, a lei define que o político que se tornar inelegível (ficar impedido de se candidatar) não poderá concorrer nas eleições que se realizarem durante o restante do mandato e nos próximos 8 anos ao término da atual legislatura, caracterizada pelo período de 4 ou 8 anos.

A proposta debatida pelo Senado determina que o período de inelegibilidade passaria a ser único, de 8 anos, contados a partir da data da decisão que decretar a perda do mandato, da data da eleição na qual se deu a prática abusiva, da data da condenação por órgão colegiado ou da data da renúncia ao cargo eletivo, conforme o caso. 

Com isso, o começo do prazo de inelegibilidade seria antecipado. As novas regras, caso o projeto vire lei, terão aplicação imediata, até mesmo para condenações já existentes.

O texto determina também que, caso o político tenha condenações posteriores, a inelegibilidade será unificada em até 12 anos.

DEBATE POLÍTICO

O projeto é de autoria da deputada Dani Cunha (União-RJ), filha do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (Republicanos). Defensores do projeto afirmam que as regras beneficiariam condenados injustamente e por crimes considerados mais leves.

O líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ), disse que o projeto corrige a Lei da Ficha Limpa ao estabelecer um marco temporal.

“Hoje, sabemos que é mal utilizado, ou utilizado por conveniência política do STF [Supremo Tribunal Federal], para julgar no momento que lhe pertine uma candidatura. Um político fica mais de 8 anos [esperando], disse o senador. 

O relator negou que o texto seja para beneficiar políticos específicos ou devolvê-los à vida pública.

“Quando ele [político] é condenado por um colegiado, ficou inelegível a partir dali e vai recorrer. E fica lá 10, 12, tem gente com 15 anos, ainda sem transitar em julgado seu processo e sem poder participar das eleições. E quando julga, caso condenado, começa a cumprir a pena ali, mais 8 anos […] Não podemos ter inelegibilidade perpétua. Não é justo falar que políticos vão voltar para a vida pública. Depois de 12 anos, você não vai ganhar um mandato de graça”, declarou.

Já os críticos ao projeto afirmaram que a mudança é um retrocesso a uma lei que teve apoio popular. 

“Estamos rasgando a Lei da Ficha Limpa. É uma das poucas salvaguardas que a sociedade conseguiu construir contra o mau político”, disse Alessandro Vieira (MDB-SE).





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