Ao “Fantástico”, funcionário da companhia aérea disse que a aeronave que caiu, deixando 62 mortos, era a que mais apresentava “pane”: “a gente avisava”
Um ex-mecânico da Voepass revelou para o programa “Fantástico” uma série de problemas com manutenção de aviões da companhia aérea. As falhas, segundo ele, teriam resultado na queda de uma aeronave em agosto de 2024, em Vinhedo, no interior de São Paulo, matando as 62 pessoas que estavam a bordo.
A entrevista foi ao ar neste domingo (16.mar.2025) após a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) suspender as operações aéreas da empresa por não cumprir com as medidas de segurança.
O mecânico, que preferiu não revelar a sua identidade, já trabalhava na Voepass antes do acidente e continuou trabalhando lá depois da fatalidade, afirmou que já “sabia” que isso iria acontecer com a aeronave por se tratar do avião que mais apresentava problemas e “pane”.
Leia o que disse o mecânico ao “Fantástico”:
Você já tinha trabalhado em várias outras empresas. O que a Voepass tinha de diferente?
A Voepass não dá suporte nenhum para a gente da manutenção. Não só de materiais, de componentes que vão ser postos nos aviões, colocados para manutenção, como ferramentas, tudo. Passei por grandes empresas, empresas boas, empresas excelentes, quando chegamos na Voepass, a gente sente uma diferença muito grande.
Quando vocês da manutenção souberam que o avião tinha caído em Vinhedo, como é que vocês reagiram?
Eu já sabia que ia acontecer isso com o Papa Bravo [apelido da aeronave por causa das duas últimas letras do prefixo, P e B]. Era o avião que dava mais problemas, era o avião que dava mais pane. A gente avisava que o avião estava ruim, a manutenção sabia que o avião estava ruim, a manutenção reportava, falava, avisava, e eles [ele se refere à alta chefia do centro de controle de manutenção da Voepass] queriam obrigar a gente a botar o avião para voar.
Na parte da manutenção, o que mais chamou a tua atenção depois que aconteceu o acidente?
Aí se você me perguntar, poxa, mudou alguma coisa? Mudou em nada. Acho até que piorou.
A gente recebeu umas imagens, tinha uns aviões envelopados com uma lona, que que é aquilo?
Aqueles aviões que estavam cobertos, aqueles eram os aviões que estavam no mato. Por que eles mandaram cobrir? Porque a ANAC ia fazer uma vistoria lá. Eles estavam escondendo da ANAC.
O que diz a Voepass
Em nota ao Poder360, a Voepass disse que não há nenhuma ligação entre o acidente ocorrido em agosto de 2024 e a medida cautelar da ANAC que suspendeu provisoriamente suas operações.
“A companhia informa que está prestando todos os esclarecimentos para demonstrar sua capacidade operacional, garantindo os níveis de segurança exigidos pela agência reguladora com o objetivo de retomar suas atividades o mais breve possível.
“Nos 30 anos de atuação da empresa, a segurança dos passageiros e da tripulação sempre foi, e continuará sendo, sua prioridade máxima.
“A companhia reitera que sua frota em operação é aeronavegável e segue absolutamente todos os protocolos que atestam a conformidade de seus procedimentos e equipamentos.
“Em hipótese nenhuma os aviões da empresa decolam sem estar em estrita conformidade com o que estipulam o fabricante e os órgãos reguladores.
“É importante ressaltar que o relatório preliminar do Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos] referente ao acidente confirmou que a aeronave em questão estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade válido e com todos os sistemas requeridos em funcionamento.
“Também cabe lembrar que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do Cenipa poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido”, diz a nota.