
A madrugada dos últimos dois dias foi marcada por intensos bombardeios pela Ucrânia e na capital russa, Moscou. A utilização de drones pelos ucranianos e mísseis balísticos pelos russos, transformou os céus do Leste europeu nos palcos das mais recentes tragédias desta longa guerra. O número de mortos notificados à imprensa internacional permanece baixo, mas a escalada recente nos ataques aéreos evidencia que as reuniões nos bastidores demorarão para surtir efeitos práticos. O prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin, chamou os acontecimentos de o pior ataque aéreo à capital desde o início da guerra.
Poucas horas depois em Jeddah, Arábia Saudita, uma delegação norte-americana e outra ucraniana, com importantes diplomatas se encontraram. O objetivo era deixar as rusgas do Salão Oval no passado e prosseguir de maneira mais pragmática rumo a resultados concretos. A conversa acontece após o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky enviar uma carta ao seu homólogo, Donald Trump, dizendo estar pronto para aceitar a liderança dos Estados Unidos em uma posição de mediação.
Após algumas horas, as manchetes que corriam o mundo estampavam uma gota de esperança em um mar de recentes desilusões. A Ucrânia aceitou um cessar-fogo de 30 dias com efeito imediato, colocando no colo dos russos a responsabilidade de escolher a paz agora ou não. Detalhes sobre a data de vigência e os moldes da pausa de hostilidades não foram revelados, mas fizeram com que os americanos agora empurrassem ao Kremlin a decisão de aceitar ou rejeitar perante todo o mundo, uma trégua após mais de três anos.
Respostas positivas também foram dadas em relação ao futuro acordo de exploração de minerais de terras-raras na Ucrânia, encabeçado por empresas estado-unidenses e que auxiliarão com fundos para a reconstrução da nação invadida. Com as sinalizações de Kiev seguindo da forma exata, aquilo desejado por Trump, os Estados Unidos decidiram reestabelecer o compartilhamento de inteligência com Kiev, ajudando o exército nacional a prevenir ataques e planejar contraofensivas.
Como foi dito pela delegação norte-americana, agora “a bola está no lado do campo russo”. De fato, a decisão de um cessar-fogo passa pelo beligerante mais forte e que possui maior poder de barganha. Todavia, em recentes entrevistas as principais figuras da política russa, disseram ser contrárias a uma pausa temporária nas hostilidades, advogando para um final definitivo da guerra, desde o primeiro momento. A intenção russa é redesenhar o quanto antes, todos os mapas do mundo, nos quais os 20% anexados da Ucrânia já estarão oficialmente sob sua custódia. Além disso, vemos que a possibilidade de rearmamento da Ucrânia em um período de trégua, poderia fazer com que as tropas mobilizadas do lado russo, precisassem reanalisar suas possibilidades estratégicas para eventualmente conquistar ainda mais territórios.
Nas próximas semanas são esperados encontros entre diplomatas americanos e russos para apresentar formalmente as condições ucranianas para o cessar-fogo, e coletar as demandas russas para que tudo se inicie formalmente. A exaustão em todas as trincheiras, bunkers e cidades é generalizada. A ideia de um cessar-fogo inicial de 30 dias é tentadora para Kiev e para Moscou, mas uma decisão apressada pode mudar radicalmente os planos de ambos os lados. Infelizmente, até que o jogo lento da diplomacia seja concluído, mais noites cheias de explosões e alarmes, tais como as das últimas semanas, continuarão a fazer parte da rotina no Leste Europeu.