O Dr. Gustavo Bonfadini é Doutor em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
A internet ficou chocada nesta terça-feira (11/3) com a notícia de um menino de dois anos de idade que perdeu a visão após ser beijado por um adulto. O pequeno foi infectado pelo vírus da herpes, e pode ficar permanentemente cego. O portal LeoDias conversou com o Dr. Gustavo Bonfadini, médico oftalmologista, que explicou como o caso aconteceu e deu dicas de como evitar situações similares.
O Dr. Gustavo explica como o menino pegou herpes nos olhos: “O vírus Herpes Simples Tipo 1 (HSV-1), que normalmente causa feridas na boca, pode ser transmitido para os olhos através do contato direto, como um beijo ou até mesmo pelo toque de mãos contaminadas. Quando isso acontece, o vírus pode atingir a córnea do olho, e causar a ceratite herpética, uma infecção ocular grave principalmente se for o primeiro contato da criança com o vírus (primo-infecção). Nos casos mais severos, o vírus pode alcançar camadas mais profundas do olho, atingindo o endotélio corneano, a retina e até o nervo óptico, podendo levar a danos permanentes na visão. O herpes ocular pode causar inflamações recorrentes, cicatrizes na córnea e até descolamento de retina, resultando em perda visual irreversível se não tratado rapidamente”.
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Segundo ele, o caso também pode afetar adultos: “Embora as crianças sejam mais vulneráveis devido ao seu sistema imunológico ainda em desenvolvimento, adultos também podem ser afetados pelo herpes ocular. Pessoas com imunidade baixa, como portadores de doenças autoimunes, pacientes em tratamento com quimioterapia ou que passaram por transplantes, têm um risco ainda maior de complicações. Outro ponto importante é que, uma vez infectado, o vírus do herpes pode permanecer latente no organismo e ser reativado em momentos de estresse, exposição excessiva ao sol ou baixa imunidade. Isso significa que um adulto que já teve herpes na infância pode desenvolver herpes ocular anos depois. Portanto, a prevenção deve ser para todas as idades! Evitar contato direto com lesões, lavar bem as mãos e evitar compartilhar objetos pessoais são medidas essenciais para reduzir o risco de transmissão”.
Outras doenças podem ser transmitidas de maneira similar: “Sim, existem outras doenças virais que podem ser transmitidas pelo contato com a pele, saliva ou secreções de uma pessoa infectada. Algumas delas incluem:
- Conjuntivite viral – Causada por adenovírus, pode ser transmitida pelo contato direto com secreções oculares ou respiratórias.
- Mononucleose infecciosa (Vírus Epstein-Barr) – Conhecida como a “doença do beijo”, pode ser transmitida pela saliva e causar febre, fadiga extrema e inflamação dos gânglios.
- Citomegalovírus (CMV) – Pode afetar os olhos de pessoas imunocomprometidas, causando inflamação na retina (retinite por CMV), que pode levar à cegueira se não tratada.
- Síndrome mão-pé-boca – Doença viral que pode causar lesões na boca, mãos e pés e ser transmitida pelo contato direto.
- O sistema imunológico das crianças ainda está em desenvolvimento, tornando-as mais suscetíveis a essas infecções. Por isso, é fundamental redobrar os cuidados com higiene e evitar contato próximo com pessoas que estejam com infecções ativas”.
Ele afirma que o vírus é incurável, mas é possível tratar os sintomas: “O herpes ocular não tem cura definitiva, pois o vírus do herpes simples permanece no organismo em estado latente mesmo que a infecção original tenha sido completamente estabelecida. O mais importante no caso de suspeita de infecção de herpes ocular é procurar um atendimento médico oftalmológico, se possível com especialista no tratamento de doenças da córnea.
O tratamento precoce nas primeiras 24 – 48 horas de aparecimento dos sintomas é um dos principais fatores que podem melhorar o tratamento adequado e controlar a infecção, reduzir os danos e evitar recorrências. Dependendo do grau de comprometimento ocular, os tratamentos podem incluir:
- Antivirais orais e colírios antivirais – Como o aciclovir, valaciclovir ou ganciclovir, que ajudam a controlar a replicação do vírus.
- Colírios anti-inflamatórios – Para reduzir a inflamação causada pelo vírus.
- Transplante de córnea – Em casos mais graves, quando a córnea sofre cicatrizes extensas que comprometem a visão, pode ser necessário um transplante de córnea para restaurar a transparência da visão.
- Monitoramento oftalmológico contínuo – O herpes ocular pode ser recorrente, então o acompanhamento com um oftalmologista especializado é essencial para evitar novas crises e minimizar o risco de cegueira permanente.
O mais importante é o diagnóstico precoce. Quanto mais rápido for identificado e tratado, maiores são as chances de preservar a visão e evitar sequelas graves”.