Em um quarto dos casos, agressões ocorrem na presença dos filhos da vítima; dados são de pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Instituto Datafolha
Uma pesquisa divulgada nesta segunda-feira (10) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Instituto Datafolha, revela um dado alarmante sobre a violência contra mulheres no Brasil. Segundo o levantamento, em um quarto dos casos de agressão contra mulheres de 16 anos ou mais, a violência ocorre na presença dos filhos da vítima. O estudo “Visível e Invisível: Vitimização de Meninas e Mulheres”, realizado a cada dois anos, entrevistou 793 mulheres em 126 municípios do país entre os dias 10 e 14 de fevereiro de 2025. Os resultados apontam que 91,8% das vítimas sofreram violência na presença de terceiros, sendo os principais testemunhas amigos ou conhecidos (47,3%), filhos (27%) e outros parentes (12,4%). Apenas 7,7% dos casos foram presenciados por desconhecidos.
Além disso, a pesquisa mostra que 21,4 milhões de mulheres brasileiras (37,5% da população feminina com 16 anos ou mais) relataram ter sido vítimas de algum tipo de violência no último ano. Os principais tipos de agressão incluem insultos e humilhações (31,4%), agressões físicas como empurrões e chutes (16,9%), ameaças de agressão (16,1%), perseguição (16,1%), ofensas sexuais ou tentativas de relação forçada (10,4%) e feminicídios.
Outro dado preocupante é que quase 67% das agressões foram cometidas por parceiros ou ex-parceiros das vítimas. Desde 2017, a participação de cônjuges nos casos de violência aumentou de 19,4% para 40%. A diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, ressalta que a presença de testemunhas na maioria dos casos revela um problema estrutural. “A sociedade ainda é conivente com muitas formas de violência. Muitas vezes, sabemos que uma mulher está em uma relação abusiva, mas, como não vemos agressões físicas evidentes, não interferimos”, explica.
A pesquisa também destaca o impacto da exposição à violência doméstica na infância, associada a transtornos como baixa autoestima, depressão e ansiedade. Para a socióloga Wânia Pasinato, intervenções precoces são essenciais para evitar a escalada da violência até o feminicídio. Em 2024, o Brasil registrou 1.459 feminicídios, o maior número da série histórica. Apesar da gravidade do problema, quase metade das vítimas (47,4%) não procurou ajuda após sofrer violência. Entre aquelas que buscaram apoio, 19,2% recorreram à família, 15,2% a amigos, 14,2% foram a uma Delegacia da Mulher e 6% buscaram ajuda na igreja.

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Especialistas reforçam a importância de denunciar e apoiar vítimas de violência. Canais como o telefone 180 oferecem suporte e orientação para mulheres em situação de risco, e a Lei Maria da Penha permite que testemunhas registrem ocorrências e solicitem medidas protetivas para as vítimas. A conscientização e o apoio às mulheres vítimas de violência são fundamentais para romper o ciclo de agressões e transformar a cultura de impunidade que ainda persiste no país.
Publicada por Felipe Dantas
*Reportagem produzida com auxílio de IA