Líderes não levam a bancada feminina a sério, diz Soraya

Líderes não levam a bancada feminina a sério, diz Soraya


Senadora declara que não há “nada a celebrar” no Dia Internacional da Mulher, critica Michelle e quer ser líder da bancada em 2025

A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), candidata para ser líder da bancada feminina no Senado, disse que o colégio de líderes não leva “nem um pouco” a sério as pautas do grupo. Declarou que “não há nada para celebrar” no Dia Internacional da Mulher, data comemorada neste sábado (8.mar.2025).

Soraya foi a única mulher a se candidatar à presidência do Senado em 2025. No dia o pleito, porém, desistiu da disputa em prol de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que venceu a eleição. 

Em seu discurso na tribuna, a senadora afirmou que o então candidato e eventual vencedor se comprometeu com pautas do grupo de 16 senadoras. No entanto, em entrevista ao Poder360, Soraya critica a falta de espaço na Casa Alta.

Nós estamos discutindo sobre cadeiras. Cadeiras efetivas na política e cadeiras físicas. Nós não temos onde sentar como bancada. Isso é muito emblemático em um momento em que a gente está falando de espaço para as mulheres na política”, diz.

A bancada feminina não tem um espaço físico dentro do Senado. Para reuniões, elas usam salas “emprestadas” de blocos e partidos. A reivindicação é uma causa antiga de Soraya, que afirma já ter dito ao ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) que, se a situação não fosse resolvida, “a próxima reunião seria em seu gabinete”.

Enquanto não tivermos a estrutura e direitos de uma liderança, presidente, isso tudo é para inglês ou para mineiro ver”, afirmou ter declarado a Pacheco na época.

Essa demanda é a reivindicação que fez Soraya se candidatar para liderar a bancada feminina. É a 1ª vez que o grupo tem uma eleição com mais de uma candidata, já que, tradicionalmente, a sucessão se dá por aclamação. A senadora enfrentar a senadora Prof. Dorinha Seabra (União Brasil – TO).

Soraya disse que a falta de apoio a fez pensar duas vezes sobre uma candidatura para liderar o grupo, mas foi incentivada por nomes como o da senadora Eliziane Gama (PSD-MA).

REPRESENTAÇÃO NA CASA

A atual composição da bancada feminina no Senado é a maior em 200 anos de existência, mas ainda representa somente 12% do total das 81 cadeiras. “Pífia”, diz Soraya sobre a representatividade feminina na Casa.

A senadora sul-mato-grossense criticou a falta de avanço nas iniciativas que buscam a paridade entre homens e mulheres nos Três Poderes. Ela cita o projeto de lei para aumentar gradualmente a porcentagem de cadeiras destinadas a mulheres. A proposta passou com votação simbólica no Senado, mas ao chegar na Câmara, estagnou.

Tentamos articular com a bancada feminina da Câmara e, pasme, muitas deputadas foram contra. Disseram ser contra cotas. Nós temos ainda algo que nos prejudica muito, é que não são todas as mulheres que abraçam nossas pautas. Quando você conta que temos 15% de mulheres na política, e a gente não pode contar com todas. Umas por timidez, outras por medo de serem retalhadas e outras são bolsonaristas”, declarou.

Aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) –a quem Soraya já apoiou no passado– se posicionam contra medidas afirmativas. Mais recentemente, começaram a ecoar a batalha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a chamada “cultura woke”.

A senadora também foi crítica ao relatório do senador Marcelo Castro (MDB-PI) sobre o Código Eleitoral. O parecer, apresentado em 2024, defende a manutenção da cota de 30% do fundo eleitoral e partidário para mulheres. Uma das justificativas é que, ao aumentar o montante, pode-se aumentar a incidência de candidaturas laranjas.

No meio do processo eleitoral, elas [candidaturas femininas com suspeitas de laranja] são utilizadas, muitas vezes sem saber, mas isso é sempre para beneficiar o homem, nunca uma mulher. Então, eles tentaram retirar um direito nosso colocando culpa na gente”, disse.

CLIMA NA BANCADA

Composta por 13 senadoras titulares e 3 suplentes, o grupo é atualmente liderado pela senadora Leila Barros (PDT-DF). Também em entrevista ao Poder360, declarou que em sua gestão teve avanços “importantes” e que tem buscado levar ao menos duas prioridades ao colégio de líderes por semana.

Seja da direita ou da esquerda, a bancada feminina, quando tem que agir em sororidade para tratar do que é fundamental, não tem partido nem ideologia, e isso me orgulha muito”, declarou a senadora do DF.

Soraya, que é vice-líder de Leila Barros, participa das reuniões de líderes, mesmo sem ter oficialmente um cargo de liderança. “Isso garante a mim um espaço, mesmo que pequeno, para poder me manifestar”. Disse ter abordado colegas de bancada a respeito da falta de apoio à única mulher disputando a Presidência do Senado. 

Em meados de 2024, tanto Soraya quanto Eliziane lançaram as suas pré-candidaturas à presidência do Senado. A intenção era ter um nome que representasse a bancada feminina. Gama desistiu da disputa depois que seu partido, o PSD, decidiu apoiar Alcolumbre.

Não precisavam votar em mim, nem na Eliziane, porque a gente sabe que o voto é secreto, mas poderiam, pelo menos, fingir, exaltar e elevar as candidaturas femininas. Nem isso [fizeram]. Então chega num ponto em que no mês de março, para mim, não tenho nada para comemorar. A única coisa que a gente comemora há quase 100 anos é a conquista do voto feminino que antes do Brasil, foi o Afeganistão que permitiu”, declarou.

MULHERES DE GILEAD

Para 2026, Bolsonaro e a oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) querem ampliar a presença no Senado. Nas próximas eleições, a Casa Alta renovará 54 das 81 cadeiras. 

Entre as principais apostas estão nomes como o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), as deputadas federais Bia Kicis (PL-DF) e Carol de Toni (PL-SC), que, se eleitas, passam a integrar a bancada feminina. 

A maioria das mulheres que não colaboram com as pautas da bancada se dizem de direita. As de centro e da esquerda, quando não colaboram, também não atrapalham. As bolsonaristas, atrapalham”, declarou.

Comparou a ex-primeira-dama às “mulheres de Gilead”, em referência ao livro “O Conto da Aia”. A obra trata de um futuro distópico em que a sociedade vive em um regime fundamentalista.

Acredito que ainda dê tempo de frear essas mulheres de Gilead. Eu vou trabalhar incessantemente para que esse pessoal não prospere”, declarou.





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