Lula errou ou fez jogada de mestre ao escolher Gleisi Hoffmann para SRI?

Lula errou ou fez jogada de mestre ao escolher Gleisi Hoffmann para SRI?


Por que Lula foi escolher uma ‘encrenqueira’ para cuidar da interlocução com os parlamentares? Uma explicação comentada nos bastidores é que, com ela nesse posto, o presidente teria certeza de contar com uma aliada fiel

PEDRO KIRILOS/ESTADÃO CONTEÚDOFesta de 45 anos do PT
Gleisi assumiu a presidência nacional do PT em 2017 e nunca esmoreceu, nem no processo da Lava Jato e nem na prisão de Lula

Segundo notícia veiculada pelo jornal A Gazeta do Povo, publicada há cerca de um ano e meio, Bolsonaro e seus seguidores foram achincalhados de forma agressiva: “provocadores, golpistas, valentões, sonegadores, muambeiros, bandidos, trambiqueiros, assassinos, milicianos, extorquidores, ladrões de joias e genocidas”.

Até aí, tudo bem. Adversários, vira e mexe, se estranham nos embates políticos. O fato curioso nessa história, todavia, é que essas palavras foram proferidas por Gleisi Hoffmann. Também não seria nada demais se ela não tivesse sido escolhida por Lula para comandar a Secretaria de Relações Institucionais no lugar de Alexandre Padilha, que assumiu o Ministério da Saúde.

O cargo é para articular, não para confrontar

Nessa função, ela terá de articular com o Congresso para dar andamento aos projetos do governo e negociar a distribuição de emendas parlamentares. Por isso, foi uma surpresa a notícia da sua indicação. Conhecida por seu temperamento forte e briguento, não será fácil para ela romper as resistências, inclusive dentro do próprio partido.

Fiz uma pesquisa para ver o que os comentaristas políticos acharam da escolha. Não encontrei uma única opinião favorável, a não ser entre petistas raiz ou ocupantes de cargos no governo – que aplaudiriam qualquer decisão de Lula.

Companheiro de todas as horas

Um deles, “companheiro na saúde e na doença, na alegria e na tristeza”, Jaques Wagner, deu aval à decisão do presidente. Enalteceu a experiência da deputada paranaense e destacou sua habilidade nas articulações políticas e alianças partidárias. Outro que não poupou elogios foi o vice-presidente, convertido ao lulismo pelo milagre do poder, Geraldo Alckmin.

Esses não contam, pois aprovariam qualquer nome indicado pelo chefe do Executivo. O importante é analisar os comentários daqueles que estão fora desse ambiente caracterizado pelo oba-oba. Gostaria de ouvir a turma que aplaudiu numa conversa à meia-luz, saboreando uma boa garrafa de vinho.

Lula não tem conseguido articular

A pergunta que fazem é esta: afinal, com tanta experiência política, tendo enfrentado desafios de todo tipo, por que Lula foi escolher uma “encrenqueira” para cuidar da interlocução com os parlamentares? Considerando ainda que, nesse quesito, o governo vai de mal a pior. Vamos analisar de fora por que Lula resolveu remar contra a maré. Parece um paradoxo, pois, exceto seu círculo mais próximo, ninguém parece entender essa escolha.

Um currículo de respeito

Gleisi respira política desde que nasceu. Ainda nos bancos escolares, atuou e se destacou como líder estudantil no Paraná. Sua ascensão foi vertiginosa. Venceu as eleições para o Senado em 2010 e, no ano seguinte, comandou a Casa Civil no governo de Dilma Rousseff, permanecendo lá até 2014.

Após retornar ao Senado, lutou como uma leoa para tentar impedir o impeachment de Dilma. Consciente de que o desgaste do PT talvez dificultasse sua reeleição como senadora em 2019, optou por disputar uma vaga na Câmara Federal. Foi reeleita em 2022.

As competências exigidas são outras

Assumiu a presidência nacional do partido em 2017 e nunca esmoreceu, nem nos momentos mais delicados, como no processo da Lava Jato e na prisão de Lula. Quem analisa seu currículo por esse prisma conclui que o presidente não poderia ter alguém com perfil mais adequado para o cargo.

Só que, nessa função, o que mais conta é a capacidade de conversar, negociar e interagir com os parlamentares. E o histórico da deputada não é dos melhores. Como disse o poeta francês Henry Bataille: “O passado é o segundo coração que bate em nós”. Se seu comportamento é vociferante, irascível e explosivo, o que levou Lula a optar pelo seu nome?

Experiência e lealdade como requisito

Além da experiência política e da lealdade demonstrada ao longo dos anos, não há outro motivo aparente que sirva como argumento. Uma explicação comentada nos bastidores é que, com ela nesse posto, o presidente teria certeza de contar com uma aliada fiel para a sua tentativa de reeleição. Se escolhesse alguém do Centrão, sempre haveria uma pulga atrás da orelha. Correria o risco de ser traído.

Na verdade, ninguém consegue justificar com certeza o que levou Lula a tomar essa decisão. Ou ele é um gênio, enxergando além do que as vistas normais conseguem ver, ou está cometendo um dos maiores erros políticos de sua carreira.

Tentando mudar a imagem

Com a intenção de virar a página e escrever uma nova história, foram mantidos contatos com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e com o presidente da Câmara, Hugo Motta. Os dois desejaram sucesso em sua empreitada. Nos próximos dias, vamos constatar se foram boas-vindas protocolares ou se atuarão como parceiros para valer.

Com a popularidade despencando e sem planos claros para resolver as questões mais urgentes do país, essas iniciativas de Lula bem que podem ser fruto do desespero. Será que a tropa toda está com o passo errado? Siga pelo Instagram: @polito

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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