Bruno Muzzi afirma que estádio inaugurado em 2023 foi fundamental para atrair novos patrocínios e receitas
A Arena MRV garantirá ao Atlético-MG o maior faturamento de sua história em 2025, disse Bruno Muzzi, CEO da SAF do clube, em entrevista ao Poder360.
“A Arena MRV tem mudado nossa realidade. Este ano vamos alcançar o maior faturamento da história e, com certeza, a Arena é parte fundamental disso”, afirmou Muzzi.
O estádio foi inaugurado em 15.abr.2023, com o 1º jogo oficial realizado em agosto daquele ano, depois da final do Campeonato Mineiro, conquistado pelo Atlético.
O executivo destacou que a arena impulsionou diversos contratos comerciais. “Quando olhamos a parte comercial, o estádio promoveu patrocínios, desde naming rights a sector rights e outros direitos, como o das ambulâncias”, disse.
Leia a entrevista completa:
Poder360: Como o clube tem trabalhado para aumentar o seu valor de marca, principalmente depois da inauguração da Arena MRV e de outros acordos de patrocínios comerciais?
Bruno Muzzi: A Arena MRV é super recente. A gente inaugurou em agosto de 2023, e fechamos os nossos patrocínios ainda com a arena em construção. Conseguimos fechar o naming rights, sector rights, etc., ainda em construção. Quando começamos operacionalizar a Arena, conseguimos diversos resultados importantes, mais bilheteria do que a gente imaginava, um ticket médio melhor.
Aprendemos a trabalhar com as margens iniciais, e operando melhor a arena, conseguimos melhorar essas margens. Para os próximos anos, estamos focados em ampliar a nossa as nossas áreas premium. [Vamos] inaugurar um restaurante já para o 1º jogo do Brasileiro. Vamos dar uma caprichada nos nossos lounges. Estamos tentando reformular isso para que a gente deixe eles cada vez mais sofisticados, para que possa ter uma variação de preço muito grande na arena dos ingressos mais populares até o Super Premium.
Essa estratificação nos ajuda muito. Conseguimos pegar e absorver todos os tipos de demanda. Também estamos criando um outro lounge diferente. Então a gente está tentando explorar isso bastante.
Além disso, com essa questão da grama sintética, que agora se tornou uma realidade para a área MRV, começamos a ampliar esse ano também o nosso calendário de eventos. A gente não conseguiu fazer praticamente nada no ano passado em relação a eventos de gramado.
Mas a gente fez vários eventos menores, mas esses eventos de gramados, shows, seja na metade da arena ou na arena completa, eles também indiretamente agregam muito em valor de patrocínios, porque as empresas começam a perceber que podem proporcionar acesso a seus clientes num local onde tem bons eventos também traz muito valor.
Então eu acho que, indiretamente, os novos eventos são a nova tendência daqui para frente. Agora, a gente vai começar a fazer um ramp-up de eventos, que também traz melhores patrocínios e contratos.
Poder360: A arena tem um custo maior do que um estádio normal? Como conciliar a ampliação da arena com ingressos a preço popular?
Bruno Muzzi: A arena não tem um custo maior que os outros estádios. Na verdade, foi a arena mais barata construída no Brasil. As nossas margens operacionais têm sido muito melhores do que em outros estádios.
Sobre a questão da estratificação de preço, usamos inteligência artificial para tentar ter uma predição de qual é o valor ótimo para cada jogo. A gente fez isso bastante nesse ano de 2024. Isso faz com que a gente chegue num valor de ingresso por setor que maximize a ocupação da arena e maximize a receita.
Então, às vezes, se mexermos em R$ 3 ou R$ 4 em cada tipo de setor, teremos 34.000 ao invés de 32.000 pessoas em um jogo. Se você cobrasse um pouquinho mais caro, talvez você perderia esse público. Às vezes, mantendo um pouquinho mais barato, tem uma receita maior. Estamos utilizando bastante isso para otimizar as receitas da arena.
Poder360: Uma arena que acaba tendo outras funções além de jogar bola. Para uma arena multiuso, é primordial o uso do gramado sintético, principalmente pelo custo de manutenção?
Bruno Muzzi: É, essa é uma discussão profunda. É muito da estratégia de cada um dos clubes. Existem clubes que têm estádio, tem clubes que não têm estádio. Aqueles que não têm estádio jogam em estádios públicos. A administração do estádio público têm obrigações de manter jogos de futebol, e acabam tendo essa contradição de jogos versus eventos porque eles também precisam se manter.
O gramado natural é mais barato de implantação e o gramado sintético é mais caro para implantação. Depois, o custo de manutenção do gramado sintético realmente é muito mais barato do que um gramado natural. O gramado sintético mantém um nível de performance e esportividade para o futebol [que é] muito elevado, porque sempre vai jogar naquele mesmo padrão.
Eu acho muito difícil as arenas que são de clubes privados hoje, cada vez mais tornando-se aqueles clubes que tendo suas arenas, como Atlético Paranaense e Palmeiras, manterem um estádio com futebol e sem realizar eventos. Porque é um equipamento grande, que custa caro, embora o nosso custo de manutenção está entre os mais baratos, mas é um equipamento muito grande, custa muito dinheiro.
E aí você precisa rentabilizar ele a todo momento. Idealmente, você deveria ter eventos dentro de um estádio todos os dias. E assim aí a gente vai tentar seguir. A grama sintética permite isso. Então, aqueles clubes que irão conferir seus estádios, passarão por essa discussão.
Por mais que a gente trate a grama natural da melhor maneira possível, é muito difícil que a gente tenha o melhor sistema de gramado natural, é muito difícil conciliar isso. Idealmente assim como se faz na Europa, que tem calendário distintos. Tem calendário esportivo, tem calendário de eventos no verão europeu. Aqui a gente não consegue fazer isso. Aqui é tudo embolado [sic].
Então você joga fora e no dia seguinte você pode ter um evento aqui dentro. Esse é um caminho que a gente está indo. Por isso, a grama sintética, para a gente, é essencial. Além do aspecto de manutenção. A gente sabia desde o início que teria bastante dificuldade de manter uma grama natural de boa qualidade aqui dentro pelas nossas características. Então, era muito questionável.
Naquele momento ainda se discutia bastante qual caminho ia ser adotado, mas agora, felizmente, nós estamos seguindo para a grama sintética. Obviamente que a gente ainda tem uma discussão ainda pela frente. Alguns clubes e jogadores se opondo ao gramado sintético. Mas eu acho que eu acho que é simplesmente uma discussão extremamente rasa e sem nenhum embasamento, sem uma discussão profunda, que a gente não levar à frente.
Poder360: O Atlético fechou contratos recordes com a H2BET e com a Nike. Qual a estratégia do clube para atrair e manter esses parceiros?
Bruno Muzzi: Temos contrato com a Adidas, até o final de 2024. O contrato nos proíbe de falar de qualquer novos contratos de patrocínios esportivos.
Poder360: Como atrair torcedores para se associarem ao clube? Tem muitos clubes que têm essa dificuldade, e também não é fácil porque quando o clube não está em uma boa fase, isso acaba diminuindo.
Bruno Muzzi: Talvez uma das coisas mais difíceis seja manter a base ativa do sócio torcedor. Porque de fato a performance esportiva é super correlacionada com o engajamento dos sócios com aumento de consumo com mais sócios sendo criados.
O que a gente tem tentado fazer é, cada vez mais, entender o comportamento de cada um desses sócios, seja aqui dentro da Arena MRV, seja seus atos de consumo, seus comportamentos para que a gente possa através desse dados de cada um deles, a gente oferecer coisas e e propor renovações, benefícios que os atraiam a permanecer como sócios do Galo.
E obviamente que uma boa jornada, uma boa experiência na Arena MRV também contribuem significativamente. Então a gente também tenta muito fazer com que essa jornada cada vez seja melhor.
A gente é ainda muito recente, né, de operação, mas eu acho que a gente tem conseguido proporcionar, mas a ideia é melhorar, é, a gente trabalha muito para melhorar essa experiência e obviamente que uma experiência boa, é uma arena que tem 44.000 pessoas, não é todo mundo que consegue comprar ingresso em jogos com muita demanda.
Então esse é um benefício muito forte, né, dos sócios conseguirem acesso à área NMRV, e ainda oferecendo para ele produtos e consumo, que eles conseguem perceber um benefício em ser sócio Galo. Então esse é um trabalho de muita análise de dados, muita análise de dados, cada dia mais, e muita experiência in loco para que a gente possa tratar isso cada vez melhor.
Poder360: Quais são as principais estratégias do do Galo para se conectar com essas gerações mais novas nas redes sociais? Está vindo uma nova onda de vídeos curtos. Gostaria de saber a estratégia do Galo para se conectar com essa geração.
Bruno Muzzi: Eu tenho filhos de 15 anos e 12 anos, eles adoram o futebol. Mas assim, [não] sentavam na frente da televisão e efetivamente viam o jogo completo – isso melhorou muito, há um tempo atrás era pior.
Eu vejo o TikTok como uma plataforma que tem suas complexidades, mas ela é crítica para essa turma, porque é, eles acompanham tudo pelo TikTok, assim, muito mais do que pelo Twitter [X], que eu acho que não é o perfil deles. Essa turma de 15, 14, 13 [anos], acho que [preferem] o TikTok. O Instagram eles olham, mas o TikTok é muito dinâmico.
Às vezes, eu quero ver o lance, o João meu filho está vendo. Ele fala: “Ó, olha aqui no TikTok”. Eu estou olhando, eu estou acompanhando alguns lances de gols pelo TikTok, porque realmente é mais fácil. Eu acho que é uma ferramenta essencial e a gente vai tentar cada vez mais trabalhar essa ferramenta.
Estamos fazendo um trabalho muito grande em Belo Horizonte através do Instituto Galo, levando a marca Galo através de ações sociais para essa essa geração mais nova. Isso tem surgindo muito efeito para a gente também, eu acho. É uma ação física, mas que para a marca Galo é fundamental. Poucos clubes têm um instituto social tão atuante, com projeto tão robusto igual o Galo tem. [É] um orçamento de R$ 10 a 15 bilhões ano, milhares de ações.
Poder360: Na sua opinião, em todas as campanhas de marketing que o o Galo fez, qual foi a que mais teve retorno, tanto de engajamento ou financeiro?
Bruno Muzzi: Difícil falar, mas eu acho que, sem dúvida, a campanha que foi mais mais expressiva é a campanha do Manto da Massa. É mais uma campanha de produto assim com renda e envolvimento dos torcedores. Em campanha de marketing tem muitas outras legais. Nós fizemos o lançamento da camisa 2 ano passado com a Adidas, acho que foi um sucesso. A gente conseguiu fazer com que a camisa 2 vendesse até mais que a camisa 1 naquele ano. A nossa equipe de comunicação e marketing é muito atuante.
Poder360: As casas de apostas estão estampadas em praticamente todos os clubes do futebol brasileiro. Qual é sua avaliação sua desse cenário? Você acha que outras marcas têm dificuldade de competir hoje em dia financeiramente com as casas de apostas e por quanto tempo você acredita que esse cenário pode se manter?
Bruno Muzzi: Sem dúvidas, o cenário nos últimos anos mudou completamente em função das casas de apostas. A gente vê no futebol, nas ligas e nos comerciais de televisão. Tomou um dinamismo diferente.
A gente já vinha desde 2021 com uma casa de apostas, que era Betano, e agora a gente renovamos. Com um valor mais de 3 vezes o que a gente tinha, por um contrato de 3 anos e que foi bastante expressivo e educativo, que é o contrato H2BET. Avaliamos bastante o mercado, quais eram as empresas que fariam sentido pra gente e quais eram aquelas que a gente não queria.
Ficamos muito satisfeitos com com com o histórico da H2BET2, que vem uma casa de poker completamente legalizada e está entrando nesse mercado. Obviamente o mercado passa por um processo de regulamentação. Tenho certeza que essa regulamentação acontecerá e obviamente haverá uma mudança, talvez uma concentração das casas de apostas.
É difícil para a gente começar a prever. Obviamente que nessa regulamentação haverá maior tributação. Esse tanto de casa de apostas que tem por aí, eu não sei se a gente permanece com essa quantidade, mas com certeza as de maior qualidades permanecerão. Então é difícil ainda prever como esse mercado, especialmente por essa questão de regulamentação, vai acontecer.
Mas a gente tem contrato de 3 anos, estamos muito satisfeitos com a parceria que a gente fez e de fato mudou o mercado. Assim, até na Europa mudou aqui também. Isso acaba acaba dando uma inflacionada nos valores e com certeza dificulta para marcas tradicionais concorrerem com patrocínios.
Eu vejo o patrocínio hoje, em função das redes sociais. A exposição da marca é uma das formas de ativação, né? Mas existem tantas outras. O efeito, o engajamento que o clube de futebol gera para pros seus parceiros é muito potente.
Então, eu acho que tem espaço para todas as outras marcas, não necessariamente para estar estampada da forma tradicional que era, como se fosse um simplesmente o outdoor. Mas tem tantas outras maneiras de se ativar e de engajar os torcedores pelos os nossos ativos digitais, que eu acho que tem espaço para todo mundo.
Poder360: Você acredita que para o Atlético Mineiro estar em um jogo de futebol eletrônico é importante, mesmo sabendo da dificuldade de negociações devido a Lei Pelé?
Eu acho uma estratégia excelente, mas realmente tem essa dificuldade de negociar. O Galo tem uma parceria com o PES [eFootball], que a Arena MRV está dentro, então, quando você vai jogar jogo, você tem a Arena MRV lá dentro.
Mas a gente tem explorado também outros jogos. A gente tem uma parceria muito forte com a Fortnite, no qual tem um jogo específico para a Arena MRV, que é uma skin do galo. Agora a gente também fechou com Roblox também. Então, é parte da nossa estratégia. A gente tem um time de inovação aqui, trabalhando bastante nessas áreas.
Nós temos o que chamamos de galoverso e ele engloba tudo isso. Ele engloba os jogos eletrônicos, seja Fifa [EA Sports FC], PES [eFootball], Fortnite, Roblox e outros. Desde tokens a NFT, tem muita coisa que que a gente está olhando com esse time nosso de inovação. Então eu acho que é uma estratégia fundamental e que linka [sic] novamente em como atrair os jovens para poder interagir com grupo cada vez mais.
Poder360: EA e Konami têm entrado em contato com com o Atlético-MG para negociações?
Bruno: Com a Konami nós temos contato permanente, mas estamos parando por aí.