No compasso vibrante do samba, onde cada batida carrega histórias de superação e amor, a passista Eduarda Apolinário, do Salgueiro, tem encantado a todos com sua presença marcante na avenida e seu samba no pé inato
Aos 19 anos, Eduarda Apolinário, carinhosamente chamada de Duda pelos mais íntimos, tem conquistado seu espaço no mundo do samba com talento, carisma e muita determinação. Passista plus-size do Salgueiro, sua escola de coração, Duda viralizou nas redes sociais com vídeos que mostram sua habilidade na avenida, seu samba no pé e sua alegria contagiante. Mas sua trajetória vai além dos holofotes: ela carrega consigo uma história de superação, quebra de tabus e inspiração para mulheres que, assim como ela, sonham em brilhar no Carnaval, independentemente do corpo. Em entrevista exclusiva ao portal LeoDias, a jovem relembrou sua história com o Carnaval que vem de berço e a luta contra a gordofobia no Carnaval.
A paixão de Duda pelo Carnaval vem de berço. Filha de uma ex-porta-bandeira e sobrinha de mestres de bateria, ela cresceu imersa no mundo do samba. “Minha avó, meu avô sempre gostaram muito de Carnaval, e isso passou para minha mãe, que foi a primeira princesa do Cacique de Ramos e porta-bandeira por 18 anos”, conta.
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“Meu primeiro ensaio técnico, minha mãe me levou, era Salgueiro. E tinha aquelas barraquinhas do pessoal vendendo blusa, e tinha blusa de todas as escolas. E aí a minha mãe falou assim: ‘escolhe uma’, eu tinha cinco anos. E eu fui direto na do Salgueiro. E aí começou minha trajetória dentro do samba”, iniciou.
Aos 10 anos, em 2015, Duda ingressou na ala de passistas mirins da Imperatriz Leopoldinense, onde deu seus primeiros passos no samba. “Foi a maior realização da minha vida”, diz ela, que desfilou pela escola por oito anos antes de realizar o sonho de entrar no Salgueiro. Em 2022, após uma audição, Duda foi aprovada em primeiro lugar para ser passista da escola que sempre torceu.
Superando preconceitos e inspirando mulheres
A trajetória de Duda não foi fácil. Desde criança, ela enfrentou preconceitos por ser gorda. “Já ouvi mães de passistas falarem que teriam vergonha se tivessem uma filha gorda como passista”, revela. Em alguns momentos, o preconceito chegou a afetar sua autoestima. “Já deixei de beber água porque falaram que eu podia engordar bebendo água”, conta. Mas, com o apoio da família e da escola, ela superou as críticas e transformou as dificuldades em motivação.
Hoje, Duda se tornou uma inspiração para mulheres que, assim como ela, sonham em sambar sem se preocupar com padrões estéticos. “Meus vídeos viralizaram não só pela visibilidade, mas para mostrar que corpo não quer dizer nada. Samba no pé quer dizer”, afirma. Ela destaca a importância de figuras como Carlinhos [Salgueiro], responsável pelo projeto Samba do Pé no Salgueiro, que acreditou em seu talento e a ajudou a lapidar suas habilidades. “Ele sempre me chamou de diamante bruto e disse que ia me lapidar. Hoje, tudo que eu sei, agradeço a ele”, diz.
O Carnaval como espaço de inclusão
Duda acredita que o Carnaval está se tornando um espaço mais inclusivo, mas reconhece que ainda há muito a ser conquistado. “O carnaval tem espaço para todos os corpos, mas a sociedade ainda precisa evoluir”, reflete. Ela cita outras passistas plus-size, como Pâmella Gil e Danilo Vieira, que também têm quebrado barreiras no Salgueiro. “O Carlinhos é o maior nome disso. Ele nos aceita do jeito que somos e acredita no nosso talento”, destaca.
Apesar dos avanços, Duda sabe que a luta contra a gordofobia e o preconceito ainda é longa. “Já fui negada em lugares por causa do meu corpo. Mas hoje, graças a Deus, estou superando tudo isso e inspirando outras meninas”, diz. Ela reforça a importância de respeitar as diferenças e celebrar a diversidade. “O carnaval é amor, é a junção de todos os tipos de pessoas. Não é só questão de corpo, é questão de talento e paixão.”
Sonhos e mensagens para o futuro
Duda não esconde seus sonhos: ela quer ser rainha de bateria e continuar abrindo caminho para outras mulheres no Carnaval. “Esse sonho é de toda passista. Quero ter esse lugar de fala e mostrar que podemos ocupar qualquer espaço”, afirma. Ela também deixa uma mensagem poderosa para quem ainda associa talento a um único tipo de corpo: “A dança não tem nada a ver com o corpo. É o ato de se expressar. Respeitem uns aos outros e parem de machucar as pessoas com comentários gordofóbicos.”
Além disso, Duda cita Cacau Protásio, a atriz musa plus-size do Carnaval na Salgueiro, como uma de suas maiores inspirações. “Ela é uma mulher incrível, que me mostrou que é possível ser gorda e brilhar. Estar na mesma agremiação que ela é uma honra”, diz.
Orgulho da trajetória
O que mais orgulha Duda é não ter desistido, apesar das adversidades. “Muitas pessoas quiseram que eu desistisse, mas eu fui forte. Hoje, estou crescendo no Carnaval e dando força para outras mulheres não desistirem”, afirma. Ela agradece à família, especialmente à mãe e à avó, que sempre a apoiaram. “Minha avó faleceu há quatro meses, e eu passei a avenida inteira chorando porque ela não estava lá. Mas sei que ela estava torcendo por mim.”
Com seu sorriso largo, samba no pé e uma história de superação, Eduarda Apolinário é a prova viva de que o Carnaval é, acima de tudo, um espaço de amor, diversidade e inclusão. E ela está determinada a continuar quebrando barreiras e inspirando mulheres a sambarem com orgulho, independentemente do corpo.