Novo levantamento analisou telegramas secretos de órgão clandestino do ministério
O Itamaraty monitorou, de forma secreta, mais de 17.000 brasileiros e estrangeiros fora do país durante a ditadura militar. A ação foi feita por uma divisão de espionagem, o Ciex (Centro de Informações do Exterior). Até hoje, o Ministério das Relações Exteriores nunca admitiu formalmente a existência desse órgão.
Segundo o jornal O Globo, foram analisados 8.330 telegramas que orientaram a observação de opositores do governo entre 1966 e 1986. Entre eles, apenas cerca de 30% eram brasileiros –os estrangeiros faziam parte do ciclo social deles. Pessoas em países na América Latina, na Europa e na África foram espionadas.
A descoberta foi feita em parceria por pesquisadores da FGV (Fundação Getúlio Vargas), da USP (Universidade de São Paulo), do Instituto Norueguês de Relações Internacionais e da empresa de pesquisa e consultoria francesa Ipsos. O grupo reuniu um banco de dados com o conteúdo dos telegramas, identidades, laços sociais, localizações, o ativismo político e outras informações das 17 mil pessoas monitoradas.
A base de dados foi nomeada de Lats (Latin American Transnational Surveillance, ou Vigilância Transnacional Latino-Americana, em português). Já as correspondências do Ciex foram tornadas públicas em 2024 e podem ser acessadas no site do Arquivo Nacional.
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Trecho de um dos telegramas no Ciex.
Nas correspondências, são indicadas as datas do monitoramento, o responsável pela ação e a fonte do conteúdo. Nos documentos, podem ser verificados diálogos e informações que só poderiam ser obtidas com contato próximo aos espionados. Por exemplo, a descrição de relações extraconjugais.
“Uma mulher que estaria incluída entre os elementos pedidos em troca do resgate do Embaixador suíço no Brasil, e de sobrenome Rocha (provavelmente a irmã de Aurimar Rocha e que seria amante de Cerveira)”, diz o documento.
Além disso, os arquivos também mostram que personalidades como o ex-deputado Leonel Brizola e o ex-presidente João Goulart foram observados pelo Ciex, ambos estavam exilados no Uruguai.
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Brizola foi uma das personalidades políticas monitoradas pelo Ciex.