Em entrevista ao “Roda Viva”, ministro da Defesa afirmou que irmão e outros familiares estavam entre os manifestantes pró-intervenção militar
O ministro da Defesa, José Múcio, confirmou na 2ª feira (10.fev.2025) que familiares seus estavam entre os manifestantes antidemocráticos em frente aos quartéis-generais. Perguntado no programa Roda Viva, da TV Cultura, se, de fato, havia pessoas próximas ao ministro acampadas, Múcio respondeu:
“Tinha. Tinha muita gente. Tinha irmão que tinha… que gostava… que foi para frente de quartel e outros parentes, mas passou“.
O ministro acrescentou que se considera um “homem de centro” e que existem duas formas de se fazer política: uma seria falar mal de quem está no governo e a outra “ajudar a quem está no governo trabalhar“.
Para se referir aos que adotam o primeiro método, usou uma metáfora. “Você vai no avião, a aeromoça diz que o piloto é seu inimigo e você torce para ele fazer uma bobagem: o avião cai. Como deve ser? Fazer um bom voo, e depois, quando pousa (que é a eleição), você trabalha para trocar a tripulação“.
Em outro momento, o ministro da Defesa afirmou que não havia militares diretamente envolvidos na invasão e na depredação dos edifícios dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Apesar das falas, 25 dos 40 indiciados pela PF (Polícia Federal) por tentativa de golpe de Estado, incluindo os eventos do dia 8, eram militares.
“Foi um golpe onde os civis foram, os militares não. Não havia. E as três Forças não tinham nada a ver com isso. Eu passei a noite inteira [do 8 de janeiro] no comando militar com todos os generais […] e não havia nenhum movimento que indicasse que havia isso”, disse.
Mais cedo, ao elaborar um histórico da relação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com os militares, Múcio já havia qualificado os eventos de 8 de janeiro como “golpe”, acrescentando que foram as Forças Armadas que o impediram.
“A fase mais complicada já passou. O início foi péssimo. Do dia 8 [de janeiro de 2023] até abril, eu me senti órfão, porque a direita estava zangadíssima, porque os militares não aderiram ao golpe, e a esquerda muito zangada, porque achavam que os militares tinham criado aquele golpe. Na verdade, nós devemos a eles nós não termos tido o golpe no dia 8“, afirmou.
Depois da declaração, Múcio recuou de qualificar o 8 de janeiro como “golpe”. Questionado sobre o seu uso da expressão “golpe“, o ministro defendeu que caberia às investigações elucidar o que de fato aconteceu.
“Se fala todo dia que ‘foi golpe’, ‘não foi golpe’. Ontem, o presidente da Casa [Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados] diz que não foi golpe. Nós vamos saber se havia um golpe verdadeiramente arquitetado se nos inquéritos aparecerem as denúncias“, disse.
O ministro também reiterou que as Forças Armadas e a Defesa são as maiores interessadas na divulgação dos relatórios acerca da tentativa de golpe e na punição dos culpados. “Assim, nós vamos tirar essa nuvem de suspeição que paira sobre todas as pessoas […] Que os culpados verdadeiros sejam identificados e punidos“, reiterou.
Em relação à anistia, Múcio defendeu dosimetrias equilibradas nas penas aplicadas aos envolvidos nas depredações do 8 de janeiro, diferenciando aqueles que qualificou como “inocentes” dos “baderneiros” e dos responsáveis pela arquitetura dos ataques. Segundo o ministro, esse equilíbrio traria “pacificação“.
“Eu acho que na hora que você solta um inocente ou uma pessoa que não teve um envolvimento muito grande, é uma forma de você pacificar. Esse país precisa ser pacificado”, disse. “Tudo bem que a gente faça as correções necessárias ao passado, mas a gente precisa olhar pra frente. Quando houve o Golpe de 64, esses comandantes militares tinham 3,4,5 anos de idade. A gente vai ficar nisso? Até quando?“, questionou.
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