Especialista aeronáutico de empresa de criminalística avalia a perda de sustentação do King Air F90 e sua queda numa avenida da zona oeste da capital paulista
A queda do avião King Air F90 na zona oeste de São Paulo na manhã desta 6ª feira (7.fev.2025) pode ter sido causada pela falha no grupo motopropulsor da aeronave, segundo Márcio Patrício de Oliveira, da Sewell Criminalística.
“Possivelmente, a aeronave perdeu efetividade em seu grupo motopropulsor, razão pela qual não alcançou a altitude desejada e, por conseguinte, houve perda da sustentação”, afirma o perito aeronáutico da empresa.
O acidente aconteceu por volta das 7h20 na Avenida Marquês de São Vicente, na Barra Funda, cerca de 5 minutos após a decolagem do Campo de Marte. A aeronave de matrícula PS-FEM atingiu um ônibus. Os 2 tripulantes morreram. Em solo, 7 pessoas ficaram feridas.
O King Air F90, fabricado pela empresa norte-americana Beech Aircraft na década de 1970, tem peso máximo de decolagem de 4.967 kg e capacidade para 8 passageiros. A aeronave estava equipada com motor Pratt & Whitney modelo PT-6 e hélice Hartzell HC-B4TN-3A de 4 pás.
De acordo com o perito, a investigação do acidente seguirá 3 fases:
- coleta de informações sobre aeronave, pilotos e plano de voo;
- análise dos dados;
- e elaboração dos relatórios preliminar, intermediário e final.
A polícia e a Aeronáutica investigam as causas da queda. A aeronave havia sido adquirida em dezembro de 2024 pela empresa Máxima Inteligência Operações Estruturadas e Empreendimentos, de propriedade de Márcio Carpena, advogado que estava a bordo e morreu junto com o piloto Gustavo Carneiro.
O voo fatal seria o 2º realizado por Carpena na aeronave. O advogado fez sua 1º viagem ao Uruguai em 26 de dezembro, também sob comando do piloto.
Entre os feridos estão um motociclista atingido por destroços, uma passageira do ônibus e o motorista do coletivo, que sofreu uma crise de ansiedade. Segundo testemunhas, o avião tentou fazer um pouso de emergência na avenida.
2024 foi o ano mais letal da década na aviação
O acidente acontece após 2024 registrar o maior número de mortes na aviação brasileira dos últimos 10 anos. Foram 153 vítimas em 175 acidentes aéreos no ano passado, superando o recorde anterior de 104 mortes em 2016, segundo dados do Sipaer (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).
São Paulo, estado que lidera as estatísticas com 287 ocorrências em 2024, registrou o acidente mais grave: a queda de um avião comercial da Voepass em Vinhedo, em 9 de agosto, que matou 62 pessoas — a maior tragédia aérea no país desde 2007. O relatório preliminar do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) apontou formação de gelo nas asas como possível causa.
O perito Márcio Patrício de Oliveira, da Sewell Criminalística, explicou que aeronaves menores são mais suscetíveis a acidentes por terem recursos limitados.
“Não há sistemas com dispositivos redundantes, os quais são à prova de falha”, disse Oliveira. Segundo ele, o fator humano também é crucial nessa equação, envolvendo aspectos fisiológicos, psicológicos, ergonômicos e organizacionais, além do possível descumprimento de regulamentações da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
Em dezembro, outro acidente de grandes proporções ocorreu quando um turboélice caiu em Gramado (RS), matando 10 pessoas. O ano de 2024 também registrou 20 acidentes com helicópteros, resultando em 15 mortes em 7 ocorrências fatais.
O acidente desta 6ª feira eleva para 12 o número de mortes em acidentes aéreos no Brasil em 2025. Nos primeiros 38 dias do ano, já foram registrados 21 acidentes, segundo dados do Sipaer, administrado pelo Cenipa.
Todas as ocorrências fatais em 2025 envolveram aeronaves de pequeno porte em operações privadas ou agrícolas. O acidente mais recente havia ocorrido em 27 de janeiro, em Cruzília (MG), no pouso de um avião de reconhecimento agrícola, matando 3 pessoas. Dias antes, em 16 de janeiro, a queda de um helicóptero na capital paulista resultou em 2 mortes.
