Apesar do plano da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados de definir a distribuição das comissões apenas no mês de março, seus principais partidos já se mobilizam para assegurar espaços estratégicos na costura. A articulação vem acompanhada de desavenças não apenas entre governo e oposição, mas também entre os próprios partidos do centro.
O principal imbróglio envolve o MDB e o União Brasil. Os dois partidos reivindicam a relatoria do Orçamento, alegando que esta foi destinada a um deles no acordo de composição da Mesa Diretora em 2023, quando Arthur Lira (PP-AL) foi eleito pela segunda vez. Quem não ficar encarregado pela peça orçamentária receberá a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Tanto a CCJ quanto a relatoria do Orçamento são papéis de grande relevância na Câmara. Para fins eleitorais, porém, o controle sobre a Lei Orçamentária Anual é mais interessante: quem assumir a função em 2025 ficará responsável pela peça de 2026, alcançando amplo poder de barganha com o governo, em especial em negociações envolvendo a destinação de emendas parlamentares.
A outra disputa é pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN), cogitada pelo PL, maior partido da oposição, que considera a indicação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O governo teme que a chefia de um quadro bolsonarista possa comprometer a aprovação de projetos relacionados à COP30, motivo pela qual defende que esta seja destinada ao PSDB, aos cuidados do ex-governador paranaense Beto Richa (PSDB-PR).
O PL também pretende disputar a Comissão de Saúde, uma demanda pessoal de seu presidente, Valdemar Costa Neto. O colegiado é ligado ao Ministério da Saúde, pasta com maior oferta de emendas parlamentares. Do outro lado, o PT também quer sua presidência. O desafio será intenso: o partido de Jair Bolsonaro tem direito à primeira e terceira chamadas na costura das comissões.
Na Comissão de Segurança Pública, existe divergência entre o PL e o União Brasil. O primeiro partido, porém, tende a preponderar: interlocutores do União afirmam que não há intenção de dar prioridade a este colegiado em sua chamada inicial. O preferido para a cadeira é Paulo Bilynskyj (PL-SP), um dos quadros mais radicais da Bancada da Bala.
A liderança do PL não descarta a possibilidade do partido ainda reivindicar a Comissão de Educação, mas esta tende a ficar para o PT, que terá maioria entre suas cadeiras. O nome preferido para sua chefia é o da deputada Dandara (PT-MG).