Plataforma estava desativada desde domingo (2.fev); funcionários estão em “licença administrativa” por ordem de Trump
O site da USaid (Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos) voltou ao ar nesta 4ª feira (5.fev.2025) depois de ficar indisponível por 3 dias. Ao abrir a página, é apresentada uma mensagem informando sobre a decisão do presidente Donald Trump (Republicano) de colocar todos os funcionários em licença administrativa, exceto equipes responsáveis por missões críticas, liderança central e programas especiais. A medida entrará em vigor às 23h59 de 6ª feira (7.fev) –às 1h59 de sábado (8.fev) no horário de Brasília.
O site também informa que o Departamento de Estado está preparando um plano para trazer de volta aos EUA os funcionários da USaid que estão em missão em outros países. Segundo a mensagem, o governo providenciará e pagará pelas viagens. O retorno deve se dar no prazo de 30 dias e os contratos não essenciais serão rescindidos.
A Agência considerará exceções caso a caso e extensões de viagens de retorno com base em dificuldades pessoais ou familiares dos funcionários, questões de mobilidade ou segurança, ou outros motivos. A USaid também permitirá que os funcionários solicitem uma exceção para ser avaliada pela agência. Mais instruções serão repassadas aos funcionários que se encaixem nas exceções até 5ª feira (6.fev), às 17h (horário de Brasília).
Nota no site da USaid em inglês
Nota no site da USaid em português
O site e perfis no X da USaid saíram do ar no domingo (2.fev), depois de a CNN noticiar que agentes do Doge (Departamento de Eficiência Governamental) –chefiado por Elon Musk– tentaram entrar à força na sede da agência em Washington D.C. Segundo a AFP, os funcionários queriam acessar documentos sigilosos sem autorização.
Na 2ª feira (3.fev), Musk afirmou que encerraria a agência. Segundo ele, “não se trata de uma maçã com um verme dentro, o que temos é simplesmente um ninho de vermes” e tem o apoio do presidente Donald Trump (Republicano) para fechar a USaid.
O secretário do Tesouro, Scott Bessent, autorizou o acesso ao sistema federal de pagamentos ao Doge no domingo (2.fev). A equipe que recebeu autorização passou por verificações de antecedentes e obteve as autorizações de segurança necessárias. Os representantes de Musk, no entanto, ainda não têm capacidade operacional para realizar alterações no sistema.
O Tesouro realizou mais de US$ 5 trilhões em pagamentos no ano fiscal de 2023 e processa benefícios da Previdência, restituições de impostos e pagamentos do governo federal.
TRUMP X USaid
O presidente norte-americano determinou em 24 de janeiro o congelamento de recursos federais destinados ao exterior por 90 dias –exceto para Egito, Israel e assistência alimentar de emergência.
Na decisão, Trump declarou que “a indústria de ajuda externa e a burocracia dos Estados Unidos não estão alinhadas com os interesses norte-americanos e, em muitos casos, são antitéticas aos valores norte-americanos. Servem para desestabilizar a paz mundial”.
Em 26 de janeiro, o governo enviou um memorando exigindo que os mais de 10.000 funcionários da USaid se alinhassem à política “America First” (América em 1º Lugar, em tradução livre).
O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, pediu que Trump considere algumas “isenções adicionais” para atividades de ajuda humanitária. Cerca de 60% de todos os recursos da OIM (Organização Internacional para Migrações), ligada à ONU, vêm dos EUA.
Em 31 de janeiro, o governo dos EUA liberou repasses para Iraque, Síria e Faixa de Gaza. O Brasil ficou de fora. A decisão afeta a operação Acolhida, iniciativa voltada ao acolhimento de imigrantes e refugiados venezuelanos no norte do Brasil.
Segundo a CNN, na semana passada, ao menos 60 altos funcionários da USaid foram afastados. O governo alegou que o grupo tentava contornar a decisão de congelamento dos recursos federais para ajuda externa.
Os Estados Unidos são os maiores doadores globais de ajuda internacional. No ano fiscal de 2023, o país destinou US$ 72 bilhões em assistência, representando 42% de toda ajuda humanitária monitorada pela ONU naquele período.
O QUE É A USAID
A Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional foi criada em 1961 foi pelo então presidente John Kennedy. Por decreto, ele unificou diversos programas assistenciais dos EUA. Até a chegada do republicano Donald Trump à Casa Branca em 20 de janeiro de 2025, atuava em mais de 100 países.
Nos anos 1960 e 1970, a agência era vista em países do Terceiro Mundo, como o Brasil, como um instrumento de interferência norte-americana em várias áreas, sobretudo para promover os valores políticos dos EUA. Nos movimentos de esquerda brasileiros, a USaid (cujo nome era pronunciado “usáid” por aqui) era considerada uma espécie de besta-fera do imperialismo.
A partir dos anos 1980 e, mais recentemente, nos anos 2000, a USaid passou a atuar em pautas mais ligadas a direitos humanos, meio ambiente e a favor de minorias. Houve uma aproximação de temas identitários e assim a imagem da agência mudou, passando a ser respeita pelas esquerdas em países como o Brasil –e pelos militantes do Partido Democrata nos EUA.
O nome em inglês da agência é “United States Agency for International Development”. Os norte-americanos, em geral, soletram as duas primeiras letras “U” e “S” e, depois, falam o acrônimo final como se fosse uma palavra “aid” (cujo significado é “ajuda”). O slogan da agência, logo abaixo da sigla, é “from the American People”. É que US e aid podem ser traduzidos como “ajuda dos Estados Unidos” –daí o complemento “do povo norte-americano”.
O Poder360 adota em seus textos a grafia da forma como o acrônimo é mais comumente falado nos EUA: USaid.
