“Lula não é Trump”, diz Nikolas sobre comunicação do petista

“Lula não é Trump”, diz Nikolas sobre comunicação do petista


Deputado declara que esquerda não tem identidade nas redes sociais por querer mimetizar outras experiências; afirma que todo político deve ser um pouco influencer

Um dos principais expoentes da direita nas redes sociais, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), 28 anos, avalia que uma grande parte da esquerda e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não conseguem ter uma identidade própria nas redes sociais e, por isso, têm desvantagem na polarização política. 

“Acho que falta identidade com o público e falta ser genuíno. Muitos dos deputados de esquerda e até o próprio governo têm toda uma estrutura de marketing e de equipe que, obviamente, têm que ter. O presidente não consegue ficar, ele mesmo, gravando e editando os vídeos. Por um outro lado, você perde a sua identidade e a comunicação com as pessoas”, disse Nikolas em entrevista ao Poder360

Para o deputado, o episódio em que integrantes do governo de Lula usaram um boné com o bordado “o Brasil é dos brasileiros” como um contraponto ao item usado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), revela uma desconexão com a realidade. O norte-americano costuma usar o slogan “Make America Great Again” (“Faça a América Grande Novamente”). 

Os ministros utilizaram o adereço no sábado (1º.fev.2025) durante a eleição para a escolha das presidências da Câmara e do Senado. A ideia passou pelo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência), Sidônio Palmeira.

“Você pega agora, por exemplo, o marqueteiro do Lula quando ele quer contrapor um boné do Trump fazendo um boné com a mesma identidade visual do Trump. Isso, para mim, está desconectado da realidade. Mais uma vez, o Trump só foi um sucesso por conta daquele boné porque é o Trump. O Lula não é o Trump. O que falta? É entender como a internet de fato funciona”, declarou Nikolas.

O deputado disse que a esquerda precisa encontrar uma quantidade maior de narrativas que possa emplacar, mas ainda precisam, de forma geral, aprender como fazer isso. 

Em janeiro, Nikolas publicou um vídeo em suas redes sociais com críticas a mudanças que o governo pretendia fazer nas regras de fiscalização de movimentações financeiras, incluindo o Pix. 

Na gravação, publicada em 14 de janeiro, o congressista afirmava que o governo queria monitorar trabalhadores informais como se fossem “grandes sonegadores”. O vídeo chegou a ter mais de 300 milhões de visualizações em seu perfil do Instagram. O número é maior que a população do Brasil (212,6 milhões de habitantes, de acordo com o último Censo).

Para Nikolas, seu vídeo sobre o Pix fez sucesso porque havia uma “insatisfação que estava sendo alimentada no coração das pessoas”. Disse que a prova de que sua comunicação deu certo foi o recuo do governo em relação à norma. 

O congressista disse que o vídeo foi gravado em um estúdio alugado perto de sua casa e que não contou com a ajuda de nenhum profissional. Afirmou que o trabalho de um marqueteiro poderia ser ruim porque não fica com a identidade da pessoa. 

“Todos os vídeos que eu faço, eu realmente escrevo eu mesmo o roteiro e edito todos eles. […] A questão do editor e do marqueteiro é ruim porque não fica a sua identidade. Então, por exemplo, se eu não gostei de algo até eu mandar para o editor e ele voltar esse arquivo pra mim, eu vou perder muito tempo. E hoje, pra mim, o tempo é importantíssimo, principalmente no âmbito digital”, declarou Nikolas.

O deputado afirmou encarar suas redes sociais como uma “das armas de defesa” que tem. 

Questionado sobre se todo congressista atualmente precisa ser uma espécie de influencer, Nikolas disse faz parte da atuação política estar nas redes sociais, já que é um meio de comunicação amplamente usado pela sociedade. Declarou que quem critica tem saudade de quando havia só a mídia tradicional. 

DESTAQUES

Leia abaixo outros assuntos abordados na entrevista:

  • deportação de brasileiros dos EUA – afirmou ser preciso dar dignidade às pessoas deportadas e que cada país é soberano para decidir sobre o assunto: Eu acredito que toda deportação tem que ter a sua dignidade, tem que ter o seu cuidado. Não é porque a pessoa está sendo deportada que ela pode ser tratada de qualquer forma. Agora, cada país tem a sua política de deportação”. Nikolas disse concordar com o uso de algemas apenas para criminosos, mas não para quem estava apenas vivendo ilegalmente em outro país. “É uma medida desproporcional”. Declarou, porém, não ter tratado do assunto com autoridades norte-americanas enquanto esteve nos Estados Unidos, em janeiro;
  • eleições 2026 – disse que pretende se candidatar ao Senado caso o Congresso aprove uma lei para alterar a idade mínima para o cargo para 30 anos. Atualmente, é exigido que o postulante ao posto tenha 35 anos. Eu acredito que há um clamor das pessoas para um Senado mais atuante, principalmente no que diz respeito às violações que o STF [Supremo Tribunal Federal] tem feito, principalmente no âmbito do ministro Alexandre de Moraes. […] É preciso reforçar o time que está lá para fazer um contrapeso ao STF”, disse;
  • Bolsonaro inelegível – defendeu a candidatura do ex-presidente, mas afirmou que há uma preocupação de que a proibição de que seja candidato perdure até 2026. “Dentre todos os nomes, ele é a pessoa que tem condições de vencer Lula nas eleições de 2026. […] Eu acho que ele é o mais competitivo e eu acredito que ele é o homem mais forte”, declarou. Disse que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pode substituir Bolsonaro caso ele não possa se candidatar. “Acredito que, enfim, se nada dos planos que a gente quer acontecer, eu acho que o Tarcísio seria o candidato ou a oposição mais forte a Lula”, afirmou;
  • STF – afirmou que o ministro do STF é atualmente quem desestabiliza a democracia brasileira. “Para mim seria um prazer muito grande poder dar um voto a favor do impeachment do ministro Alexandre de Moraes, até mesmo porque isso nunca aconteceu no Congresso”, declarou. Disse não confiar em praticamente nada do que o STF decide: “Para mim, não existe mais conhecimento jurídico, existe relacionamento jurídico. O STF hoje não é mais uma Corte jurídica. É uma Corte política”;
  • anistia ao 8 de Janeiro – declarou que as pessoas que depredaram as sedes dos Três Poderes devem pagar por isso, mas que as penas impostas pela Justiça são desproporcionais. Disse que há pessoas inocentes dentre as que estão presas e que estão sendo julgadas. Afirmou esperar que o novo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), coloque o projeto de lei sobre o tema em votação. “A gente tem que trabalhar em cima disso para poder mostrar para as pessoas que são vidas de pessoas comuns, não são criminosos, não são terroristas. Cometeram erros como todos cometeram e que merecem, sim, ter ou sua pena reduzida ou até mesmo ser anistiado, que é a nossa intenção”;
  • Fundo Eleitoral – disse nunca ter usado recursos públicos em suas campanhas, mas que não condena quem utiliza. Defende o fim do fundo e a retomada das doações privadas;
  • aliança com partidos de centro – afirmou ser preciso trabalhar com a “matéria-prima escolhida pela sociedade”. Disse que os políticos de centro estão sem credibilidade e sem confiança no Congresso por não apoiarem pautas caras à direita. Eu não sou contrário à composição com o centro, até mesmo porque não vou fazer propaganda de um puritanismo político que é impossível atingir”, declarou. Criticou os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), por terem apoiado o PL das fake news;
  • privatizações – afirmou ser a favor da venda de algumas estatais, como os Correios, mas que precisaria avaliar os casos da Petrobras e do Banco do Brasil. Disse ser preciso também avaliar para quem as estatais seriam vendidas para assegurar a soberania do país;
  • isenção do Imposto de Renda – declarou ser a favor da ampliação da isenção para quem recebe até R$ 5.000 e afirmou que o governo precisa enviar rapidamente o projeto sobre o tema ao Congresso;
  • Bolsa Família – afirmou ser a favor da manutenção do programa desde que as pessoas sejam incentivadas a conseguir emprego. Eu acredito que a ideia foi pervertida no seu verdadeiro propósito. A assistência é algo, digamos assim, paliativo, que você deve dar condições para aquela pessoa de conseguir, de fato, ter um trabalho”, disse;
  • aborto – declarou ser contrário a qualquer possibilidade de aborto legal e a favor da PEC que proíbe a interrupção da gravidez em casos permitidos atualmente: estupro, risco à saúde da gestante e anencefalia. Eu não posso desumanizar uma pessoa por conta do tempo de vida dela, disse. Defendeu a adoção para os casos em que a mãe não quer ficar com o filho;
  • pena de morte – afirmou ser contra. Declarou que aprová-la seria conceder excesso de poder ao Estado sobre as pessoas.





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