O Senado decide neste sábado (1º), a partir das 10h, quem comandará a Casa pelos próximos dois anos. Serão eleitos o presidente, o vice-presidente e quatro secretários que conduzirão as atividades legislativas e administrativas. Diferentemente de anos anteriores, em que houve confusão, “roubo” de pasta, voto “fantasma” e gritaria, em clima de acirrada disputa, a expectativa é de que a eleição, desta vez, seja tranquila. Cinco senadores concorrerão à Presidência do Senado e, por tabela, do Congresso: Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), Eduardo Girão (Novo-CE), Marcos do Val (Podemos-ES), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Soraya Thronicke (Podemos-MS).
Com o apoio declarado de quase todos os partidos, Alcolumbre deverá ser conduzido, pela segunda vez, ao comando da Casa. O senador pelo Amapá foi eleito pela primeira vez em 2019, na disputa mais tumultuada das últimas décadas, tornando-se o mais jovem a presidir o Senado, aos 41 anos à época. Agora, aos 47, Alcolumbre volta mais experiente e, sobretudo, poderoso. Com apoio do atual presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), articulou uma aliança que reúne governo e oposição. Os demais cargos da Mesa também estão praticamente todos definidos previamente, em negociação que também envolve a presidência de comissões. Não será desta vez que, em 200 anos de história, o Senado será presidido por uma mulher. Diante da vitória anunciada de Alcolumbre, as demais candidaturas à Presidência, na prática, são vistas como marcação de posição política.
Pelas regras da Casa, cada candidato terá 15 minutos para discursar. Em seguida, será iniciada a votação secreta feita por cédula única com o nome dos candidatos, em ordem alfabética, e espaço para a escolha dos nomes. Os senadores serão chamados por ordem de criação dos estados que representam. Após inserir a cédula na urna, deverá assinar a lista de votação. As cédulas com os votos serão apuradas pelo presidente, junto com o terceiro e o quarto-secretário da Mesa. São necessários 41 votos para se eleger em primeiro turno. Depois da apuração, o presidente anuncia o resultado.
Abaixo, o perfil dos candidatos:
Davi Alcolumbre, o grande favorito
O senador é apoiado por PDT, PSB, PP, PL, PT e pelo PSD, que possui a maior bancada do Senado, com 15 parlamentares, e é a sigla do atual presidente, Rodrigo Pacheco. Favorito ao cargo, Davi Alcolumbre é o único dos candidatos que já exerceu anteriormente a função de presidente da Casa. Ainda pelo Democratas, recebeu, em 2019, 42 votos, um a mais que o mínimo para ser eleito. O parlamentar foi presidente até 2021, quando foi substituído por Rodrigo Pacheco.
Entre os candidatos, o senador é aquele que tem a maior taxa de governismo, conforme a plataforma Radar do Congresso. Ou seja, ele é o candidato que mais votou de acordo com a orientação do governo nas pautas no plenário. Em 84% das votações, Davi Alcolumbre seguiu o governo na votação de proposições.
Em 2019, aos 41 anos, tornou-se o presidente mais jovem da história do Senado, e o primeiro judeu a se eleger para o cargo. David Samuel Alcolumbre Tobelem faz parte de uma família judaica que migrou do Marrocos para o Brasil. Chegou a cursar Economia na faculdade, mas abandonou o curso para se dedicar aos negócios da família.
Sua trajetória política começou em 2000. Aos 24 anos, elegeu-se vereador pelo PDT. Foi deputado federal de 2002 a 2015. Migrou para o PFL (futuro DEM em 2006. Com uma vaga em disputa em 2014, o ex-presidente José Sarney (MDB) desistiu de tentar a reeleição ao perceber o favoritismo de Alcolumbre nas urnas. Sarney decidiu, então, aposentar-se após 70 anos de vida pública.
“Roubo de pasta”
Em 2019, Alcolumbre desafiou o MDB novamente ao se lançar na corrida à presidência do Senado contra Renan Calheiros (MDB-AL), que havia presidido o Senado por quatro vezes. Com o apoio do Planalto, venceu a eleição com discurso de renovação política. A votação foi marcada por voto “fantasma”, “roubo” de pasta, renúncias de candidatura e muita gritaria entre os parlamentares.
Em seus dois anos de mandato, na primeira metade do governo Bolsonaro, ajudou o governo a aprovar a reforma da Previdência, e aumentou seu poder dentro da Casa com a adoção pelo Congresso das chamadas “emendas de relator”, que ficaram conhecidas como “orçamento secreto” pela falta de transparência. Sem poder se candidatar a um segundo mandato consecutivo, construiu a candidatura de Rodrigo Pacheco, que neste ano retribuiu o apoio.
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Soraya Thronicke, a “mulher que vira onça”
Única mulher na disputa, Soraya Thronicke, preside na Casa a Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação. A candidatura está oficializada desde março de 2024. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) tinha se colocado como potencial candidata. Mas o PSD, partido dela, decidiu apoiar Alcolumbre no pleito.
Conforme dados do Radar do Congresso, Soraya possui 68% de taxa de governismo nas votações. No último ano, a senadora esteve envolvida com o projeto de lei que regulamenta a produção e venda de cigarros eletrônicos no país. Atualmente, esses produtos não são regulamentados. A matéria já pode ser votada na Comissão de Assuntos Econômicos.
Advogada e empresária, exerce desde 2019 o seu primeiro cargo político. Com bandeira anticorrupção e armamentista, apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência naquele ano, conquistando uma das duas vagas ao Senado em disputa. Durante a pandemia de covid-19, rompeu com o bolsonarismo devido à forma com que o governo e o então presidente tratavam do assunto. A senadora, então, aproximou-se de pautas feministas e de inclusão social.
“Bolsonaro tchutchuca”
Em 2022, candiatou-se à Presidência. Recebeu 600 mil votos e ficou na quinta colocação. Durante os debates presidenciais, no entanto, destacou-se com suas tiradas. Em um deles, chamou o candidato Padre Kelmon de “padre de festa junina”. Em outro debate, diante de ataques de Bolsonaro à jornalista Vera Magalhães, que lhe havia feito uma pergunta, reagiu diante do ex-aliado: “Quando homens são tchutchuca com outros homens mas vêm para cima da gente sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada. Aí eu fico brava, sim. E digo mais para você: lá no meu estado, tem mulher que vira onça, e eu sou uma delas”. No segundo turno daquela disputa, manteve-se neutra.
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Astronauta Marcos Pontes, o bolsonarista que desafia Bolsonaro
Com um dos cenários mais conflitantes na eleição, Marcos Pontes lançou candidatura a despeito do apoio formal de sua sigla, o PL, para Alcolumbre. O ex-presidente Bolsonaro, inclusive, criticou na última semana a candidatura de seu ex-ministro de Ciência e Tecnologia. O ex-presidente afirmou que Marcos Pontes “não tem como ganhar” e que a candidatura atrapalha o partido na negociação por presidências de comissões.
Em live, o astronauta rebateu e disse que a candidatura “ajuda” o partido. Ele reafirmou o compromisso com a anistia para os participantes de 8 de janeiro, pedidos de impeachment, e se colocou contra o aborto. A defesa dessas pautas evidenciam também o governismo de Marcos Pontes no Senado, que é de 57% nos dois primeiros anos da legislatura.
Tenente-coronel da FAB, Pontes foi o primeiro brasileiro, sul-americano e falante de língua portuguesa a viajar para o espaço, na chamada Missão Centenário. O nome da missão homenageou os cem anos do voo do 14-Bis, realizado por Santos Dumont em 1906. No dia 30 de março de 2006, Pontes partiu rumo à Estação Espacial Internacional (ISS) a bordo da nave russa Soyuz TMA-8.
Semana no espaço
Durante sua permanência no espaço, conduziu oito experimentos científicos brasileiros, desenvolvidos para serem executados em ambiente de microgravidade. Ele retornou à Terra no dia 8 de abril. É formado em Engenharia Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). É mestre em engenharia de sistemas pela Naval Postgraduate School, em Monterrey, nos Estados Unidos. Também é graduado em administração pública.
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Eduardo Girão, o candidato antiaborto e anti-STF
Único representante do Novo no Senado, Eduardo Girão é outro “azarão” na eleição da presidência da Casa. Com um discurso anti-STF, o senador afirma em suas redes sociais: “Como Presidente da Casa irei aproximar os brasileiros desta bicentenária instituição do País”. Ele ainda diz que o atual Senado “se acovarda diante de abusos de alguns ministros e colabora com o caos institucional que vivemos”.
Além de se opor ao STF, Eduardo Girão também é conhecido pela defesa de pautas contra o aborto e “pró-vida”, ele se opõe também à legalização das drogas e regulamentação de jogos de azar. No Radar do Congresso, o governismo do parlamentar é de apenas 48%.
Filmes espíritas
O senador, que exerce seu primeiro mandato político, é empresário, com atuação nas áreas de hotelaria, transporte de valores e segurança privada. Espírita kardecista, produziu a trilogia cinematográfica “Chico Xavier”, “Nosso Lar” e “As mães de Chico Xavier”. Ainda fora da política, também presidiu o Fortaleza Esporte Clube.
Em abril do ano passado, fez um discurso no plenário em inglês, no qual lia uma mensagem destinada ao bilionário Elon Musk. “Suas posições contra decisões autoritárias são um reforço para o retorno da democracia no Brasil”, afirmou o senador em apoio ao dono da plataforma X e da Tesla. Musk respondeu ao post do senador, compartilhando o vídeo, com um breve agradecimento: “Não tem de quê”, em inglês.
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Marcos do Val, o investigado por atos golpistas
Apesar de não constar da lista com os 37 indiciados pela Polícia Federal, em novembro, o senador Marcos do Val é acusado de “dificultar e embaraçar os procedimentos investigatórios relacionados à tentativa de golpe de Estado”. Um capítulo de 53 páginas do relatório da PF, denominado “as ações do senador Marcos do Val”, complicam a situação do parlamentar na Justiça. Segundo a PF, as provas levantadas mostram como o senador mudou sua narrativa sobre o envolvimento de Jair Bolsonaro, após ser pressionado pelo entorno do ex-presidente, e tentou desacreditar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
As conclusões relacionadas ao capixaba serão compartilhadas em outros inquéritos em que ele está envolvido, o que explica por que ele não foi indiciado desta vez.
As alegações sobre uma tentativa clandestina do senador de gravar Moraes vieram à tona após a divulgação de um plano na revista Veja. Em entrevista à publicação, o senador revelou que participou de uma reunião em que Bolsonaro o pressionou a registrar uma conversa com o ministro. No entanto, após pressão de aliados do ex-presidente, o senador recuou em sua declaração, isentando o ex-presidente de qualquer envolvimento.
Fake news
Alvo de várias investigações por tentativa de golpe e disseminação de fake news, Marcos do Val tem como principal bandeira uma cruzada contra o STF, onde tramitam os processos contra ele. “Como candidato à presidência desta Casa, minha promessa é clara: combater os abusos do Supremo Tribunal Federal e assegurar que ele volte a cumprir o que está previsto na Constituição, sem ultrapassar os limites que lhe foram designados”, escreveu em ofício que formaliza a candidatura. Instrutor na área de segurança pública, prestou serviço de treinamento para a polícia de Dallas, nos Estados Unidos, em unidades da SWAT, o grupo de elite da polícia norte americana.
Entre os candidatos, Marcos do Val possui a menor taxa de governismo. De 2023 a 2024, o parlamentar votou apenas 46% das vezes junto da orientação do líder do governo.
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