Deportado perdeu R$ 170 mil em tentativa de migrar aos EUA

Deportado perdeu R$ 170 mil em tentativa de migrar aos EUA


Natural de BH, ele vendeu casa e moto para custear travessia na fronteira mexicana; após 8 meses preso, retornou ao Brasil em voo com outros 87 deportados

Carlos Vinícius de Jesus, 29 anos, vendeu todos os bens e gastou R$ 170 mil para tentar entrar ilegalmente nos Estados Unidos. Em entrevista ao g1, ele relatou que ficou 8 meses preso na fronteira antes de retornar ao Brasil com outros 87 deportados no sábado (25.jan.2025).

Natural de Belo Horizonte, o frentista morava em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, quando decidiu deixar o país em maio de 2024. “Juntei dinheiro a vida toda, desde os 18 anos. Vendi a moto, a casa, vendi tudo”, disse.

A motivação era comprar uma casa para os filhos, de 9 e 8 anos, que vivem de aluguel. “Queria ajudar minha mãe também. Eu estava trabalhando só para pagar conta”, afirmou.

Jesus gastou US$ 30.000 sem utilizar serviços de coiotes. Saiu de São Paulo, passou pelo Panamá e Guatemala, onde atravessou de barco até Tijuana, no México.

“Andei a pé mais de 8 horas dentro do mato. Depois atravessei um rio e fui preso“, relatou. Em San Diego, na Califórnia, passou 8 dias em uma “sala do gelo”, ambiente com temperatura muito baixa. “Fui preso que nem cachorro. Lá eles não tratam ninguém bem. Eles são anti-imigrantes”, descreveu.

Vestindo uma camiseta com os dizeres “Ore, espere e confie”, o frentista disse que manteve a fé durante a detenção. “Nunca deixei de acreditar em Deus. Orava e confiava”, afirmou.

De volta ao Brasil, celebrou o reencontro com a comida caseira. “Jantei carne assada, arroz, feijão e salada. Em 8 meses, praticamente não comi carne”, contou.

Brasil pedirá explicações aos EUA

O Itamaraty disse neste domingo (26.jan.2025) que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pedirá explicações à administração do presidente Donald Trump (Partido Republicano) sobre o tratamento “degradante” dado aos brasileiros deportados dos Estados Unidos.

O grupo, que chegou ao Brasil na 6ª feira (24.jan), foi transportado algemado. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, determinou que as algemas fossem retiradas quando o avião pousou em território brasileiro. O procedimento, que é padrão nos EUA, foi criticado por integrantes do governo do presidente Lula.

Segundo apuração do Poder360, os deportados são brasileiros que, em sua maioria, foram presos nos EUA por estarem no país de forma irregular e não podem mais recorrer à Justiça norte-americana.

Nos Estados Unidos, quando alguém fica sob a custódia do Estado por ter cometido uma infração –inclusive ter entrado no país ilegalmente–, o procedimento padrão é ser algemado ao ser transportado de um local para outro. Não importa a gravidade do delito: todos precisam ter os movimentos limitados. Em alguns casos, as algemas são colocadas nos pulsos e nos tornozelos de quem está detido. Isso é feito para proteger os agentes policiais de eventuais ataques das pessoas presas –inclusive durante voos, como foi o caso do avião que trouxe os brasileiros que estavam ilegais nos EUA de volta para o Brasil.

Como em Manaus foi uma aeronave da FAB que continuou o trajeto até Belo Horizonte, os deportados já estavam sob jurisdição brasileira e não seria mais necessário usar algemas nem seguir os procedimentos legais dos EUA. A rigor, a ordem do Ministério da Justiça apenas expressou algo que já aconteceria de qualquer forma.

Os brasileiros fazem parte da 1ª leva de deportações ao país após a posse do presidente Donald Trump (Partido Republicano), na 2ª feira (20.jan). Estas deportações, no entanto, são parte de um acordo firmado em 2018, durante o governo do então presidente Michel Temer (MDB), com início em 2019. Ou seja, não têm relação com as medidas assinadas pelo republicano.

Conforme mostrou o Poder360, o governo de Joe Biden (Partido Democrata) deportou mais brasileiros do que os de Barack Obama (Partido Democrata) e de Donald Trump. De 2021 a 2024, foram deportados 7.168 brasileiros, o que corresponde a 1,31% do total de deportações, que somaram 545.252.





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