Por mais que o tema canse, ele dominou absolutamente todas as discussões, mas como se fosse um ímã, o assunto me seduziu e não consegui desviar minha atenção dos argumentos de ambos os lados
Trump nem acaba de assumir e já não aguento mais ouvir falar no seu nome. Mas não tem como fugir. Quando dou por mim, estou lá à caça de alguém comentando sobre o homem mais poderoso do Planeta. E poderoso mesmo. Na primeira gestão, o Republicano não estava com essa bola toda. Havia pessoas que o contestavam até dentro do próprio partido. Agora, além de contar com maioria no Senado, na Câmara e no Supremo, e mais experiente, não teve de se sujeitar a elas.
Ele aprendeu a avaliar em quem efetivamente pode ou não confiar, só fisgou aqueles que “na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença” foram leais e não arredaram pé. Até nos instantes em que parecia não ter como sair do sufoco, essa turma que agora curte as benécias da Casa Branca prestou solidariedade canina.
Dormindo com os dois olhos fechados
Portanto, cada nome escolhido por Trump tem uma história de… aí vai depender da posição ideológica de quem analisa. Se for da ala conservadora, talvez dissesse “lealdade”. Se, entretanto, advogar a linha progressista, não hesitaria em identificar como “cumplicidade”. De uma maneira ou de outra, lá estão agora pessoas que deixam o “homem” dormir com os dois olhos fechados.
Entre as decisões de Trump que mais geraram comentários nos primeiros dias de governo, destacam-se a retirada dos EUA da OMS, interpretada por sua base como uma resposta ao viés político da organização, e do Acordo de Paris, vista como uma vitória para os conservadores em defesa da soberania econômica. Mas nenhuma medida provocou reações tão polarizadas quanto a revogação de políticas favoráveis às minorias: celebrada pelos conservadores e duramente criticada pelos progressistas.
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Assunto avassalador, mas irresistível
Por mais que o tema canse, ele dominou absolutamente todas as discussões. Mas como se fosse um ímã, o assunto me seduziu e não consegui desviar minha atenção dos argumentos de ambos os lados.
Logo no primeiro dia, revogou 78 ordens executivas e medidas impostas por Biden. Não sobrou pedra sobre pedra. E sem surpresa, pois tudo o que fez já havia sido previsto em suas promessas de campanha. Ou seja, boas ou más, essas decisões foram ao encontro das aspirações dos seus eleitores, a maioria dos americanos.
Pareciam torcidas organizadas
Os analistas e comentaristas políticos, majoritariamente de esquerda, tiveram mais dificuldade na análise. Rodopiaram daqui e dali, tentaram encontrar argumentos consistentes, mas a maioria ficou na crítica superficial, apelando muitas vezes para os antigos clichês utilizados ad nauseam aqui em terras tupiniquins. Ao criticar Trump, davam a impressão de quererem atacar as ideias bolsonaristas.
Do outro lado, quem está mais alinhado à direita, se mostrou exultante, já que as decisões se transformaram na realização do seu grande sonho de consumo. No fim, virou uma espécie de Fla/Flu.
Argumentos diferentes sobre o mesmo tema
Não me limitei a acompanhar apenas um espectro político. Tive o cuidado de dividir as atenções para tentar captar, com toda imparcialidade possível, as opiniões de cada grupo. Especialmente, comparando os argumentos a respeito do mesmo tema.
Os progressistas, normalmente entrincheirados nas redações dos jornais e emissoras de rádio e televisão, criticam, por exemplo, o perdão concedido a mais de 1.500 envolvidos na invasão do Capitólio. Alegam que entre os absolvidos estão marginais perigosos, que agora estarão soltos nas ruas cometendo crimes.
As semelhanças de Brasil e EUA
Os conservadores, por outro lado, esparramados pelas mídias sociais, mais livres em suas opiniões pessoais, sem ter de se sujeitar ao comando da organização jornalística que os contrataram, invariavelmente, comparavam esses prisioneiros com os que ainda estão privados da liberdade por causa do 8 de janeiro. Na verdade, cada medida adotada além-mar por Trump tinha consonância com a situação do Brasil.
E assim, ponto a ponto, cada lado avaliou essas primeiras decisões de Trump de acordo com sua ótica política. A conclusão que se chega, depois de todos os debates, é que a esquerda se sente derrotada, sem saber bem que rumo tomar, e a direita se julga vitoriosa, comemorando esse momento como se fosse uma conquista pessoal.
Honestidade de opinião
Se esse sentimento de frustração ou de celebração tem razão de ser, só o futuro poderá dizer. Os meses que se seguirão trarão os resultados concretos das ações de Trump, que, assim como outros líderes decididos, busca transformar promessas de campanha em mudanças rápidas e impactantes. Um exemplo mais próximo de nós está na Argentina, onde Milei também começou seu governo com decisões contundentes que dividiram opiniões e provocaram reações semelhantes: euforia entre seus apoiadores e perplexidade entre seus críticos.
Tomara que depois dos resultados os defensores ou oponentes do presidente americano tenham a honestidade de reconhecer que estavam ou não equivocados, sem sofismar, sem mentir ou distorcer os fatos. Afinal, reconhecer erros e acertos é o caminho para uma sociedade mais madura – e um aprendizado como esse não tem preço. Siga pelo Instagram: @polito
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.