João Ximenes Braga avaliou o atual momento das novelas e revelou ter se afastado totalmente deste mercado após decisões erradas dos executivos do canal
O momento delicada pelo qual o autor João Emanuel Carneiro está passando com cortes e edições em “Mania de Você” desde o início é percebido por colegas de profissão cada vez mais decepcionados com os rumos que a função está tomando. Este é o caso, por exemplo, de João Ximenes Braga, autor de sucessos como “Lado a Lado” (que venceu o Emmy na disputa com “Avenida Brasil”) e “Babilônia”, ao lado de Claudia Lage e Gilberto Braga, respectivamente.
Em entrevista ao F.F Info, o novelista fez duras críticas ao momento vivido pelos autores e se mostrou bem pessimista em relação à profissão no atual mercado. “O que se paga na média nem se compara com o que se pagava nos bons tempos de TV Globo. Eu cheguei no fim da festa, mas ainda havia brigadeiro na mesa de doces. Além da grana, hoje não vejo possibilidade de um autor conseguir ter alguma autonomia para realizar sua visão artística”, disse ele.
O autor afirma que começou a entender esse novo movimento depois de ser demitido da Globo, que coincidiu com a chegada dos streamings. “O criador não decide mais nada, nem quando está escrevendo uma ideia original sua. Não decide mais nem quem morre, nem quem mata. Todo o poder de decisão é do executivo, que, por sua vez, é mais influenciado pelos pareceristas que pelo criador. Pra quem sempre trabalhou tantos anos com Gilberto Braga, isso é pior que a morte. Eu me afastei totalmente do mercado por isso”, revelou.
“Nunca vi um executivo assumir responsabilidade por um erro seu que tenha prejudicado o Ibope, e já vi vários desses erros serem cometidos. “Babilônia” é o exemplo disso, uma novela destruída por decisões de executivos. Jogam tudo na conta do autor e aí parece que a emissora nunca anda pra frente, cometem os mesmos erros. Em suma, o problema não é em si o Ibope, mas a desonestidade intelectual e a burrice crassa ao lidar com ele”, continuou.
João Ximenes Braga também não poupou Silvio de Abreu, que não aprovou nenhuma sinopse apresentada por ele enquanto foi diretor de dramaturgia da Globo. Sem citar o nome do também autor e atualmente um executivo de TV, o novelista acredita ter sofrido um boicote.
O autor relembrou que, apesar de ótima, “Lado a Lado” não teve bons índices de audiência, mas rechaçou que o problema tenha sido o horário político. “É importante esclarecer uma coisa: não foi a propaganda eleitoral em si que atrapalhou o Ibope, pois eleição tem de dois em dois anos e nunca atrapalhou antes. O problema foi a decisão da direção da TV Globo de, pela primeira vez na História (e creio que a última), adiantar a novela das seis em vez de atrasar a das nove – o que também era bom para a das nove começar um pouco mais tarde, com mais gente em casa”, disse.
João Ximenes continuou: “Lado a Lado” foi lançada às cinco e meia da tarde. Quem, em São Paulo, está em casa a essa hora? Depois veio o segundo turno e horário de verão, ou seja, “Lado a Lado” teve toda sua carreira em SP com dia claro. Mas o sabor não foi tão amargo assim porque o ibope só foi baixo em SP. No Rio, atingia a meta. Nas capitais do Sul e do Nordeste, íamos maravilhosamente bem. Em Salvador, muitas vezes nosso Ibope encostava em “Avenida Brasil” (efeito Lázaro, claro)”.
Ainda em entrevista ao site, o autor ironizou a novela escrita por Silvio de Abreu: “E, em inúmeras capitais, “Lado a Lado” dava mais Ibope que a novela das sete, o remake de “Guerra dos Sexos”. Inclusive, Claudia e eu sempre suspeitamos que esta era uma das razões para o “autor de Tom & Jerry” ter destruído nossas carreiras na empresa”.
