O embaixador André Corrêa do Lago foi confirmado, nesta terça-feira (21), como presidente da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá de 10 a 21 de novembro em Belém (PA). O anúncio foi feito pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e pela secretária-executiva do Ministério das Relações Exteriores, Maria Laura da Rocha, após reunião com o presidente Lula.
“O diplomata André Corrêa do Lago é o presidente da COP. E aproveito para parabenizá-lo, pela segunda vez aqui, de público, agradecendo pela disposição. E o Ministério do Meio Ambiente, com a secretária Ana Toni, que será a diretora-executiva da COP”, declarou Marina.
Corrêa do Lago é secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty e já atuou em negociações, representando o Brasil, em outras conferências do clima da Organização das Nações Unidas (ONU).
“Queria agradecer a confiança do presidente Lula em me nomear presidente da COP 30. É uma honra imensa, e acredito que o Brasil pode ter um papel incrível nessa COP. Agradeço também ao resto do governo, porque a COP, a gente vai ter que construir todos juntos. E além do governo, com a sociedade civil, o empresariado, todos os atores que são absolutamente essenciais na formação do que o Brasil quer desta COP”, afirmou o diplomata.
Em seu discurso, Corrêa do Lago avaliou que a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, que foi anunciado pelo presidente Donald Trump durante a posse nesta segunda (20), será um desafio complicado para a COP 30.
Reconhecendo a importância dos EUA nos debates sobre mudança climática, o presidente da COP pontuou que ainda há outros canais de debate abertos com o país. “Claro, os Estados Unidos são um ator essencial. Não só a maior economia, também um dos maiores emissores, mas também um dos países que têm trazido respostas à mudança do clima com tecnologia. Os EUA têm empresas extraordinárias, e vários estados e cidades americanas estão muito envolvidos nesse debate”.
“Estamos todos ainda analisando as decisões do presidente Trump. Mas não há a menor dúvida de que terá um impacto significativo na preparação da COP, e na maneira como vamos lidar com o fato de que um país importante está lidando com esse processo”, observou ele. “Inclusive, os Estados Unidos continuam membros da Convenção do Clima, estão saindo do Acordo de Paris. Então, há vários canais que permanecem abertos, mas não há dúvidas de que é um anúncio político de grande impacto”.
Repercussão
A diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, avaliou que a escolha de Corrêa do Lago é bem recebida pela organização e destaca que “com ampla experiência em diplomacia climática, o embaixador possui o conhecimento e as capacidades necessárias para mediar as negociações entre os mais de 190 países”.
“Corrêa do Lago terá uma grande responsabilidade pela frente: em um mundo polarizado, com os Estados Unidos – o segundo maior emissor do mundo de gases do efeito estufa – deixando o Acordo de Paris, enquanto vemos os eventos extremos se intensificarem, será necessária muita habilidade para que avanços cruciais aconteçam. O maior desafio da Presidência da COP30 sem dúvida será imprimir a urgência necessária a um processo que encontrará, no cenário político, sinais invertidos. Não podemos nos distrair do que precisa ser feito: a transição para um mundo sem combustíveis fósseis e a viabilização de recursos para que os países em desenvolvimento possam cumprir seus planos de mitigação e adaptação”, pontuou ela.
O Observatório do Clima também “recebeu com satisfação” a indicação do embaixador para a presidência da COP 30. “Dificilmente haveria alguém com mais estatura para desempenhar a missão, tanto pela sua experiência como diplomata quanto pelo seu conhecimento das negociações multilaterais de clima.”
“Corrêa do Lago tem diante de si uma agenda desafiadora, num momento em que o aquecimento da Terra ultrapassa o limite do Acordo de Paris ao mesmo tempo em que a geopolítica se volta contra a ação climática e contra a cooperação internacional. A COP30 precisa provar ao mundo que o processo multilateral de clima ainda é importante para lidar com o maior desafio coletivo da humanidade. Precisa acelerar a implementação do Acordo de Paris, em especial das provisões de seu primeiro Balanço Global, que determinou que a humanidade precisa começar nesta década o processo de eliminação gradual dos combustíveis fósseis. Precisa garantir que as metas nacionais dos países (NDCs) para 2035 sejam alinhadas com o objetivo de limitar o aumento da temperatura a 1,5 ºC, o que nenhuma NDC proposta até agora faz. Precisa encerrar negociações importantes, em especial a do Objetivo Global de Adaptação. E precisa indicar como serão mobilizadas as centenas de bilhões de dólares por ano para o combate à crise do clima nos países em desenvolvimento”, afirma no comunicado.
“Tudo isso, ademais, deve ocorrer num contexto de desconfiança máxima e cooperação mínima entre os países, na esteira do fracasso da COP29, com o declínio na liderança da União Europeia e com os Estados Unidos jogando ativamente contra. Caberá ao presidente da COP – em simbiose com a “dona” a agenda, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva – navegar a tormenta geopolítica e ao mesmo tempo desviar dos icebergs domésticos: a própria demora de Lula em fechar o nome do presidente da COP sinaliza menos consenso no Planalto sobre a relevância do evento do que pareceu em 2022, quando o presidente mostrou disposição de preencher o vácuo de liderança climática global no clima. E cria uma pressão adicional de tempo para a montagem da agenda e a costura entre os países. O OC está ansioso para trabalhar com o embaixador André Corrêa do Lago pelo sucesso da COP30, com o entendimento de que os papéis de governo e sociedade civil não se confundem. Desejamos sorte e coragem à equipe da presidência. E estamos de olho”, completa a nota.