A vinculação de democracia e socialismo sempre ocupou espaço central no pensamento marxista. Marx, Engels, Lenin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, Bernstein, Kautsky, Enrico Berlinguer, Carlos Nelson Coutinho, entre tantos outros, meteram a colher no assunto.
O ponto essencial é se a democracia e suas instituições são valores universais e permanentes. A democracia teria sempre natureza classista? Existe “democracia pura”?
Marx e Engels, no início de sua trajetória, enxergavam as virtudes da democracia liberal e da política eleitoral. Imaginavam que a conquista do voto universal na Inglaterra poderia ser o caminho para a supremacia política das classes trabalhadoras. A partir do desenlace da Comuna de Paris, em 1971, há uma clara mudança de paradigma. Em “Crítica ao Programa de Gotha” e outros textos já aparece a menção ao termo “ditadura do proletariado”, construída a partir de uma revolução.
Lenin era absoluto. Não existiria “democracia pura”, ela seria sempre ou burguesa ou proletária. Embora divergisse de Trotsky sobre os sovietes e sindicatos servirem de “correia de transmissão” do Partido Bolchevique, o que ocorreu, de fato, foi a transferência dos interesses da sociedade para uma classe, a operária; desta para os sovietes; daí para o Partido Comunista; e dele para o Comitê Central, chegando, ao final, à tragédia totalitária do poder despótico nas mãos de Stalin.
Já no início do século XX, divergiram os socialistas alemães, Bernstein e Kautsky à frente, apontando o caminho do avanço social dentro do jogo democrático através de reformas, fundando assim a social-democracia, longe do bolchevismo.
Mais à frente, nos anos 1970, nasce o eurocomunismo e sua visão verbalizada por Berlinguer de que “A democracia …. é também o valor historicamente universal sobre o qual fundar uma original sociedade socialista”.
Já o Partido Comunista Chines desenvolveu o conceito pragmático de “democracia popular de processo integral”. A democracia deveria ser avaliada por sua capacidade de resolver os problemas reais do povo, criticando a democracia liberal por seu foco excessivo no procedimento e não nos resultados, onde o povo é acordado apenas para votar, de tempos em tempos.
Marx, no clássico “18 Brumário de Luís Bonaparte” lembra que Hegel afirmou que, de certa forma, todos os fatos e personagens importantes se repetem na história pelo menos duas vezes. E aí completou: “… só esqueceu de acrescentar que a primeira vez como tragédia, e a segunda como farsa”. A tragédia foi a história do socialismo real, a farsa é a caricatura desenhada atualmente pela Venezuela.
O êxodo venezuelano já levou 7,7 milhões de pessoas a abandonarem o país. Outros 5 milhões se disseram, em pesquisa recente, dispostos a sair se a crise não for superada com a saída de Maduro. A imprensa e a internet não são livres. A oposição é reprimida. As eleições foram fraudadas. As oposições totalizaram os resultados de 80% das atas e constaram sua vitória por 67% a 30%. A farsa prosseguiu com a posse de Maduro. A inflação é de mais de 80%, a dívida externa de US$ 150 bilhões, os juros altíssimos, a extrema pobreza envolve 59% da população e o isolamento internacional é pleno.
Como pode alguém, em sã consciência, defender Nicolas Maduro e seu regime em nome dos ideais do socialismo e da democracia? Haja miopia!
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