Cogitado para a sucessão do presidente Lula, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, declarou em entrevista concedida à CNN nesta sexta-feira (17) que não pretende participar das eleições de 2026: nem para a presidência da república, e nem para qualquer outro cargo. Ele afirmou também que, enquanto houver consenso do Planalto, permanecerá em sua pasta até o fim do atual mandato, mesmo se isso significar eventuais atritos com quaisquer grupos políticos.
Fernando Haddad possui uma longa relação de parceria com o presidente Lula, tendo sido ministro da Educação em seus dois primeiros mandatos e permanecido na pasta durante o governo Dilma, saindo apenas no final de 2012 para assumir a prefeitura de São Paulo. Em 2018, diante da declaração de inelegibilidade por parte do Tribunal Superior Eleitoral, Lula o escolheu pessoalmente para disputar a presidência em seu lugar, tendo sido derrotado por Jair Bolsonaro. Em 2022, disputou o governo paulista, perdendo para Tarcísio de Freitas.
No novo governo, Haddad permaneceu como um dos preferidos de Lula na Esplanada dos Ministérios, constantemente saindo vencedor em meio a conflitos seja com outros ministros, seja com outras lideranças dentro do PT. Após a internação do presidente, em dezembro de 2024, para tratar um acidente vascular cerebral, seu nome passou a ser visto em institutos de pesquisas eleitorais como um dos principais substitutos caso o líder petista decida não disputar a reeleição.
Na CNN, Haddad descartou a possibilidade de retorno à cena eleitoral, independente do cargo. “Não vou ser candidato. (…) Depois de 2013, tudo o que aconteceu, sobretudo com o presidente Lula, a quem eu assisti o quanto eu pude não só por lealdade, mas por conhecimento do que estava acontecendo, eu falei ‘eu só vou sossegar na hora em que o presidente Lula puder concorrer e ser julgado pela população pelo que aconteceu. E ele foi julgado”, disse.
O ministro acrescentou que não se considera um político de carreira. “Eu nunca vi a política como uma profissão. (…) A minha relação com a política cidadã, eu vou ter até morrer, defendendo minhas ideias. Mas essa coisa de ter que ter um cargo, ter que ter um mandato, ela pode acontecer ou não na minha vida. Não é uma coisa que eu dependa, porque eu me vejo como um professor que está colaborando com a política”, ponderou.
Durante a entrevista, Haddad também reconheceu que suas propostas não são consensuais no governo, e não se preocupa que eventuais conflitos possam enfraquecer sua posição no Executivo. “As teses que eu defendo contrariam às vezes os dois lados. Às vezes eu vejo gente dizendo ‘tem que gastar mais, às vezes eu vejo gente dizendo ‘que loucura, tem que gastar menos’. Isso vai acontecer com os juros, com o câmbio, com o gasto público, com tudo”.
A gestão econômica de Haddad foi marcada até o momento por resultados misturados: de um lado, o governo conseguiu promover quedas históricas de desemprego e fome no Brasil. Por outro, em especial no último semestre de 2024, enfrentou e enfrenta dificuldades para conter o crescimento da dívida pública e a desvalorização do Real.
O ministro atribui os últimos desafios menos a erros de gestão e mais a uma soma de fatores envolvendo tanto mudanças na política monetária dos Estados Unidos quanto a herança de calotes do governo Bolsonaro, como no atraso em pagamentos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e o parcelamento de precatórios. De acordo com ele, esses desafios tornam imperativo à Fazenda que dê prioridade a ajustes na política fiscal em 2025 para assegurar a superação desses problemas, mesmo que, para isso, seja necessário reduzir o ritmo de crescimento do PIB.