O Dr. Marco Antonio de Araújo, sócio-fundador da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE), deu detalhes sobre a lesão e o tratamento do surfista
O tricampeão mundial de surfe, Gabriel Medina, lesionou o tendão do músculo peitoral maior do ombro esquerdo e teve que passar por cirurgia. A lesão é comum entre praticantes de musculação, como halterofilistas e crossfiteiros, mas bem improvável em surfistas. O portal LeoDias conversou sobre o machucado e os próximos passos do atleta com o Dr. Marco Antonio de Araújo, sócio-fundador da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE).
“Este tipo de lesão é comum em halterofilistas em razão das altas cargas nos treinos e associados ao uso de anabolizantes, que causam fragilidade nas articulações, músculos e tendões, sendo esse esporte responsável por mais de 50% dessa lesão. Outros esportes como esqui aquático, crossfit, rúgbi e lutas (judô, luta livre, jiu-jitsu) podem ocorrer também. Mas no surfe, as lesões mais comuns são as tendinopatias no ombro e problemas no joelho ou tornozelo e até mesmo na coluna vertebral”, explicou.
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Recuperação e tratamento
A lesão de Medina é considerada grave e a expectativa é que ele fique no mínimo quatro meses “de molho”, o que o deixou de fora do circuito da World Surf League (WSL) neste ano. O surfista foi operado pelo médico-ortopedista Breno Schor, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, e após receber alta iniciou a recuperação em casa, já visando o início do tratamento.
“A cirurgia consiste na reconstrução do tendão rompido, através da sutura, reinserção óssea ou até mesmo o enxerto através de outros tendões do joelho ou tornozelo do próprio paciente. Inicialmente, a proteção da estrutura operada para que tenha um processo de cicatrização eficiente e forte o suficiente para que possa receber cargas graduais e progressivas, é o principal objetivo. Portanto, no início, o membro superior operado é muito pouco estimulado, visando basicamente preservar a mobilidade passivamente e minimizar a atrofia muscular através de eletroestimulação”, explicou Marco Antonio sobre o procedimento cirúrgico.
“Com a evolução do processo de cicatrização, os movimentos podem progredir com exercícios resistidos e carga monitorada, além de trabalhos em amplitude de movimento total e simulação do gesto esportivo. Em aproximadamente 4 a 5 meses este processo de reabilitação está finalizado e gradualmente o atleta pode retornar aos treinamentos físicos e técnicos com todos os movimentos específicos do esporte e recuperação da capacidade física compatível com o esporte de alto rendimento”, acrescentou.
“O tratamento deve iniciar o mais breve possível, inicialmente com modalidades que possam auxiliar na otimização do processo de cicatrização, além de preservar as potencialidades físicas das outras partes do corpo que não possuam restrição de movimento e sobrecarga”
Ele continuou: “A fisioterapia tem um papel essencial e primordial após a cirurgia, pois através das estratégias definidas pelo profissional é que o processo de reabilitação e recuperação irá acontecer, sempre respeitando a técnica cirúrgica, as condições físicas e emocionais do atleta e os objetivos definidos a longo prazo para o retorno aos treinamentos, atividades e competições esportivas. O fisioterapeuta é literalmente o profissional que ‘pega na mão’ do atleta e o acompanha em todas as etapas da sua recuperação, buscando soluções para todo tipo de limitação e incapacidade nesse período tão difícil após uma lesão dessa gravidade”.
Volta aos treinos
A principal preocupação para qualquer esportista quando sofre uma lesão grave, principalmente quando precisa passar por um procedimento cirúrgico, é se poderá voltar ao mesmo nível em que estava. Gabriel Medina é atualmente um dos melhores surfistas do mundo, sendo tricampeão mundial e medalhista de bronze em Paris-2024.
“Apesar da gravidade da lesão, as modernas técnicas cirúrgicas e a evolução da medicina e fisioterapia esportiva, hoje em dia permitem que o prognóstico para retorno ao esporte seja altamente favorável. O Gabriel Medina tem apenas 31 anos e possui todas as condições para retornar em alto nível competitivo, desde que mantenha o foco, determinação e as motivações que o movem para continuar sendo um dos melhores surfistas do mundo”, explicou Marco Antonio de Araújo.
Como a lesão é incomum em surfistas, a expectativa do Dr. Marco Antonio é que o tendão operado de Medina não influencie em sua atuação nas ondas.
“O tendão operado tem pouca influência na biomecânica específica no gesto esportivo e no desempenho de um surfista quando ele está numa onda em cima da prancha, portanto acredito numa recuperação plena durante este ano, pois tem os melhores profissionais e recursos à sua disposição”, completou.
🚨Momento exato em que Gabriel Medina sofreu a lesão.
📲| Gabriel Medina via instagram
— Portal Medina (@portalmedinabr) January 11, 2025