Pesquisadores da Bahia afirmam que a redução das mortes e infecções foi percebida com mais destaque entre grupos vulneráveis, como indígenas e negros
O Bolsa Família diminuiu a mortalidade por tuberculose no Brasil em quase 70% entre 2004 e 2015, de acordo com uma pesquisa publicada na revista Nature Medicine nesta 6ª feira (3.jan.2025). O auxílio, além disso, teria sido responsável por reduzir a incidência da doença em cerca de 60% no país no mesmo período de tempo. Eis a íntegra (PDF – 4 MB).
O programa, conforme o estudo, teve um grande impacto em grupos mais vulneráveis. No caso dos indígenas, por exemplo, a mortalidade diminuiu em 65% e a incidência em 63%. Entre a população em extrema pobreza a redução foi de 60% e 49%, respectivamente. Os resultados foram parecidos entre os pretos e pardos. A mortalidade diminuiu em 69% e a incidência em 58%.
A pesquisa foi realizada por organizações brasileiras e espanholas, como o ISC/UFBA (Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia), o Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde, da Fiocruz Bahia, e o ISGlobal (Instituto de Saúde Global), de Barcelona. O estudo também contou com apoio da Fundação “La Caixa”.
METODOLOGIA
Para chegar aos números, o estudo utilizou dados do CadÚnico (Cadastro Único para Programas Sociais) referentes a 54,57 milhões de brasileiros de baixa renda —definidos, no estudo, como aqueles com renda de até R$ 218 por pessoa ao mês. Desses, 43,8% eram beneficiários do Bolsa Família e os outros 56,2% não recebiam o auxílio.
As informações, então, foram cruzados com os dados do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) e do SIM (Sistema de Informação sobre Mortalidade). Dessa forma, os pesquisadores chegaram aos seguintes números: 7.993 mortes foram registradas no período e a incidência total foi de 159.777.
O cruzamento foi feito a partir de um modelo probabilístico já que os dados pessoais, como CPF e local de nascimento, são protegidos. Ao ajustar fatores como idade, sexo, escolaridade e raça/cor da pele, foi percebido que a taxa de novas infecções foi menor entre quem recebia o benefício (49,4 por 100 mil) em comparação com quem não recebia (81,4 por 100 mil). Uma diminuição de 59%. A taxa de mortalidade também foi menor (2,08 contra 4,68, ou 69% de redução).