Utopia tropical: como a juventude se tornou o principal agente de mudanças no cenário político brasileiro

Utopia tropical: como a juventude se tornou o principal agente de mudanças no cenário político brasileiro


Nos últimos anos as lideranças jovens estão se tornando cada vez mais raras, mas continuam sendo essenciais para o futuro político do país

Roberto Sungi/Estadão ConteúdoPROTESTO CONTRA AUMENTO NA TARIFA DO TRANSPORTE PÚBLICO
‘Jornadas de Junho de 2013’, popularmente conhecidas também como os ‘Protestos dos 20 Centavos’, se expandiram no país

Na história recente do Brasil, a juventude sempre teve um papel central como protagonista de grandes transformações políticas. Desde as movimentações que marcaram a saída do regime militar até as revoltas populares de 2013, os jovens não apenas ocuparam as ruas, mas também forjaram um novo destino para o país, pressionando por mudanças profundas nas políticas públicas. Independentemente de suas tendências ideológicas, a juventude tem sido fundamental na construção da democracia brasileira, porém, nos últimos anos as lideranças jovens estão se tornando cada vez mais raras, mas continuam sendo essenciais para o futuro político do país.

As mobilizações juvenis foram centrais para diversas conquistas democráticas no país. Em 1992, a geração dos “Caras Pintadas”, um movimento que levou à destituição do então presidente Fernando Collor de Mello, foi, sem dúvidas, um marco na democracia brasileira liderado pela juventude. Com uma mobilização espontânea nas ruas e nas universidades, a juventude desempenhou um papel crucial no impeachment do presidente, mostrando como a pressão popular pode alterar o curso da política institucional.

Esse movimento foi marcado pela união de jovens de diversas correntes ideológicas, que estavam mais preocupados com o futuro do país do que com as disputas partidárias e que teve essa união repetida em 2013 com “As Jornadas de Junho”. As manifestações de 2013, que começaram como protestos contra o aumento das tarifas de transporte público em São Paulo, rapidamente se tornaram um fenômeno nacional que envolveram milhões de brasileiros em todo o país.

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Embora inicialmente impulsionadas por questões locais, como o transporte e a saúde, as “Jornadas de Junho de 2013”, popularmente conhecidas também como os “Protestos dos 20 Centavos”, se expandiram para uma crítica mais ampla ao sistema político brasileiro e às desigualdades sociais, destacando a insatisfação crescente com os gastos públicos e a falta de melhorias concretas para a população. Novamente a união de diferentes bandeiras ideológicas, que foram além de esquerda ou direita, tornaram-se um exemplo claro de como a juventude, quando mobilizada, consegue transcender divisões políticas causadas pelo populismo e polarização ideológica e fazer valer a sua voz.

Ao olhar para as mobilizações políticas nas últimas décadas, podemos identificar vitórias, derrotas, além de raros momentos de convergência entre os jovens de diferentes orientações ideológicas. Um dos principais pontos de análise é como tanto a esquerda quanto a direita, em certos momentos históricos, deixaram de lado as diferenças ideológicas em nome de um objetivo comum: a manutenção e o avanço da democracia e o combate à corrupção.

Em momentos decisivos, a esquerda mobilizou seus militantes para lutar por conquistas sociais, como a redemocratização do país nos anos 80 e as conquistas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, que pautaram políticas públicas focadas em inclusão social e combate à desigualdade. No entanto, o desgaste político e os grandes escândalos de corrupção que culminaram na “Operação Lava-Jato” levantaram grandes críticas à gestão do PT que também mostrou as limitações de uma agenda de reformas que nem sempre consegue acompanhar a urgência das demandas sociais.

A juventude também se mobilizou de maneira decisiva no campo conservador, principalmente após as manifestações de 2013, em que a direita viu uma oportunidade de se consolidar como oposição ao governo federal. Em 2016 com o impeachment de Dilma Rousseff, a ascensão de figuras como a de Jair Messias Bolsonaro e a participação ativa dos jovens nas eleições de 2018 mostraram que a juventude de direita também tem poder de mobilização. No entanto, a polarização política e os desafios do governo mostraram que a juventude de direita ainda enfrenta desafios para consolidar um projeto de país que equilibre seus princípios ideológicos com as necessidades de mudança e uma consciliação imparcial frente as reais necessidades do povo brasileiro.

Apesar das tensões ideológicas, a juventude tem demonstrado, em diversas ocasiões, que consegue unir forças quando a democracia e o futuro do país estão em jogo. As manifestações que pediram o impeachment de Fernando Collor e de Dilma Rousseff, por exemplo, contaram com apoio de jovens tanto de esquerda quanto de direita. Da mesma forma, a defesa pela democracia nas manifestações contra o autoritarismo, em diferentes momentos, tem sido uma pauta comum entre jovens de diferentes espectros ideológicos. Apesar do protagonismo que a juventude teve nas últimas décadas, as lideranças da juventude têm se tornado cada vez mais raras. O distanciamento da política tradicional e a crescente desilusão com o sistema partidário contribuem para a ausência de novos líderes que se identifiquem com as demandas que estão em pauta atualmente.

O afastamento das novas gerações de partidos políticos e a crise de representação são desafios que a juventude enfrenta no cenário político atual. Muitos, embora se envolvam  em  manifestações,  preferem  se  manter  afastados  das  estruturas tradicionais de poder, o que dificulta a construção de novas lideranças. A crescente polarização e a falta de diálogo também são obstáculos para o surgimento de uma juventude política capaz de construir pontes entre diferentes visões culminando em uma Terceira Via que realmente atenda as demandas que o futuro exige para o país.

À medida que o Brasil se aproxima de novas eleições, será essencial que surjam novas lideranças capazes de articular um projeto de país que una as diferentes gerações e enfrente os problemas estruturais do país, como a desigualdade social, a crise fiscal e a modernização da economia. Esses líderes devem ser capazes de trazer inovação política e enfrentar desafios de um cenário global cada vez mais volátil, com foco em uma agenda menos burocrática e com maiores liberdades individuais.

A história política do Brasil tem sido escrita, em grande parte, pelas mãos de seus jovens. Seja nas manifestações lutando pela democracia como também atuando como agentes de mudanças institucionais, os jovens sempre tiveram um papel ativo. Embora muitos ainda enfrentam o dilema de “quando e/ou se envolver”, é crucial que as novas lideranças que surjam para enfrentar os desafios do futuro e continuar a luta por um país mais justo, democrático, livre e próspero tenham responsabilidade de se manter vigilantes.

A juventude não pode se distanciar da política e de seu papel como agente de mudanças, pois é através de sua participação que o Brasil poderá construir um futuro ideal para todos, sem abrir mão da pluralidade e da convivência democrática, afinal, sempre ouvimos que os jovens são o futuro e é o que realmente observamos na prática, no entanto, no horizonte desenha-se um cenário em que a juventude e as novas gerações serão as responsáveis pelo destino do nosso país.

*Wellington Silva, 32, é empreendedor na área de marketing, publicidade e propaganda. Participou das “Jornadas de Junho de 2013”, dos protestos contra o superfaturamento da Copa de 2014 e das manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2015 e 2016. É líder livres no estado de Santa Catarina e é defensor de políticas públicas direcionadas à juventude, empreendedorismo e diversidade.

Esta publicação é uma parceria da Jovem Pan com o Livres
O Livres é uma associação civil sem fins lucrativos que reúne ativistas e acadêmicos liberais comprometidos com políticas públicas pela ampliação da liberdade de escolha

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.





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